ARÁBIA (600 a
1200).
A religião denominada Islã, palavra que significa submissão a deus, foi o fulcro da
civilização sarracena, composta inicialmente de árabes acrescida posteriormente
de outras etnias. Esta civilização provocou mudanças culturais no oriente e no
ocidente.
Antes do advento do Islã no
século VI (501 a
600), o povo árabe compreendia dois grandes grupos: o sedentário e o beduíno.
Os sedentários habitavam cidades como Meca e Yatrib; dedicavam-se ao comércio e
ao artesanato; havia a minoria rica e a maioria remediada e pobre. Poucos
sabiam ler e escrever. Os beduínos eram nômades e supersticiosos, praticavam o
infanticídio e o sacrifício humano, disputavam oásis e poços de água em pelejas
mortais {poços de petróleo seriam alvos da cobiça européia e americana 1.300 anos
mais tarde}. Os beduínos criavam animais para transporte e alimentação,
cultivavam tâmaras para sua dieta alimentar e pastos para rebanhos e manadas.
Nenhum dos dois grupos era politicamente organizado. Viviam em clãs e tribos. O
crime praticado contra o membro de um clã era vingado em duelo com o criminoso.
As tribos lutavam entre si. Havia intervalos de paz. A crença religiosa era
politeísta.
Esse quadro social mudou com o
advento do islamismo. Os sarracenos (árabes + povos de outras etnias
convertidos ao islamismo) fizeram jardim onde havia deserto; construíram
cidades onde só existiam vilas paupérrimas. Embora a característica marcante do
império sarraceno fosse o deserto, dentro do seu vasto território havia regiões
montanhosas e também áreas com precipitação pluvial favoráveis à pastagem e à
lavoura como a Síria, Palestina, Marrocos, Tunísia, Iraque e Irã. Entre as
maiores cidades e os mais importantes centros comerciais do império sarraceno estavam:
Bagdá (Iraque), Nishapur (Irã), Alepo (Síria) Cairo e Alexandria (Egito) Alguns
povos adotaram a língua árabe enquanto outros mantiveram seus próprios idiomas
embora aderissem à fé islâmica. O povo árabe dominou o Oriente Médio nessa
época sem forçar a conversão dos povos conquistados.
No serviço burocrático, o califa (autoridade suprema) era
auxiliado por secretários cujo chefe tinha o título de vizir (ministro). Provavelmente, os árabes tomaram por modelo a
organização administrativa bizantina. A receita tributária provinha de duas
fontes principais: (1) do imposto sobre a terra (kharaj); (2) da taxa individual cobrada de quem
não era muçulmano (jizya). Para se livrarem do pagamento da jizya (taxa) muitos
se converteram ao islamismo. As rendas eram
recolhidas ao tesouro do estado. O império foi dividido em províncias, cada uma
com um governador nomeado pelo califa. O governador recolhia os tributos,
pagava o soldo das tropas estacionadas na sua região, mantinha a lei e a ordem
na sua província. Com o aumento dos convertidos ao Islã, os árabes sofrem a
concorrência dos muçulmanos turcos e persas na disputa pelo poder político. Os
califas deixam de ser de exclusiva origem árabe.
Os produtos da indústria sarracena
eram conhecidos na África, Ásia e Europa. O comércio e a indústria eram
essenciais a essa economia. Recibos, cartas de crédito, conhecimentos, cheques,
associações comerciais, companhias de capital por quotas, eram técnicas usuais.
Caravanas de camelos com suas cargas viajavam por terra até a Índia e a China. Os
navios árabes sulcaram as águas do Oceano Índico, do Golfo Pérsico e do Mar
Cáspio. Esse comércio intenso tinha atrás de si uma indústria próspera no setor
têxtil (algodão, linho estampado, lã, cetim), nos artigos de vidro, joalheria,
cerâmica, sedas, peles, aço fino, lâminas, drogas, perfumes, tapetes,
tapeçarias, brocados, papel. Havia corporações civis sob a supervisão do
governo. Os membros dessas corporações controlavam o fluxo dos negócios. Os sistemas
de irrigação existentes nos territórios conquistados foram restaurados e aumentados.
