sexta-feira, 11 de abril de 2014

FILOSOFIA X - K



Europa. Cristianismo (final).

Agostinho, santo da igreja cristã, nascido Aurelius Augustinus, em Tagaste, na província romana de Numídia (África), morreu em Hipona (Argélia), como bispo (354 a 430). Contemporâneo das invasões dos bárbaros no império romano, Agostinho se propôs a defender o cristianismo dos ataques desferidos por aqueles que lançavam sobre os ombros da igreja a culpa do infortúnio. Entre as suas obras destacam-se: “Do Livre Arbítrio”, “Confissões” e a “Cidade de Deus”. Agostinho busca o equilíbrio entre as correntes dogmática e racionalista. No seu pensamento estão presentes as oposições: ser x não-ser; espírito x matéria; alma x corpo; inteligível x sensível; bem x mal; inocência x pecado; prêmio x castigo; salvação x perdição. A ele se deve a base teológica cristã que vigorou até a época da reforma religiosa.
Agostinho ficou atraído pela filosofia ao ler diálogo escrito por Cícero intitulado Hortensius. O cristianismo lhe parecia brutal e supersticioso. Aderiu ao maniqueísmo. Depois de uma década, aderiu ao neoplatonismo. Após ouvir a pregação de Ambrósio, aderiu ao cristianismo e nele permaneceu até a morte. A sua reflexão filosófica tinha forte coloração platônica. A sua noção de filosofia era reducionista: “O homem não tem razão para filosofar, exceto para atingir a felicidade”. Antecipou-se a Descartes ao afirmar: “Se eu me engano, eu sou, pois aquele que não é não pode ser enganado”. A fé está acima da razão, porém há necessidade de explicação intelectual para a crença. A iluminação divina não afasta o intelecto humano, bem ao contrário, o supõe. A iluminação coloca o intelecto na senda correta.
Há verdade absoluta e eterna. Há um conhecimento instintivo implantado por deus no espírito humano. Como reflexos da verdade eterna, existem conceitos básicos no ser humano desde o nascimento. Servem de exemplo as idéias imutáveis de justiça e direito. Deus é um espírito atemporal; não está sujeito à causalidade e nem ao processo histórico. Sob a ótica do tempo, o presente é o que existe realmente; o passado existe como memória do presente; o futuro existe como expectativa do presente. Perguntar o que houve antes da criação é insensatez, pois ao criar o mundo deus criou o tempo que, assim, integra-se à experiência mental do homem.
Na opinião de Agostinho, só há verdadeira justiça na cidade de deus. Tal justiça é cristã. A cidade terrena subtrai o homem ao deus verdadeiro o que significa injustiça. Os reinos nada mais são do que sociedades de bandidos quando não há justiça. As quadrilhas são pequenos reinos cujos membros comandados por um chefe vinculam-se por um pacto social e dividem o saque nos termos de uma lei aceita por todos. O poder secular e o poder espiritual são independentes, porém cooperativos: ao príncipe, o cuidado do reino; ao sacerdote, o cuidado da igreja; ao príncipe, os corpos; à igreja, as almas. A Constituição da cidade terrena é puramente temporal e eventual, pois depende da natureza do povo que se quer governar e das circunstâncias; ela nada tem de imutável e pode ser modificada para o bem dos cidadãos.
A ordem da igreja é superior porque tende para a ordem da cidade celeste. Da revelação contida nas escrituras advém grande parte do conhecimento. Apesar disto, o homem necessita compreender e o faz mediante o uso da razão. “Senti e experimentei não ser para admirar que o pão, tão saboroso ao paladar saudável, seja enjoativo ao paladar enfermo e que a luz amável aos olhos límpidos, seja odiosa aos olhos doentes.” A história humana é desenvolvimento da vontade divina: tudo o que aconteceu ou acontecerá representa um episódio dos desígnios de deus. Todos os homens sofrem as conseqüências do pecado original de Adão e Eva. Os que persistem no pecado são os construtores da cidade terrena. Os eleitos pela graça divina são os bem-aventurados edificadores da cidade de deus. Agostinho adere à teoria da predestinação: os selecionados por deus para a salvação eterna vivem na cidade de deus; todos os demais vivem na cidade terrena. No dia do juízo final, os habitantes da cidade de deus envergarão as vestes da imortalidade enquanto os habitantes da cidade terrena queimarão no inferno. Todo o significado da vida humana está nisto, diz Agostinho. Deus é onipotente. A graça divina é necessária ao homem na luta contra as tentações e o pecado. Todavia, nem todos a recebem.
O homem, depravado por natureza, não tem vontade livre. {Agostinho generaliza a sua própria experiência sensual, a sua licenciosidade nos prazeres ao tempo da sua juventude e do seu casamento}. A igreja é infalível. O erro é do indivíduo {responsabilidade individual pelo pecado equivale no plano civil à responsabilidade individual pelo crime}. Pelágio, monge galês, negava a doutrina do pecado original; afirmava a eficácia do livre arbítrio. Segundo os pelagianos, o homem alcançaria a salvação por seu próprio esforço se levasse vida virtuosa. A graça divina era dispensável. Agostinho combateu essa doutrina. Os reformadores cristãos do século XVI, como Calvino, adotaram alguns pontos da doutrina de Agostinho, tais como: a predestinação, o pecado original, a natureza depravada do homem e a escravidão da vontade.

Nenhum comentário: