quarta-feira, 12 de março de 2014

FILOSOFIA X - B



Europa. (Cristianismo. Continuação).
Judas Tadeu (irmão de Jesus e de Tiago) escreve aos fiéis incentivando-os a pelejarem pela fé. Rememora episódios da história do povo hebreu: êxodo, Sodoma e Gomorra, discussão entre o arcanjo Miguel e o demônio pela posse do corpo de Moisés. {Tradição judaica não documentada refere-se à ascensão celestial de Moisés de corpo e alma. Em torno disto houve a tal discussão. O arcanjo submeteu o caso a deus. O demônio foi repreendido}. O NT menciona ascensão celestial de Jesus, tal qual o AT menciona a de Elias, ecoando a disputa entre judeus e cristãos sobre quem é o maior: Moisés ou Jesus. O apóstolo Judas Tadeu pede aos crentes que se edifiquem mutuamente fundados na fé, que orem no espírito santo e se conservem no amor de deus.
João, em sua primeira epístola, diz que pretende completar a alegria dos fiéis para que não pequem e para que eles permaneçam na verdade e na justiça. Diz que os pecados dos fiéis já foram perdoados em nome de deus e que eles venceram o Maligno. Aconselha-os a não amar as coisas do mundo. João adverte: quem odeia o seu irmão está nas trevas; quem anda nas trevas não está em comunhão com deus. O sangue de Jesus purifica os nossos pecados. Negar que somos pecadores é nos enganarmos. Jesus expia os pecados do mundo. {Em conseqüência, o holocausto é abolido e se poupa a vida dos cordeiros}. Quem nega Jesus é anticristo. Há anticristos que saíram da comunhão {dos santos}. Quem permanece na comunhão tem a unção do espírito santo. João esclarece: somos filhos de deus por causa do amor de deus por nós. Pecar é transgredir a lei. Jesus Cristo é o filho de deus que se manifestou para destruir as obras do demônio. João explica: os crentes devem amar uns aos outros, mas não com palavras e sim com atos e em verdade. João garante: ninguém jamais viu deus. {Então, quem disser que viu deus é mentiroso; ora, Moisés disse que viu deus; logo, Moisés é mentiroso}. João ensina: deus é luz e amor; nós estamos em deus e deus está em nós pelo vínculo do amor; quem nasce de deus vence o mundo que jaz sob o Maligno. A segunda epístola de João é endereçada a uma senhora e a terceira a um homem chamado Gaio.
Paulo, apóstolo tardio, superou os apóstolos da primeira hora em número de cartas e de viagens. Das epístolas, depreende-se que Paulo estava ressentido pelo fato de não pertencer ao primeiro e original colégio apostólico organizado por Jesus. O seu campo de atuação situava-se fora da Palestina. Ele podia ser preso e condenado por crime de deserção, já que abandonara as fileiras da força pública judia. Assumiu, então, a tarefa de converter os pagãos ou os “gregos”, assim genericamente chamados os que eram de outras terras, raças e crenças. As cartas evidenciaram o intuito de Paulo de ditar regras de organização da nova seita judia, afirmar a sua autoridade diante dos fieis e a sua independência em relação ao colégio dos apóstolos. Esse trabalho contribuiu para transformar a nova seita judia em religião cristã e fazer dos fiéis uma igreja autônoma. As epístolas aos Hebreus, Timóteo, Tito, Tessalonicenses, Colossenses e Efésios, não são de autoria de Paulo, embora a ele atribuídas. Das epístolas que escreveu ou simplesmente ditou, constata-se que Paulo outorgou a si próprio o título de apóstolo de Cristo (ele evita citar o Jesus histórico). Afirma, falsamente, ter recebido de deus a missão evangelizadora e de ter sido nomeado apóstolo diretamente por Cristo. Após a crucificação de Jesus, competia ao colégio apostólico a escolha dos novos apóstolos mediante escrutínio. Petulante e afrontoso, Paulo não se submeteu e afirmou de modo arrogante ter sido indicado por autoridade divina superior à autoridade do colégio apostólico. Na carta aos gálatas, Paulo se gaba da sua independência em relação aos apóstolos da primeira hora e da autoridade que lhe foi outorgada por deus e Cristo.
