ARÁBIA (600 a
1200). Final.
A filosofia sarracena vem
estribada na filosofia grega, principalmente no aristotelismo e neoplatonismo.
Obras de Aristóteles, Galeno e Ptolomeu foram traduzidas para o árabe,
comentadas e desenvolvidas por intelectuais islâmicos como o matemático
Al-Kuarizmi (Algarismus) e o médico
Ibn Sina (Avicena). O acesso ao
pensamento grego se deu por intermédio dos cristãos nestorianos da Pérsia. A
filosofia sarracena, de um modo geral, coloca a razão acima da fé como
confiável acesso ao conhecimento verdadeiro. A doutrina religiosa deve ser
iluminada pela razão para chegar a um conhecimento filosófico puro. O universo
não teve começo no tempo. O universo é uma série de emanações de deus. Cada
acontecimento é o elo de uma corrente de causas e efeitos. Tudo é
predeterminado por deus. Em vista disto, milagre e providência divina são
impossíveis. Embora seja deus a causa de todas as coisas, ele não é onipotente,
pois está limitado pela justiça e pela bondade. {Deus tudo pode enquanto bom e
justo}. A alma individual é mortal, pois nenhuma substância espiritual pode
existir separada do corpo. Somente a alma do universo vive para sempre. Em si
mesma, a matéria é eterna {nada se perde,
nada se cria, tudo se transforma, diria o químico francês Lavoisier}.
Al Farabi, muçulmano turco,
filósofo, cientista, esteve em contacto com a tradição árabe cristã da Síria (878 a 950). Suas obras versam
ciências naturais e teoria política. À semelhança de Platão, advogava a idéia
de o estado ser governado por um monarca sábio. Negava conflito entre a
filosofia de Platão e os ensinamentos de Maomé. Afirmava que as verdades do
Islã podiam ser melhor compreendidas com o auxílio da filosofia grega.
Ibn Sina, muçulmano persa,
filósofo, cientista e médico, conhecido no ocidente como Avicena, nasceu na província de Bukhara, na Pérsia, ensinou
filosofia e medicina (980 a
1037). Suas opiniões desagradavam aos teólogos. Abordou a questão dos
universais que se tornou central na escolástica. Tentou resolvê-la conciliando
Platão e Aristóteles. Na teoria de Avicena as formas universais estão antes na
mente de Deus, quando as coisas são criadas; depois, estão nas coisas do mundo
exterior; por último, estão no pensamento humano, que discerne os modelos através
da experiência. Alá pode ser visto como o primeiro
motor do mundo do qual tudo emana.
Al Gazel, filósofo, mestre
religioso, nega valor à razão como fonte do conhecimento (1001 a 1100). Ele enaltece a
revelação e a fé e lidera a escola filosófica mística e fundamentalista.
Averróis, muçulmano espanhol,
filósofo, nascido em Córdova, estudou leis e atuou em Sevilha, Córdova e
Marrocos (1126 a
1198). Esteve exilado no Marrocos por defender idéias filosóficas e não se
contentar com a fé. Averróis divorciou o aristotelismo do neoplatonismo.
Segundo ele, a existência de deus pode ser provada por meio da razão
exclusivamente. Imortal não é a alma e sim o nous, inteligência abstrata e unitária. O seu pensamento exerceu
influência sobre os escolásticos e os livres pensadores.
Ibn Kaldun, muçulmano espanhol,
descendente de família árabe de Sevilha, viveu nas cortes berberes da África do
Norte (1332 a
1406). Escreveu a história do Islã. No prefácio dessa obra ele apresenta como
fenômeno cíclico o padrão do desenvolvimento histórico: pastores nômades,
fortes e independentes, dão origem às dinastias; na primeira geração, as tribos
conquistam territórios dos povos sedentários; na geração seguinte, as tribos se
fixam nos territórios conquistados; ante a indisciplina dos guerreiros tribais,
a dinastia governante recruta soldados de outros povos. Na seqüência das
gerações, a dinastia perde progressivamente a sua força e se debilita em
virtude da vida fácil e luxuosa. Surge então nova dinastia que substitui a
anterior. Ibn Kaldun elaborou essa teoria política com base no seu conhecimento
da história islâmica.
A civilização européia recebeu
valiosas contribuições da civilização sarracena no campo filosófico, científico
e artístico. Assim, por exemplo, chegaram à Europa ocidental pelas mãos dos
muçulmanos: as obras de Aristóteles, o sistema arábico de numeração, a álgebra,
o compasso, o astrolábio, produção do papel, práticas medicinais e comerciais, arquitetura,
obras literárias e palavras que enriqueceram o vocabulário latino.
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