Europa. Cristianismo (continuação).
O vocábulo grego evangelho
significa boa nova ou boa
notícia e na linguagem cristã é utilizado nas acepções de: (1) mensagem
transmitida oralmente pelo profeta; (2) livro que a contém; (3) coleção de textos
reunidos em um volume denominado Novo Testamento – NT, sobre a vida e a
doutrina do profeta, a organização inicial e a evolução da igreja cristã. A mensagem leva em si o fundamento
doutrinário de uma nova religião. Há vários livros (rolos de pergaminho ou de
papiro) chamados de evangelhos, que são narrativas de diferentes autores
sobre o mesmo tema: vida e morte do profeta, suas lições, seus milagres, suas andanças na Palestina. O clero cristão organizou o NT como unidade teológica. O trabalho
foi de Jerônimo, no século IV (301
a 400), aprovado pelo Concílio de Trento em 1546, como
versão latina oficial da igreja. Esse trabalho inclui as duas coleções de
livros: a do Antigo Testamento (AT) sobre os hebreus e a do Novo Testamento
(NT) sobre os cristãos. Essa versão recebeu o nome de Vulgata e o
conjunto das duas coleções (AT + NT) recebeu o nome de Bíblia (palavra grega que significa livros).
Jerônimo selecionou e traduziu para o latim algumas
epístolas expedidas em nome dos apóstolos, a narrativa de Lucas sobre as
atividades dos apóstolos, o Apocalipse (livro profético do apóstolo
João) e quatro evangelhos escritos pelos apóstolos João e Mateus e pelos
discípulos Lucas e Marcos. Os evangelhos escritos pelos apóstolos Tiago, Judas
Tadeu, Maria Madalena, Tomé e Felipe foram descartados. Os apóstolos e
discípulos só conheceram Jesus adulto. Nenhum deles testemunhou o nascimento, a
infância e a juventude do profeta. Dos quatro evangelistas selecionados pela
igreja só João e Mateus testemunharam a vida adulta do profeta. Marcos e Lucas não
o conheceram pessoalmente e escreveram por ouvir dizer. Por volta do ano 60, os
ensinamentos atribuídos ao profeta começam a tomar forma escrita. Há
semelhanças e diferenças entre os quatro evangelhos escolhidos pela igreja. No
que tange ao messias, culturas antigas também
mencionam a vinda de salvadores políticos e religiosos. A novidade está na
chegada real de um deles no seio da sociedade palestina. Apenas insignificante
minoria do povo palestino reconheceu Jesus como o messias. A maioria
escarneceu. Incredulidade, agressões, acusações de blasfêmia e de subversão foi
o que o profeta recebeu dos palestinos, conforme os evangelhos.
O primeiro evangelho que
veio à luz foi escrito (ou ditado) por Marcos, discípulo de Pedro e companheiro
de Paulo nas viagens missionárias. O seu livro resultou dos ensinamentos de
Pedro em Roma e do convívio com Paulo e alguns apóstolos. Quiçá, por não ter
conhecido Jesus pessoalmente, Marcos salta os episódios relativos ao
nascimento, infância e juventude do profeta. Começa a narrativa com a pregação
de João Batista, que não presenciou, mas da qual ouviu falar. Do seu evangelho
constam: (1) o batismo de Jesus por João Batista; (2) o recrutamento dos 12
apóstolos que formaram o círculo interno da nova seita (colégio apostólico);
(3) a questão do jejum; (4) o trabalho terapêutico; (5) parábolas; (6) os nomes
dos irmãos {os nomes das irmãs de Jesus foram omitidos, reflexo do lugar
subalterno ocupado pela mulher na Palestina}; (7) o lamento de Jesus por ser
vítima do descrédito: um profeta só é desprezado
na sua pátria, entre os seus parentes e na sua própria casa. {Jesus
intitulava-se profeta. Na família, parece que só os seus irmãos Tiago e Judas
Tadeu nele acreditaram. José, o pai adotivo, certamente dava mais atenção aos
filhos legítimos do que ao bastardo. A mãe, as irmãs e os outros irmãos não lhe
davam a importância da qual ele se achava merecedor}.
Marcos cita a missão dos
apóstolos e coisas que não viu, tais como: o prodígio sobre a tempestade, a
execução de João Batista, a multiplicação dos pães, a caminhada sobre as águas,
as discussões com os fariseus, a transfiguração na presença de Pedro, Tiago e
João. Embora não tenha testemunhado o ministério de Jesus na Judéia, Marcos
narra: a entrada em Jerusalém; o debate em torno da ressurreição e do tributo a
César; a questão do matrimônio; a benção das crianças; as profecias sobre a
morte de Jesus e a destruição do templo; os entraves da riqueza para quem
pretende entrar no reino dos céus: é mais
fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que o rico entrar no reino de
Deus. Jesus considerava amar a deus e ao próximo os maiores mandamentos,
diz Marcos.
Quanto à descendência de
Davi, rei judeu que viveu por volta do ano 1000 (mil) antes de Jesus nascer,
Marcos relata a fala de Jesus sobre o Cristo como se ambos não fossem a mesma
pessoa. Expõe o seguinte argumento: Davi
chamou o Cristo de Senhor, que senta à direita do outro e poderoso Senhor; ora,
o subalterno não pode ser pai do superior; logo, o Cristo não pode ser filho de
Davi. {Evidentemente, o vocábulo cristo
aí utilizado não se refere a Jesus, pessoa que ainda não tinha nascido. Na
mística linguagem, cristo é o nome da
especial condição de uma pessoa que recebeu unção. Cristo significa “ungido”. A unção pode ser recebida por qualquer
pessoa segundo a circunstância, independentemente de tribo, dinastia, raça ou
religião. Ungir é ato humano: aplicar óleo em alguém ou em alguma coisa. Apesar
disto, a expressão é empregada no sentido figurado: pessoa ungida
espiritualmente pela divindade. Subalterno
e superior estão mal empregados naquela frase, pois não é raro o filho
superar o pai em robustez, riqueza, inteligência e cultura. O que fere a lógica
das gerações é o filho ser pai do pai, embora o filho adulto possa prestar
assistência ao pai idoso ou inválido}.
Marcos aborda os episódios
do julgamento, da crucifixão, da ressurreição e das sucessivas aparições de
Jesus a Maria Madalena, a dois discípulos e aos onze apóstolos. Na última
reunião com os apóstolos, Jesus teria anunciado a descida do espírito santo
sobre eles: estes milagres acompanharão
os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas,
manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal;
imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados. {Por medida de
cautela, convém não beber veneno e deixar as serpentes na selva, no Instituto Butantan
ou no Jardim Zoológico}.
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