Europa. (Cristianismo. Continuação).
Judas Tadeu (irmão de Jesus e de Tiago)
escreve aos fiéis incentivando-os a pelejarem pela fé. Rememora episódios da
história do povo hebreu: êxodo, Sodoma e Gomorra, discussão entre o arcanjo
Miguel e o demônio pela posse do corpo de Moisés. {Tradição judaica não
documentada refere-se à ascensão celestial de Moisés de corpo e alma. Em torno
disto houve a tal discussão. O arcanjo submeteu o caso a deus. O demônio foi
repreendido}. O NT menciona ascensão celestial de Jesus, tal qual o AT menciona
a de Elias, ecoando a disputa entre judeus e cristãos sobre quem é o maior:
Moisés ou Jesus. O apóstolo Judas Tadeu pede aos crentes que se edifiquem
mutuamente fundados na fé, que orem no espírito santo e se conservem no amor de
deus.
João, em sua primeira epístola, diz que
pretende completar a alegria dos fiéis para que não pequem e para que eles
permaneçam na verdade e na justiça. Diz que os pecados dos fiéis já foram
perdoados em nome de deus e que eles venceram o Maligno. Aconselha-os a
não amar as coisas do mundo. João adverte: quem odeia o seu irmão está nas
trevas; quem anda nas trevas não está em comunhão com deus. O sangue de Jesus
purifica os nossos pecados. Negar que somos pecadores é nos enganarmos. Jesus
expia os pecados do mundo. {Em conseqüência, o holocausto é abolido e se poupa
a vida dos cordeiros}. Quem nega Jesus é anticristo. Há anticristos que saíram
da comunhão {dos santos}. Quem permanece na comunhão tem a unção do espírito
santo. João esclarece: somos filhos de deus por causa do amor de deus por nós.
Pecar é transgredir a lei. Jesus Cristo é o filho de deus que se manifestou
para destruir as obras do demônio. João explica: os crentes devem amar uns aos
outros, mas não com palavras e sim com atos e em verdade. João
garante: ninguém jamais viu deus. {Então, quem disser que viu deus é mentiroso;
ora, Moisés disse que viu deus; logo, Moisés é mentiroso}. João ensina: deus é
luz e amor; nós estamos em deus e deus está em nós pelo vínculo do amor; quem
nasce de deus vence o mundo que jaz sob o Maligno. A segunda epístola de
João é endereçada a uma senhora e a terceira a um homem chamado Gaio.
Paulo, apóstolo tardio, superou os apóstolos
da primeira hora em número de cartas e de viagens. Das epístolas, depreende-se
que Paulo estava ressentido pelo fato de não pertencer ao primeiro e original
colégio apostólico organizado por Jesus. O seu campo de atuação situava-se fora
da Palestina. Ele podia ser preso e condenado por crime de deserção, já que
abandonara as fileiras da força pública judia. Assumiu, então, a tarefa de
converter os pagãos ou os “gregos”, assim genericamente chamados os que eram de
outras terras, raças e crenças. As cartas evidenciaram o intuito de Paulo de
ditar regras de organização da nova seita judia, afirmar a sua autoridade
diante dos fieis e a sua independência em relação ao colégio dos apóstolos.
Esse trabalho contribuiu para transformar a nova seita judia em religião cristã
e fazer dos fiéis uma igreja autônoma. As epístolas aos Hebreus, Timóteo, Tito,
Tessalonicenses, Colossenses e Efésios, não são de autoria de Paulo, embora a
ele atribuídas. Das epístolas que escreveu ou simplesmente ditou, constata-se
que Paulo outorgou a si próprio o título de apóstolo de Cristo (ele
evita citar o Jesus histórico). Afirma, falsamente, ter recebido de deus a
missão evangelizadora e de ter sido nomeado apóstolo diretamente por Cristo.
Após a crucificação de Jesus, competia ao colégio apostólico a escolha dos
novos apóstolos mediante escrutínio. Petulante e afrontoso, Paulo não se
submeteu e afirmou de modo arrogante ter sido indicado por autoridade divina
superior à autoridade do colégio apostólico. Na carta aos gálatas, Paulo se
gaba da sua independência em relação aos apóstolos da primeira hora e da
autoridade que lhe foi outorgada por deus e Cristo.