Na Palestina, os cristãos eram vistos como um bando de vagabundos, anarquistas, pobres e ignorantes. Intelectual, doutor na lei, fariseu, Paulo certamente achou um despropósito submeter o seu nome a um grupo com aquela fama e características, grupo que ele aterrorizara tempos atrás quando prestava serviço militar ao Sinédrio (conselho judaico). Embora analfabetos e deficientes em cultura geral, os apóstolos receberam lições de Jesus durante três anos pelo menos, adquiriram cultura mística e religiosa, sabedoria advinda tanto da experiência comum como da experiência extática. Portanto, já não eram mais totalmente ignorantes e nem vagabundos, embora continuassem pobres. Paulo conta, sem provar, que viajou para a Arábia e ficou no deserto por 40 dias. Tenta se alçar ao nível do profeta para impressionar o seu público {Jesus permanecera 40 dias e 40 noites no deserto}. Em Jerusalém, ele conhece Pedro e Tiago que concordaram em dividir as tarefas. Paulo anunciaria o evangelho aos povos da Ásia (acabou incluindo cidades da Europa). Ele volta para Tarso, sua cidade natal; depois de algum tempo, segue para a igreja de Antioquia a convite de Barnabé. De lá, empreende viagens missionárias sempre em companhia de um apóstolo (Barnabé) ou de discípulos (Marcos, Silvano, Timóteo, Lucas). Estas viagens são narradas por Lucas no livro do NT intitulado “Atos dos Apóstolos”. Quando estava em Éfeso, Paulo escreve às igrejas da Galácia (uma epístola), de Roma (uma) e de Corinto (duas). Paulo desertara da corporação policial da Judéia e abandonara a missão, que lhe fora confiada pelo Sinédrio, de buscar e prender cristãos. Quando voltou a Jerusalém foi preso como desertor e traidor. Alegando cidadania romana por ter nascido em Tarso, ele apelou ao imperador. Escoltado por soldados romanos, foi enviado a Cesaréia e de lá removido para Roma onde ficou preso por dois anos. Desse período são as cartas aos efésios e colossenses de autoria desconhecida. Depois foram escritas (não se sabe por quem) as epístolas a Timóteo (bispo de Éfeso), uma para Tito (bispo de Creta) e outra aos hebreus {especialmente aos judeus, pois os israelitas estavam dispersos pelo mundo}.
Após obter liberdade em Roma, Paulo visita as igrejas do oriente. Ao retornar da viagem, foi preso e decapitado no dia em que Pedro foi crucificado. Os dois foram executados por ordem da autoridade romana. A lei romana reservava a crucifixão aos estrangeiros (Pedro) e a decapitação aos cidadãos romanos (Paulo). A prisão e a execução da pena de morte resultaram da perseguição aos cristãos iniciada após o incêndio da cidade de Roma (ano 64). Sobre os cristãos pesava a suspeita da autoria da ação incendiária em virtude da fama de serem cidadãos desleais, perigosos, subversivos e de tentarem enfraquecer o espírito romano, posto que: (1) não prestavam juramento nos pretórios romanos; (2) negavam-se a participar da religião cívica; (3) reuniam-se em segredo; (4) censuravam os ricos; (5) enalteciam a humildade e a paz. Na carta aos tessalonicenses de duvidosa autoria, consta: (i) a afirmativa de que o evangelho chegara aos crentes não só por palavras, mas, sobretudo, pelo espírito santo {coloca em segundo plano as palavras ditas por Jesus}; (ii) elogio aos que abandonaram os ídolos; (iii) menção às dificuldades e sofrimentos de Paulo por anunciar o evangelho; (iv) a defesa de Paulo relativa às acusações de usar linguagem bajuladora, de ter intuitos gananciosos e de exigir contribuição financeira dos crentes para a sua glorificação pessoal; (v) graças pela compreensão recebida dos tessalonicenses e por sofrerem as mesmas dores do que Paulo; (vi) lamento pelo fato de os judeus, não contentes em matar Jesus e os profetas, ainda perseguirem os apóstolos e os impedirem de falar aos gentios (pagãos, “gregos”, estrangeiros); (vii) que a mulher deve ser tomada por esposa, não pela lascívia e sim em santificação e honra; (viii) que a morte é como o sono, do qual os fiéis serão despertados por deus; vivos e mortos serão arrebatados entre nuvens ao encontro do Senhor nos ares {nas suas viagens espaciais os homens não encontraram anjos nem “senhor” algum}.
