segunda-feira, 25 de julho de 2011

POESIA

É meio-dia. Eu vejo a igreja aberta. E devo entrar. / Mãe de Nosso Senhor, eu não venho rezar. / Nada tenho a pedir e nada a oferecer. / Venho somente, ó minha mãe, para vos ver. / Ver, chorar de felicidade, não saber mais / do que isto só: que eu sou vosso filho e que aí estais. / Por um momento só quando tudo está quieto. / Meio-dia! / Estar convosco, assim sob este mesmo teto. / Nada dizer, contemplar a vossa imagem, / deixar que o coração cante a própria linguagem, / nada dizer, mas apenas cantar porque a alma está cheia demais, / como o melro que desfia a sua idéia pelo espaço em estrofes casuais. / Porque vós sois tão formosa, porque vós sois a toda imaculada, / a mulher afinal na graça restaurada. / A criatura na sua hora primeira e na sua plenitude final, tal qual saiu das mãos de Deus na manhã do seu esplendor original. / Intacta inefavelmente porque vós sois a mãe de Jesus Cristo, / que é verdade entre vossos braços e a única esperança e o único fruto. / Porque vós sois a mulher, o Éden da antiga ternura olvidada / cujo olhar encontra súbito o coração e faz jorrar as lágrimas acumuladas, / porque me quisestes salvar, porque quisestes salvar a França, porque ela também, como eu, para vós foi uma coisa na lembrança, / porque foi quando tudo ruía que vós quisestes intervir por nós, / porque quem salvou a França ainda uma vez fostes vós, / porque é meio-dia, porque estamos no dia de hoje e estamos sós. / Porque vós aí estais para sempre, simplesmente porque vós sois Maria, / simplesmente porque existis, mais nada. / Mãe de Nosso Senhor, graças vos sejam dadas! (“A Virgem ao Meio-Dia” – Paul Louis Charles Marie Claudel)

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