Na Palestina, os cristãos eram vistos como um
bando de vagabundos, anarquistas, pobres e ignorantes. Intelectual, doutor na
lei, fariseu, Paulo certamente achou um despropósito submeter o seu nome a um
grupo com aquela fama e características, grupo que ele aterrorizara tempos
atrás quando prestava serviço militar ao Sinédrio (conselho judaico). Embora
analfabetos e deficientes em cultura geral, os apóstolos receberam lições de
Jesus durante três anos pelo menos, adquiriram cultura mística e religiosa,
sabedoria advinda tanto da experiência comum como da experiência extática.
Portanto, já não eram mais totalmente ignorantes e nem vagabundos, embora
continuassem pobres. Paulo conta, sem provar, que viajou para a Arábia e ficou
no deserto por 40 dias. Tenta se alçar ao nível do profeta para impressionar o
seu público {Jesus permanecera 40 dias e 40 noites no deserto}. Em Jerusalém,
ele conhece Pedro e Tiago que concordaram em dividir as tarefas. Paulo
anunciaria o evangelho aos povos da Ásia (acabou incluindo cidades da Europa).
Ele volta para Tarso, sua cidade natal; depois de algum tempo, segue para a
igreja de Antioquia a convite de Barnabé. De lá, empreende viagens missionárias
sempre em companhia de um apóstolo (Barnabé) ou de discípulos (Marcos, Silvano,
Timóteo, Lucas). Estas viagens são narradas por Lucas no livro do NT intitulado
“Atos dos Apóstolos”. Quando estava em Éfeso, Paulo escreve às igrejas da
Galácia (uma epístola), de Roma (uma) e de Corinto (duas). Paulo desertara da
corporação policial da Judéia e abandonara a missão, que lhe fora confiada pelo
Sinédrio, de buscar e prender cristãos. Quando voltou a Jerusalém foi preso
como desertor e traidor. Alegando cidadania romana por ter nascido em Tarso,
ele apelou ao imperador. Escoltado por soldados romanos, foi enviado a Cesaréia
e de lá removido para Roma onde ficou preso por dois anos. Desse período são as
cartas aos efésios e colossenses de autoria desconhecida. Depois foram escritas
(não se sabe por quem) as epístolas a Timóteo (bispo de Éfeso), uma para Tito
(bispo de Creta) e outra aos hebreus {especialmente aos judeus, pois os
israelitas estavam dispersos pelo mundo}.
Após obter liberdade em Roma, Paulo visita as
igrejas do oriente. Ao retornar da viagem, foi preso e decapitado no dia em que Pedro foi
crucificado. Os dois foram executados por ordem da autoridade romana. A lei
romana reservava a crucifixão aos estrangeiros (Pedro) e a decapitação aos
cidadãos romanos (Paulo). A prisão e a execução da pena de morte resultaram da
perseguição aos cristãos iniciada após o incêndio da cidade de Roma (ano 64).
Sobre os cristãos pesava a suspeita da autoria da ação incendiária em virtude
da fama de serem cidadãos desleais, perigosos, subversivos e de tentarem
enfraquecer o espírito romano, posto que: (1) não prestavam juramento nos
pretórios romanos; (2) negavam-se a participar da religião cívica; (3)
reuniam-se em segredo; (4) censuravam os ricos; (5) enalteciam a humildade e a
paz. Na carta aos tessalonicenses de duvidosa autoria, consta: (i) a afirmativa
de que o evangelho chegara aos crentes não só por palavras, mas, sobretudo,
pelo espírito santo {coloca em segundo plano as palavras ditas por Jesus}; (ii)
elogio aos que abandonaram os ídolos; (iii) menção às dificuldades e
sofrimentos de Paulo por anunciar o evangelho; (iv) a defesa de Paulo relativa
às acusações de usar linguagem bajuladora, de ter intuitos gananciosos e de
exigir contribuição financeira dos crentes para a sua glorificação pessoal; (v)
graças pela compreensão recebida dos tessalonicenses e por sofrerem as mesmas
dores do que Paulo; (vi) lamento pelo fato de os judeus, não contentes em matar Jesus e os
profetas, ainda perseguirem os apóstolos e os impedirem de falar aos gentios
(pagãos, “gregos”, estrangeiros); (vii) que a mulher deve ser tomada por
esposa, não pela lascívia e sim em santificação e honra; (viii) que a morte é
como o sono, do qual os fiéis serão despertados por deus; vivos e mortos serão
arrebatados entre nuvens ao encontro do Senhor nos ares {nas suas viagens espaciais
os homens não encontraram anjos nem “senhor” algum}.
