segunda-feira, 24 de março de 2014

FUTEBOL



Deselegância injuriosa. O Corinthians sofreu seguidas derrotas e não conseguiu se classificar para a fase seguinte do campeonato paulista. O treinador Mano Meneses culpou o treinador Muricy Ramalho pela desclassificação, acusando-o de entregar a partida ao adversário a fim de prejudicar o Corinthians. No jogo São Paulo x Ituano, pivô do libelo, o clube do interior foi mais feliz ao enfrentar o mau tempo e superar os obstáculos. Portanto, não merece o menosprezo embutido na leviana acusação. O fato de ser do interior paulista não significa inferioridade moral ou técnica. Há que se arredar o preconceito de que clube do interior só vence se houver franquia do clube da capital. Clubes do interior já venceram o campeonato paulista ou obtiveram boas colocações. O Santos FC é um caso peculiar por sua história, seu patrimônio e suas numerosas conquistas (está muito bem no atual campeonato).
Seleção brasileira. Habilidade individual não é exclusiva do americano do sul. Outrora, via-se um Di Stefano aqui, um Puskas ali, um Beckenbauer acolá. Agora, nota-se maior número de jogadores europeus, africanos e asiáticos com habilidade individual acima da média. O Brasil tem tradição: venceu cinco copas mundiais de futebol. Todavia, tradição não vence jogo e sim a equipe que melhor desempenho apresente em campo, seja tradicional, seja adventícia. Na copa de 2006, a seleção brasileira tinha os melhores jogadores do mundo: os dois Ronaldo, Adriano, Robinho, KK, Zé Roberto, Juninho Pernambucano, Roberto Carlos, Cafu. Apesar disto, fracassou. Excesso de confiança, ufanismo e mediocridade da comissão técnica, interesses econômicos dos dirigentes e dos patrocinadores, ambiente carnavalesco na “concentração”, foram os ingredientes do fracasso. Durante a terrena existência das pessoas, das instituições (família, escola, empresa, clube) e das nações, verifica-se alternância entre atividade e inércia, guerra e paz, construção e destruição, progresso e estagnação, saúde e doença, e assim por diante. Na vida do atleta também altos e baixos se alternam. Cada vez fica mais difícil reverter curva descendente para ascendente na medida em que a parte inferior da ampulheta fica mais cheia do que a superior. O fato de atuar numa competição não significa que o atleta esteja pronto para a próxima. Razões físicas, psicológicas, econômicas, no plano individual, familiar ou social, determinam o desempenho. O atleta poderá manter o bom nível, melhorar ou piorar. Damião, Diego, Fred, Ganso, KK, Pato, Robinho e outros, ilustram a passagem de um nível superior a um inferior e a difícil reversão. Daí o equívoco da CBF ao contratar treinador e convocar seleção com muita antecedência (salvo se o objetivo for o de valorizar certos jogadores para fins de negociação, hipótese em que não há equívoco e sim deliberada intenção). A convocação deve ser próxima das disputas oficiais, tempo suficiente para o entrosamento, uma vez que o jogador convocado – seja famoso ou não, tenha ou não tenha fortes patrocinadores – deve estar em plena forma física, técnica e psicológica e ser o melhor no setor que atua. A opinião do público, do praticante do esporte e do cronista esportivo é valiosa por ser independente e livre (quando não entra o “jabá”), porém de eficácia limitada. Só tem plena eficácia a opinião do treinador, do cartola e do patrocinador. Após entendimento nesse núcleo decisório, os atores auferem rendimentos advindos da publicidade, das entrevistas e dos programas de TV. A opinião do público está livre de compromisso com superiores hierárquicos e patrocinadores. Ao público interessa apenas o bom desempenho da equipe que representa o seu país.  
Futebol internacional. Da próxima fase do campeonato europeu (liga dos campeões) participarão três clubes espanhóis, dois clubes alemães, dois clubes ingleses e um clube francês. Isto não significa fragilidade do futebol italiano ou de outro país europeu. O poder econômico daqueles clubes permite a contratação dos melhores jogadores da América, da África, da Ásia e da Europa. A copa do mundo revelará aos olhos do público (e não aos olhos da FIFA exclusivamente) o nível atual do futebol de cada país participante. O público poderá identificar a melhor seleção, o melhor defensor, o melhor armador, o melhor atacante e o melhor goleiro da competição. Aqueles que nos seus respectivos setores exibirem maior domínio dos fundamentos do esporte serão consagrados pelo público.

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