sexta-feira, 25 de abril de 2014

FILOSOFIA XI - C



ARÁBIA (600 a 1200).  Final. 

A filosofia sarracena vem estribada na filosofia grega, principalmente no aristotelismo e neoplatonismo. Obras de Aristóteles, Galeno e Ptolomeu foram traduzidas para o árabe, comentadas e desenvolvidas por intelectuais islâmicos como o matemático Al-Kuarizmi (Algarismus) e o médico Ibn Sina (Avicena). O acesso ao pensamento grego se deu por intermédio dos cristãos nestorianos da Pérsia. A filosofia sarracena, de um modo geral, coloca a razão acima da fé como confiável acesso ao conhecimento verdadeiro. A doutrina religiosa deve ser iluminada pela razão para chegar a um conhecimento filosófico puro. O universo não teve começo no tempo. O universo é uma série de emanações de deus. Cada acontecimento é o elo de uma corrente de causas e efeitos. Tudo é predeterminado por deus. Em vista disto, milagre e providência divina são impossíveis. Embora seja deus a causa de todas as coisas, ele não é onipotente, pois está limitado pela justiça e pela bondade. {Deus tudo pode enquanto bom e justo}. A alma individual é mortal, pois nenhuma substância espiritual pode existir separada do corpo. Somente a alma do universo vive para sempre. Em si mesma, a matéria é eterna {nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, diria o químico francês Lavoisier}.
Al Farabi, muçulmano turco, filósofo, cientista, esteve em contacto com a tradição árabe cristã da Síria (878 a 950). Suas obras versam ciências naturais e teoria política. À semelhança de Platão, advogava a idéia de o estado ser governado por um monarca sábio. Negava conflito entre a filosofia de Platão e os ensinamentos de Maomé. Afirmava que as verdades do Islã podiam ser melhor compreendidas com o auxílio da filosofia grega.  
Ibn Sina, muçulmano persa, filósofo, cientista e médico, conhecido no ocidente como Avicena, nasceu na província de Bukhara, na Pérsia, ensinou filosofia e medicina (980 a 1037). Suas opiniões desagradavam aos teólogos. Abordou a questão dos universais que se tornou central na escolástica. Tentou resolvê-la conciliando Platão e Aristóteles. Na teoria de Avicena as formas universais estão antes na mente de Deus, quando as coisas são criadas; depois, estão nas coisas do mundo exterior; por último, estão no pensamento humano, que discerne os modelos através da experiência. Alá pode ser visto como o primeiro motor do mundo do qual tudo emana.
Al Gazel, filósofo, mestre religioso, nega valor à razão como fonte do conhecimento (1001 a 1100). Ele enaltece a revelação e a fé e lidera a escola filosófica mística e fundamentalista.
Averróis, muçulmano espanhol, filósofo, nascido em Córdova, estudou leis e atuou em Sevilha, Córdova e Marrocos (1126 a 1198). Esteve exilado no Marrocos por defender idéias filosóficas e não se contentar com a fé. Averróis divorciou o aristotelismo do neoplatonismo. Segundo ele, a existência de deus pode ser provada por meio da razão exclusivamente. Imortal não é a alma e sim o nous, inteligência abstrata e unitária. O seu pensamento exerceu influência sobre os escolásticos e os livres pensadores.
Ibn Kaldun, muçulmano espanhol, descendente de família árabe de Sevilha, viveu nas cortes berberes da África do Norte (1332 a 1406). Escreveu a história do Islã. No prefácio dessa obra ele apresenta como fenômeno cíclico o padrão do desenvolvimento histórico: pastores nômades, fortes e independentes, dão origem às dinastias; na primeira geração, as tribos conquistam territórios dos povos sedentários; na geração seguinte, as tribos se fixam nos territórios conquistados; ante a indisciplina dos guerreiros tribais, a dinastia governante recruta soldados de outros povos. Na seqüência das gerações, a dinastia perde progressivamente a sua força e se debilita em virtude da vida fácil e luxuosa. Surge então nova dinastia que substitui a anterior. Ibn Kaldun elaborou essa teoria política com base no seu conhecimento da história islâmica.
A civilização européia recebeu valiosas contribuições da civilização sarracena no campo filosófico, científico e artístico. Assim, por exemplo, chegaram à Europa ocidental pelas mãos dos muçulmanos: as obras de Aristóteles, o sistema arábico de numeração, a álgebra, o compasso, o astrolábio, produção do papel, práticas medicinais e comerciais, arquitetura, obras literárias e palavras que enriqueceram o vocabulário latino. 


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