Paulo
exorta os crentes à mútua consolação e a se manterem vigilantes, pois repentina
será a vinda do Senhor; os crentes devem admoestar os insubmissos, consolar os
desanimados, amparar os fracos, ser magnânimos com todos, sem retribuir o mal
com o mal, dar graças por tudo, reter o que for bom em todas as coisas. Ele
formula votos para que deus santifique a todos os crentes, que o espírito, a
alma e o corpo de cada um se mantenham íntegros ante a vinda do Cristo {que
acabou não vindo}. Ele fala da vingança de deus em chama de fogo contra quem
desobedece ao evangelho; que deus matará o iníquo com o sopro da sua boca
{Paulo coloca no Pai Celestial, deus de Jesus, a veia homicida, sinistra e
cruel de Javé ou Jeová, deus dos hebreus}. Paulo ordena que as suas epístolas
sejam obedecidas; que o pão seja pago por quem o come; que todos trabalhem para
não ser peso a ninguém: quem não trabalha, não come. Na epístola aos
gálatas, após glorificar a si próprio, intitulando-se apóstolo escolhido
diretamente por Cristo, Paulo alerta-os de que não existem dois evangelhos,
reclama da perda de entusiasmo dos gálatas para com a pessoa dele e se declara
enviado de deus. Paulo rebate os comentários de que a sua pregação era
insuficiente à salvação e que a circuncisão era necessária. Ele se defende da
acusação de oportunista porque mandara seu discípulo Timóteo circuncidar-se
para agradar aos judeus convertidos e depois se colocou contra a circuncisão
para agradar aos pagãos convertidos. Defende a sua autoridade e a sua liderança
ao afirmar que o “seu evangelho” vem de fonte divina e não humana. Paulo
rememora o seu passado farisaico, a sua conversão, a sua independência em
relação ao colégio apostólico e a qualquer apóstolo, as viagens missionárias
por iniciativa própria sem depender da autorização de ninguém. Põe-se no mesmo
nível de Pedro em importância e autoridade: aquele que fez de Pedro o
apóstolo dos circuncisos, fez também de mim o dos pagãos {falseou a verdade
em benefício próprio}. Informa que Pedro, Tiago e João, colunas do templo
cristão, apertaram a mão dele e a de Barnabé em sinal de acordo: aqueles três
cuidariam dos circuncisos e estes dois cuidariam dos pagãos, especialmente dos
pobres. Paulo gaba-se da censura que fez a Pedro durante a assembléia na
presença dos fiéis. Sem modéstia alguma, afirma sua unidade com Jesus: Cristo
vive em mim; censura aqueles que retornaram ao paganismo: só quem tem fé
pode ser filho de Abraão. {O cristão autêntico certamente prefere ser filho
do Pai Celestial de Jesus, do que ser descendente de um proxeneta como Abraão}.
Esta é mais uma das passagens em
que Paulo manifesta o seu judaísmo. Ele coloca o cristianismo
em posição subalterna ao acrescentar: a lei que veio 430 anos depois não
pode anular o testamento feito por deus e a promessa feita a Abraão e à sua
descendência, ou seja: o evangelho de Jesus que veio no ano 30, não pode
anular o Pentateuco escrito por Esdras no ano 430 antes de Cristo. Paulo mente
tal qual Esdras e demais autores bíblicos. Deus não faz testamento, pelo menos
o deus do universo. Só faz testamento quem é mortal e o deus do universo é
imortal. Em sendo onisciente e onipotente, o deus do universo não faz
promessas; constrói e destrói segundo a dinâmica determinada por suas leis
eternas.
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