sexta-feira, 18 de abril de 2014

FILOSOFIA XI



ARÁBIA (600 a 1200).

A religião denominada Islã, palavra que significa submissão a deus, foi o fulcro da civilização sarracena, composta inicialmente de árabes acrescida posteriormente de outras etnias. Esta civilização provocou mudanças culturais no oriente e no ocidente.
Antes do advento do Islã no século VI (501 a 600), o povo árabe compreendia dois grandes grupos: o sedentário e o beduíno. Os sedentários habitavam cidades como Meca e Yatrib; dedicavam-se ao comércio e ao artesanato; havia a minoria rica e a maioria remediada e pobre. Poucos sabiam ler e escrever. Os beduínos eram nômades e supersticiosos, praticavam o infanticídio e o sacrifício humano, disputavam oásis e poços de água em pelejas mortais {poços de petróleo seriam alvos da cobiça européia e americana 1.300 anos mais tarde}. Os beduínos criavam animais para transporte e alimentação, cultivavam tâmaras para sua dieta alimentar e pastos para rebanhos e manadas. Nenhum dos dois grupos era politicamente organizado. Viviam em clãs e tribos. O crime praticado contra o membro de um clã era vingado em duelo com o criminoso. As tribos lutavam entre si. Havia intervalos de paz. A crença religiosa era politeísta.
Esse quadro social mudou com o advento do islamismo. Os sarracenos (árabes + povos de outras etnias convertidos ao islamismo) fizeram jardim onde havia deserto; construíram cidades onde só existiam vilas paupérrimas. Embora a característica marcante do império sarraceno fosse o deserto, dentro do seu vasto território havia regiões montanhosas e também áreas com precipitação pluvial favoráveis à pastagem e à lavoura como a Síria, Palestina, Marrocos, Tunísia, Iraque e Irã. Entre as maiores cidades e os mais importantes centros comerciais do império sarraceno estavam: Bagdá (Iraque), Nishapur (Irã), Alepo (Síria) Cairo e Alexandria (Egito) Alguns povos adotaram a língua árabe enquanto outros mantiveram seus próprios idiomas embora aderissem à fé islâmica. O povo árabe dominou o Oriente Médio nessa época sem forçar a conversão dos povos conquistados.
No serviço burocrático, o califa (autoridade suprema) era auxiliado por secretários cujo chefe tinha o título de vizir (ministro). Provavelmente, os árabes tomaram por modelo a organização administrativa bizantina. A receita tributária provinha de duas fontes principais: (1) do imposto sobre a terra (kharaj); (2) da taxa individual cobrada de quem não era muçulmano (jizya). Para se livrarem do pagamento da jizya (taxa) muitos se converteram ao islamismo. As rendas eram recolhidas ao tesouro do estado. O império foi dividido em províncias, cada uma com um governador nomeado pelo califa. O governador recolhia os tributos, pagava o soldo das tropas estacionadas na sua região, mantinha a lei e a ordem na sua província. Com o aumento dos convertidos ao Islã, os árabes sofrem a concorrência dos muçulmanos turcos e persas na disputa pelo poder político. Os califas deixam de ser de exclusiva origem árabe.
Os produtos da indústria sarracena eram conhecidos na África, Ásia e Europa. O comércio e a indústria eram essenciais a essa economia. Recibos, cartas de crédito, conhecimentos, cheques, associações comerciais, companhias de capital por quotas, eram técnicas usuais. Caravanas de camelos com suas cargas viajavam por terra até a Índia e a China. Os navios árabes sulcaram as águas do Oceano Índico, do Golfo Pérsico e do Mar Cáspio. Esse comércio intenso tinha atrás de si uma indústria próspera no setor têxtil (algodão, linho estampado, lã, cetim), nos artigos de vidro, joalheria, cerâmica, sedas, peles, aço fino, lâminas, drogas, perfumes, tapetes, tapeçarias, brocados, papel. Havia corporações civis sob a supervisão do governo. Os membros dessas corporações controlavam o fluxo dos negócios. Os sistemas de irrigação existentes nos territórios conquistados foram restaurados e aumentados. A lavoura alcançou bom índice de produtividade. Terras estéreis tornaram-se fecundas graças à irrigação. Declives das montanhas de Espanha foram aterrados para plantio de videiras. Palácios e mansões eram ajardinados com arbustos e flores ornamentais. Grandes eram a quantidade e a variedade de produtos das fazendas e dos pomares (algodão, linho, café, açúcar, arroz, trigo, espinafre, aspargos, azeitonas, damascos, pêssegos, limões, bananas, laranja). Nas grandes fazendas trabalhavam escravos, servos e camponeses livres. Nas pequenas fazendas a terra era cultivada pelos próprios donos.
