Hipocrisia. A Ucrânia, país que faz fronteira
com a Rússia e que integrava a União Soviética, está às voltas com problemas
internos. Houve golpe de Estado que derrubou o governo legítimo. A província da
Criméia não assimilou o golpe. Por decisão da sua assembléia legislativa
(parlamento) e do povo (referendo) resolveu desligar-se da Ucrânia, declarar-se
Estado independente e se vincular à federação russa. O governo russo apoiou a
decisão, aceitou o ingresso da Criméia na federação e colocou forças armadas à
disposição da província rebelde como garantia contra os golpistas. O governo
americano entendeu ilegítimas a conduta do povo e dos parlamentares da Criméia e
a atitude do governo russo, por violarem a soberania da Ucrânia e o direito
internacional. O presidente Barack Obama recuou do inicial propósito de uma
intervenção armada no quintal da Rússia e propõe outro tipo de represália.
Apelidamos de “quintal” a zona contígua e contínua de influência de um Estado
poderoso e centralizador, e de “satélites” os países nela situados. Os EUA não
admitem interferência no seu quintal, segundo a doutrina do presidente Monroe:
“a América para os americanos”. No entanto, não costumam respeitar o quintal
alheio, salvo quando o quintal é de outra potência como a Rússia ou a China. O
governo americano considera legítimo apenas o que atende aos seus interesses: democracia é coisa interna dos EUA
válida apenas para os países que estiverem de acordo com os propósitos
americanos, caso contrário, valem a ditadura e os golpes de Estado que lhes
forem favoráveis. Acovardada, parcela da comunidade internacional finge que não
percebe a hipocrisia; outra parcela, movida por interesses econômico e
estratégico, apóia o governo dos EUA e se dispõe a excluir a Rússia do grupo
dos grandes países. Os EUA sentem-se no exclusivo “direito” de invadir e
espoliar qualquer região do planeta, mas negam o mesmo “direito” a qualquer
outro país. O governo americano lança bombas atômicas no Japão; invade a
Coréia, o Vietnã, o Afeganistão, o Iraque, praticando atrocidades e genocídio;
patrocina a deposição de governos legítimos na América Latina e os substitui
por ditaduras; sem o devido processo legal, mantém presas em suas bases e sob
tortura pessoas acusadas de terrorismo; menospreza a cultura de outros povos,
principalmente as culturas de fundo religioso como a islâmica, a budista e a hinduísta;
ergue barreiras protecionistas contra produtos estrangeiros e reclama contra
outros países que fazem o mesmo; decreta embargo econômico aos países que ousam
desafia-lo; recusa-se a assinar o protocolo de Kyoto na defesa do seu “direito”
de poluir o planeta, colocando o seu interesse econômico acima de uma saudável
qualidade de vida para a humanidade. Após o final da segunda guerra mundial
(1945), Rússia e EUA disputaram o domínio sobre as diferentes nações do
planeta. A soberania nacional não foi
empecilho para invasões. Após a implosão do império soviético nos anos 80, os
EUA ficaram senhores da situação internacional. O presidente Ronald Reagan
impõe a doutrina da globalização: nova ordem mundial que esvazia o
conceito de soberania nacional. Os EUA, entretanto, continuaram ciosos da sua
soberania, do seu território, do seu patrimônio, do seu modo de vida. Ao
governo americano falta autoridade moral para julgar a ação do governo russo,
do governo chinês ou de qualquer outro governo.
sexta-feira, 21 de março de 2014
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário