ARÁBIA (600 a
1200). Continuação.
Notória a influência do judaísmo
e do cristianismo no pensamento e na crença de Maomé. Este profeta adotou a
tradição monoteísta iniciada por Aquenaton e continuada por Moisés e Jesus. Maomé aceitava a versão
bíblica de que os árabes eram descendentes de Ismael, o filho primogênito de
Abraão. Ismael é o irmão mais velho de Isaac, patriarca dos judeus. Logo,
árabes e judeus são primos por laços de sangue. O profeta proibiu: a poligamia,
a usura, a adoração de imagens (influência dos cristãos iconoclastas) e o
consumo de certos alimentos (influência judaica). Ele incluiu Jesus na linhagem
dos profetas, porém considerou a si próprio como o último e o maior de todos os
profetas. Depois de Jesus e antes de Maomé, o sacerdote Mani, autor da doutrina
maniqueísta, também se declarou o último e o maior de todos os profetas.
Certamente não faltarão outros “últimos e maiores de todos os profetas” no
curso dos séculos.
As crenças na ressurreição do
corpo, no juízo final, nas recompensas e punições depois da morte e nos anjos
fazem parte da religião maometana. Os cristãos da Síria e da Arábia com quem
Maomé se relacionou e de quem recebeu influência, eram ebionitas e nestorianos,
seitas cristãs que negavam a divindade de Jesus. Por isto mesmo, Maomé não
considerava Jesus uma divindade e sim um profeta, um simples homem filho de
José e Maria.
Como soe acontecer com as
instituições humanas no tempo, o islamismo também sofreu divisão gerada por
divergências internas. Nasceram diversas seitas, das quais a sunita, a xiita e
a sufista são as mais conhecidas, havendo outras menos conhecidas como a dos
mutazilitas.
Politicamente, os sunitas
defendem a eficácia da Sunna e da Ulama (lei religiosa por eles
elaborada). A chefia do estado e da religião deve caber ao muçulmano eleito
pela comunidade islâmica, de acordo com o costume árabe de eleger os chefes
tribais. Do ponto de vista religioso, os sunitas colocam os textos e tradições
em paralelo ao Corão.
Os xiitas (partidários de Ali,
primo de Maomé) entendem que a chefia do estado e da religião deve caber
exclusivamente aos parentes do profeta. Eles perfilham o ideal aristocrático em
oposição ao ideal democrático dos sunitas e recusam qualquer ensinamento
estranho ao Corão. Os mestres religiosos descendentes de Ali recebem o título
de Imã.
Os sufistas são místicos e
ascéticos. Negam validade ao conhecimento racional. A verdade provém
exclusivamente da revelação divina. A tortura do corpo libera a alma para a mística
união com deus.
Os mutazilitas são os livres
pensadores do islamismo. Para eles, a razão
complementa o argumento de autoridade
e deve ser aceita como fonte da verdade religiosa. A primeira condição para o conhecimento é a dúvida, dizem alguns
deles, o que mais tarde seria encampado por Descartes com a sua dúvida metódica.
Depois da morte do profeta em
632, sucedeu-o no governo secular e religioso o seu sogro Abu-Bekr. Ao novo
governante foi dado o título de califa
que significa “sucessor do profeta”. Perseguiu-se um modelo idealizado: o
governante (califa) justo e autocrático assessorado por um honesto e sábio
ministro (vizir). Depois da morte de Abu-Bekr, ocupou o governo Omar (634 a 644). Começam as
dissensões sobre a sucessão no cargo supremo do estado e da religião. Oman,
califa sucessor de Omar, membro da família dos Omíadas (Umaiad) foi deposto pelos xiitas que escolheram Ali, marido de Fátima, filha de Maomé, para
o cargo de califa (652). Ali foi assassinado em Kufa, no Iraque (661). Os
Omíadas tomam o poder, mudam a capital para Damasco e se estabelecem como
dinastia real, corte luxuosa no estilo bizantino. Sobrevém revolta dos xiitas
liderados por um membro da família dos Abássidas (descendentes de Abas, tio de
Maomé) que tomam o poder (750). Os Abássidas governam por mais de trezentos anos.
Essa dinastia muda a capital do império para Bagdá e adota o estilo de governo dos
déspotas orientais.
O território do estado criado por
Maomé cobria a terça parte da península arábica, aproximadamente. Oitenta anos
depois da morte do profeta, o império sarraceno estendia-se das fronteiras da
Índia ao estreito de Gibraltar e aos Pirineus (632 a 712). Integravam-no: a
Arábia, a Pérsia, a Síria, a Palestina, o Egito, o norte da África, a Índia e a
Espanha. A fé muçulmana impulsionou a conquista territorial, mas a sua
propagação não foi o objetivo principal, pois aos vencidos era facultado aderir
ou não ao islamismo. Houve cristãos, judeus e seguidores de Zoroastro que
mantiveram as suas respectivas crenças; outros aderiram ao Islã por
conveniência (isenção tributária). A expansão territorial dos árabes tinha
objetivos políticos e econômicos. Grande parte do seu primitivo território na
Arábia era de terras áridas. A seca e o avanço da areia nas cercanias dos oásis
a partir do século VII prejudicavam a colheita de tâmaras e o pasto de rebanhos
e manadas (601 a
700). Isto constituiu forte justificativa às guerras de conquista.
Os árabes não conseguiram a unidade de povos
heterogêneos necessária à coesão do vasto império. As suas divergências
internas, principalmente entre sunitas e xiitas, contribuíram para o
enfraquecimento do império. As províncias de Córdova, do Marrocos e do Egito se
declararam independentes. O mesmo ocorreu com dinastias em partes do Irã. No
governo do Egito, Salah-al-Din bin Aiub (Saladino)
proclama-se líder da guerra santa contra os cruzados (jihad) e reconquista Jerusalém (1187). O califado de Bagdá
entregou-se à luxúria e acabou por se tornar títere dos turcos seljuk no século
XI (1001 a
1100). O último califa de Bagdá foi executado pelos mongóis em 1258. O império
sarraceno extinguiu-se por fragmentação, mas a religião islâmica se manteve e
se expandiu por todos os continentes e entre os mais diferentes povos no mundo
moderno.
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