A lavoura alcançou bom índice de produtividade. Terras estéreis tornaram-se
fecundas graças à irrigação. Declives das montanhas de Espanha foram aterrados
para plantio de videiras. Palácios e mansões eram ajardinados com arbustos e
flores ornamentais. Grandes eram a quantidade e a variedade de produtos das
fazendas e dos pomares (algodão, linho, café, açúcar, arroz, trigo, espinafre,
aspargos, azeitonas, damascos, pêssegos, limões, bananas, laranja). Nas grandes
fazendas trabalhavam escravos, servos e camponeses livres. Nas pequenas fazendas
a terra era cultivada pelos próprios donos.
Os sarracenos foram notáveis
astrônomos, matemáticos, físicos, químicos e médicos. Contrariando a lição de
Aristóteles, eles admitiram a possibilidade de a Terra girar: (1) em torno do
seu próprio e imaginário eixo ao invés de estar fixa no espaço; (2) em torno do
Sol, ao invés de ser o centro do universo. O poeta Omar Khayyán desenvolveu
preciso calendário com o erro de um dia em 3.770 anos. A álgebra e a geometria
tiveram considerável avanço. Do sistema numérico indiano os sarracenos
extraíram o seu sistema arábico de grande utilidade no ocidente. No campo da
ótica contribuíram para a teoria das lentes de aumento e para a teoria da luz
(velocidade, transmissão e refração). Da alquimia eles chegaram à química.
Alguns cientistas árabes negavam a possibilidade da transmutação dos metais (a
pedra filosofal alquímica). Descobriram vários elementos e compostos químicos e
foram os primeiros a descrever os processos químicos de destilação, filtração e
sublimação.
Os sarracenos superaram a
medicina grega. Filósofo, cientista e médico persa, Avicena verificou a
natureza contagiosa da tuberculose, descreveu a pleurisia e doenças nervosas e
provou que a água e o solo contaminados podem espalhar enfermidades. O seu
trabalho vigorou na Europa até o século XVII. Rhazes, contemporâneo de Avicena,
descobriu a verdadeira natureza da varíola. Outros médicos descobriram o valor
da cauterização e dos agentes adstringentes, diagnosticaram o câncer de
estômago, prescreveram antídotos para casos de envenenamento, progrediram no
tratamento das doenças dos olhos, reconheceram o caráter infeccioso da peste
que, segundo eles, podia ser transmitida pela roupa, por comida em vasilhas
contaminadas e por contato pessoal. Os sarracenos disciplinaram a medicina,
montaram hospitais na Pérsia, Síria e Egito providos de bibliotecas,
dispensários e departamentos para casos especiais. Os médicos ministravam aulas
a neófitos e a graduados.
Na poesia, os autores mais
conhecidos são Al-Firdausi que escreveu o Livro
dos Reis com 60.000 versos sobre as glórias do império persa medieval (935 a 1020) e Omar Khayyán
que escreveu o Rubaiyat onde também
retrata a cultura persa e expõe uma filosofia mecanicista, cética e hedonista (1048 a 1124). Na prosa, destaca-se
Mil e Uma Noites, coleção de textos escritos
durante os séculos VIII e IX (701
a 900). Esta coleção inclui fábulas, anedotas, contos e
histórias de aventuras. Essa obra exibe o requinte muçulmano do califado de
Bagdá. O império atinge seu maior esplendor no califado de Harum
al-Rashid.
Os sarracenos se destacaram na
arquitetura. A pintura e a escultura sofriam restrições postas por preceitos
religiosos como, por exemplo, os que proibiam a reprodução da forma humana. A
produção arquitetônica incluía mesquitas, escolas, hospitais, mansões e palácios.
Prevalecia o caráter secular sobre o religioso. As características mais
freqüentes eram as cúpulas em bulbos, os minaretes, os arcos em ferradura, as
colunas torcidas, mosaicos pretos e brancos e caracteres árabes como artifícios
decorativos. Na decoração, dava-se mais atenção ao interior do que ao exterior.
Os árabes mostraram-se talentosos na produção de tapetes e cobertores, lavores
de couro, sedas e brocados, peças de vidro e cerâmica pintada.
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