sábado, 23 de julho de 2011

POESIA

Pobres, / que vos hei de dizer? / Meus livros e meu Deus falaram-me de vós / Saí a vosso encontro para levar-vos meu amparo / mas deparei com vossos torsos curvos / vossos joelhos dobrados / vossos olhares de cães batidos / atentos às minhas mãos. / Que vos hei de dizer? / Há entre nós a vossa mão, pedindo./
Ricos, / que vos hei de dizer? Eu vos amava. / Meus poetas e meus pintores falaram-me de vós. / Saí a vosso encontro para levar-vos os meus cantos / mas vos achei de colarinho duro / duros também e arrogantes / desconfiados de minhas mãos pouco obedientes. / Que vos hei de dizer? / Há entre nós o vazio de vossos olhos. /
Mulheres, / que vos hei de dizer? / Eu vos amava. / Saí a vosso encontro carregado de amor, / mas vos achei com as vossas costureiras / e vos enchendo os lábios de batom. / Vossos olhos não viram minhas mãos, / minhas mãos trêmulas. / Que vos hei de dizer? Há rouge demais entre nós. /
Crianças, / que vos hei de dizer? / Não corri ao vosso encontro, / nenhuma de vós cansou-me os braços e os joelhos, / nenhuma de vós desviou a mão que escrevia / nem jogou tinta no meu papel. / Crianças, criancinhas, / que vos hei de dizer? / Há entre nós todos os beijos que não dei. (“Pobres” – André Spire).

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