Os sarracenos foram notáveis astrônomos, matemáticos, físicos, químicos e médicos. Contrariando a lição de Aristóteles, eles admitiram a possibilidade de a Terra girar: (1) em torno do seu próprio e imaginário eixo ao invés de estar fixa no espaço; (2) em torno do Sol, ao invés de ser o centro do universo. O poeta Omar Khayyán desenvolveu preciso calendário com o erro de um dia em 3.770 anos. A álgebra e a geometria tiveram considerável avanço. Do sistema numérico indiano os sarracenos extraíram o seu sistema arábico de grande utilidade no ocidente. No campo da ótica contribuíram para a teoria das lentes de aumento e para a teoria da luz (velocidade, transmissão e refração). Da alquimia eles chegaram à química. Alguns cientistas árabes negavam a possibilidade da transmutação dos metais (a pedra filosofal alquímica). Descobriram vários elementos e compostos químicos e foram os primeiros a descrever os processos químicos de destilação, filtração e sublimação.
Os sarracenos superaram a medicina grega. Filósofo, cientista e médico persa, Avicena verificou a natureza contagiosa da tuberculose, descreveu a pleurisia e doenças nervosas e provou que a água e o solo contaminados podem espalhar enfermidades. O seu trabalho vigorou na Europa até o século XVII. Rhazes, contemporâneo de Avicena, descobriu a verdadeira natureza da varíola. Outros médicos descobriram o valor da cauterização e dos agentes adstringentes, diagnosticaram o câncer de estômago, prescreveram antídotos para casos de envenenamento, progrediram no tratamento das doenças dos olhos, reconheceram o caráter infeccioso da peste que, segundo eles, podia ser transmitida pela roupa, por comida em vasilhas contaminadas e por contato pessoal. Os sarracenos disciplinaram a medicina, montaram hospitais na Pérsia, Síria e Egito providos de bibliotecas, dispensários e departamentos para casos especiais. Os médicos ministravam aulas a neófitos e a graduados.        
Na poesia, os autores mais conhecidos são Al-Firdausi que escreveu o Livro dos Reis com 60.000 versos sobre as glórias do império persa medieval (935 a 1020) e Omar Khayyán que escreveu o Rubaiyat onde também retrata a cultura persa e expõe uma filosofia mecanicista, cética e hedonista (1048 a 1124). Na prosa, destaca-se Mil e Uma Noites, coleção de textos escritos durante os séculos VIII e IX (701 a 900). Esta coleção inclui fábulas, anedotas, contos e histórias de aventuras. Essa obra exibe o requinte muçulmano do califado de Bagdá. O império atinge seu maior esplendor no califado de Harum al-Rashid. 
Os sarracenos se destacaram na arquitetura. A pintura e a escultura sofriam restrições postas por preceitos religiosos como, por exemplo, os que proibiam a reprodução da forma humana. A produção arquitetônica incluía mesquitas, escolas, hospitais, mansões e palácios. Prevalecia o caráter secular sobre o religioso. As características mais freqüentes eram as cúpulas em bulbos, os minaretes, os arcos em ferradura, as colunas torcidas, mosaicos pretos e brancos e caracteres árabes como artifícios decorativos. Na decoração, dava-se mais atenção ao interior do que ao exterior. Os árabes mostraram-se talentosos na produção de tapetes e cobertores, lavores de couro, sedas e brocados, peças de vidro e cerâmica pintada.    

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