quarta-feira, 23 de abril de 2014

FILOSOFIA XI - B



ARÁBIA (600 a 1200).  Continuação.

Notória a influência do judaísmo e do cristianismo no pensamento e na crença de Maomé. Este profeta adotou a tradição monoteísta iniciada por Aquenaton e continuada por Moisés e Jesus. Maomé aceitava a versão bíblica de que os árabes eram descendentes de Ismael, o filho primogênito de Abraão. Ismael é o irmão mais velho de Isaac, patriarca dos judeus. Logo, árabes e judeus são primos por laços de sangue. O profeta proibiu: a poligamia, a usura, a adoração de imagens (influência dos cristãos iconoclastas) e o consumo de certos alimentos (influência judaica). Ele incluiu Jesus na linhagem dos profetas, porém considerou a si próprio como o último e o maior de todos os profetas. Depois de Jesus e antes de Maomé, o sacerdote Mani, autor da doutrina maniqueísta, também se declarou o último e o maior de todos os profetas. Certamente não faltarão outros “últimos e maiores de todos os profetas” no curso dos séculos.
As crenças na ressurreição do corpo, no juízo final, nas recompensas e punições depois da morte e nos anjos fazem parte da religião maometana. Os cristãos da Síria e da Arábia com quem Maomé se relacionou e de quem recebeu influência, eram ebionitas e nestorianos, seitas cristãs que negavam a divindade de Jesus. Por isto mesmo, Maomé não considerava Jesus uma divindade e sim um profeta, um simples homem filho de José e Maria.
Como soe acontecer com as instituições humanas no tempo, o islamismo também sofreu divisão gerada por divergências internas. Nasceram diversas seitas, das quais a sunita, a xiita e a sufista são as mais conhecidas, havendo outras menos conhecidas como a dos mutazilitas.
Politicamente, os sunitas defendem a eficácia da Sunna e da Ulama (lei religiosa por eles elaborada). A chefia do estado e da religião deve caber ao muçulmano eleito pela comunidade islâmica, de acordo com o costume árabe de eleger os chefes tribais. Do ponto de vista religioso, os sunitas colocam os textos e tradições em paralelo ao Corão.
Os xiitas (partidários de Ali, primo de Maomé) entendem que a chefia do estado e da religião deve caber exclusivamente aos parentes do profeta. Eles perfilham o ideal aristocrático em oposição ao ideal democrático dos sunitas e recusam qualquer ensinamento estranho ao Corão. Os mestres religiosos descendentes de Ali recebem o título de Imã.
Os sufistas são místicos e ascéticos. Negam validade ao conhecimento racional. A verdade provém exclusivamente da revelação divina. A tortura do corpo libera a alma para a mística união com deus.
Os mutazilitas são os livres pensadores do islamismo. Para eles, a razão complementa o argumento de autoridade e deve ser aceita como fonte da verdade religiosa. A primeira condição para o conhecimento é a dúvida, dizem alguns deles, o que mais tarde seria encampado por Descartes com a sua dúvida metódica.
Depois da morte do profeta em 632, sucedeu-o no governo secular e religioso o seu sogro Abu-Bekr. Ao novo governante foi dado o título de califa que significa “sucessor do profeta”. Perseguiu-se um modelo idealizado: o governante (califa) justo e autocrático assessorado por um honesto e sábio ministro (vizir). Depois da morte de Abu-Bekr, ocupou o governo Omar (634 a 644). Começam as dissensões sobre a sucessão no cargo supremo do estado e da religião. Oman, califa sucessor de Omar, membro da família dos Omíadas (Umaiad) foi deposto pelos xiitas que escolheram Ali, marido de Fátima, filha de Maomé, para o cargo de califa (652). Ali foi assassinado em Kufa, no Iraque (661). Os Omíadas tomam o poder, mudam a capital para Damasco e se estabelecem como dinastia real, corte luxuosa no estilo bizantino. Sobrevém revolta dos xiitas liderados por um membro da família dos Abássidas (descendentes de Abas, tio de Maomé) que tomam o poder (750). Os Abássidas governam por mais de trezentos anos. Essa dinastia muda a capital do império para Bagdá e adota o estilo de governo dos déspotas orientais.
O território do estado criado por Maomé cobria a terça parte da península arábica, aproximadamente. Oitenta anos depois da morte do profeta, o império sarraceno estendia-se das fronteiras da Índia ao estreito de Gibraltar e aos Pirineus (632 a 712). Integravam-no: a Arábia, a Pérsia, a Síria, a Palestina, o Egito, o norte da África, a Índia e a Espanha. A fé muçulmana impulsionou a conquista territorial, mas a sua propagação não foi o objetivo principal, pois aos vencidos era facultado aderir ou não ao islamismo. Houve cristãos, judeus e seguidores de Zoroastro que mantiveram as suas respectivas crenças; outros aderiram ao Islã por conveniência (isenção tributária). A expansão territorial dos árabes tinha objetivos políticos e econômicos. Grande parte do seu primitivo território na Arábia era de terras áridas. A seca e o avanço da areia nas cercanias dos oásis a partir do século VII prejudicavam a colheita de tâmaras e o pasto de rebanhos e manadas (601 a 700). Isto constituiu forte justificativa às guerras de conquista.
Os árabes não conseguiram a unidade de povos heterogêneos necessária à coesão do vasto império. As suas divergências internas, principalmente entre sunitas e xiitas, contribuíram para o enfraquecimento do império. As províncias de Córdova, do Marrocos e do Egito se declararam independentes. O mesmo ocorreu com dinastias em partes do Irã. No governo do Egito, Salah-al-Din bin Aiub (Saladino) proclama-se líder da guerra santa contra os cruzados (jihad) e reconquista Jerusalém (1187). O califado de Bagdá entregou-se à luxúria e acabou por se tornar títere dos turcos seljuk no século XI (1001 a 1100). O último califa de Bagdá foi executado pelos mongóis em 1258. O império sarraceno extinguiu-se por fragmentação, mas a religião islâmica se manteve e se expandiu por todos os continentes e entre os mais diferentes povos no mundo moderno.

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