Paulo exorta os crentes à mútua consolação e a se manterem vigilantes, pois repentina será a vinda do Senhor; os crentes devem admoestar os insubmissos, consolar os desanimados, amparar os fracos, ser magnânimos com todos, sem retribuir o mal com o mal, dar graças por tudo, reter o que for bom em todas as coisas. Ele formula votos para que deus santifique a todos os crentes, que o espírito, a alma e o corpo de cada um se mantenham íntegros ante a vinda do Cristo {que acabou não vindo}. Ele fala da vingança de deus em chama de fogo contra quem desobedece ao evangelho; que deus matará o iníquo com o sopro da sua boca {Paulo coloca no Pai Celestial, deus de Jesus, a veia homicida, sinistra e cruel de Javé ou Jeová, deus dos hebreus}. Paulo ordena que as suas epístolas sejam obedecidas; que o pão seja pago por quem o come; que todos trabalhem para não ser peso a ninguém: quem não trabalha, não come. Na epístola aos gálatas, após glorificar a si próprio, intitulando-se apóstolo escolhido diretamente por Cristo, Paulo alerta-os de que não existem dois evangelhos, reclama da perda de entusiasmo dos gálatas para com a pessoa dele e se declara enviado de deus. Paulo rebate os comentários de que a sua pregação era insuficiente à salvação e que a circuncisão era necessária. Ele se defende da acusação de oportunista porque mandara seu discípulo Timóteo circuncidar-se para agradar aos judeus convertidos e depois se colocou contra a circuncisão para agradar aos pagãos convertidos. Defende a sua autoridade e a sua liderança ao afirmar que o “seu evangelho” vem de fonte divina e não humana. Paulo rememora o seu passado farisaico, a sua conversão, a sua independência em relação ao colégio apostólico e a qualquer apóstolo, as viagens missionárias por iniciativa própria sem depender da autorização de ninguém. Põe-se no mesmo nível de Pedro em importância e autoridade: aquele que fez de Pedro o apóstolo dos circuncisos, fez também de mim o dos pagãos {falseou a verdade em benefício próprio}. Informa que Pedro, Tiago e João, colunas do templo cristão, apertaram a mão dele e a de Barnabé em sinal de acordo: aqueles três cuidariam dos circuncisos e estes dois cuidariam dos pagãos, especialmente dos pobres. Paulo gaba-se da censura que fez a Pedro durante a assembléia na presença dos fiéis. Sem modéstia alguma, afirma sua unidade com Jesus: Cristo vive em mim; censura aqueles que retornaram ao paganismo: só quem tem fé pode ser filho de Abraão. {O cristão autêntico certamente prefere ser filho do Pai Celestial de Jesus, do que ser descendente de um proxeneta como Abraão}. Esta é mais uma das passagens em que Paulo manifesta o seu judaísmo. Ele coloca o cristianismo em posição subalterna ao acrescentar: a lei que veio 430 anos depois não pode anular o testamento feito por deus e a promessa feita a Abraão e à sua descendência, ou seja: o evangelho de Jesus que veio no ano 30, não pode anular o Pentateuco escrito por Esdras no ano 430 antes de Cristo. Paulo mente tal qual Esdras e demais autores bíblicos. Deus não faz testamento, pelo menos o deus do universo. Só faz testamento quem é mortal e o deus do universo é imortal. Em sendo onisciente e onipotente, o deus do universo não faz promessas; constrói e destrói segundo a dinâmica determinada por suas leis eternas.

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