quarta-feira, 20 de julho de 2011

FUTEBOL

Em partida semifinal da Copa América a seleção do Uruguai venceu a do Peru no tempo regulamentar por dois gols. Resultado lógico. O potencial uruguaio revelou-se superior ao peruano no decorrer do campeonato, o que se confirmou na partida de ontem (19/07/2011). As duas equipes abandonaram a retranca das partidas anteriores e se dedicaram também ao ataque com maior disposição. O jogo ficou mais vistoso. Forlán, “o melhor jogador da copa mundial de 2010” segundo a fraudulenta eleição da FIFA (garfaram os holandeses Sneijder e Robben) está no jejum de gols nesta copa. Talvez faça algum na partida final. Até o momento, a sua atuação foi apenas razoável. Cresceu um pouco diante da seleção do Peru, adversária mais fraca do que a argentina. Messi, “o melhor jogador do mundo”, segundo a mafiosa organização, também jejuou; nenhum gol marcou durante o tempo regulamentar e a prorrogação das partidas que disputou nesta copa. Atuação muito aquém da fama.

Provavelmente, na partida semifinal de hoje (20/07/2011), as seleções do Paraguai e da Venezuela também abandonarão a retranca das partidas anteriores, figurino do “futebol de resultado” que privilegia o sistema defensivo em detrimento do sistema ofensivo. Agora, certamente, serão mais ofensivas. Na Venezuela, o beisebol ocupa o primeiro lugar na preferência do povo. Isto pode influir na análise do futebol venezuelano. O plano secundário do futebol nesse país não significa inferior qualidade técnica.

Enquanto a análise conservadora valoriza a tradição, a análise progressista valoriza a evolução e se mostra mais adequada ao estágio atual do futebol na América Latina. A tradição congela conceitos e imagens. O futebol da Argentina e do Brasil, por exemplo, que conserva a boa qualidade técnica, vive das glórias do passado, sem atentar para o progresso das demais seleções do continente americano a cada campeonato. A América Latina exporta jogadores para a Europa. O tradicionalista conservador se nega a admitir essa realidade. Em matéria de tradição, as seleções da Argentina e do Uruguai são as mais fortes, pois em 42 edições do campeonato continental americano, cada uma venceu 14, a do Brasil venceu 8 e a da Venezuela nenhuma. No entanto, é a venezuelana que está nas semifinais desta 43ª edição (2011). O seu progresso a cada geração foi menosprezado pelos conservadores tradicionalistas.

O “futebol de resultado” seguido pelas equipes que se classificaram para as partidas semifinais tem suas raízes psicológicas no medo de perder, no receio de fracassar. Do ponto de vista semântico, aquela expressão carece de sentido, tal como se diz chuva molhada. Toda competição esportiva gera um resultado. A vitória, a derrota ou o empate é o resultado possível no jogo de futebol. Certamente, pretende-se significar com tal expressão (“futebol de resultado”) a busca de um resultado favorável, despicienda a atuação com arte, boa técnica, elegância e lealdade. O que importa é vencer, seja de modo bonito ou feio.

Na sua franqueza italiana minha avó materna dizia: “beleza não se põe na mesa”; porém, meu avô, na sua malícia cabocla, acrescentava baixinho: “mas se põe na cama”.

A retranca no futebol segue a conhecida máxima do florentino Nicolau Maquiavel na política: os fins justificam os meios. Vale tudo para o príncipe se manter no poder e realizar os seus projetos. Vale tudo para a equipe chegar à vitória. No entanto, há compatibilidade entre beleza, elegância e eficiência. Quando reunidas, fazem do futebol uma arte. Todo esporte pode ser praticado com arte e refinamento, sem prejuízo da objetividade, no contexto mais amplo do mundo da cultura.

A seleção brasileira atuou artisticamente na sua última participação desta copa. O setor defensivo da seleção brasileira não foi incomodado. Os paraguaios adotaram o figurino do “futebol de resultado” e acossaram o setor ofensivo da seleção brasileira. Eles próprios não se preocuparam em atacar e fazer gols no tempo regulamentar da partida. Escolheram como alvos principais: Maicon, jogador que melhor atuara na partida anterior e Ganso, por suas assistências perigosas (nas poucas vezes que acertava um passe). Pato e Neymar foram alvos de menor atenção. Diante desse esquema, os esforços de Robinho, jogador que melhor atuou nessa partida, resultaram infrutíferos. As finalizações não tiveram êxito. A falta de gols, nesse contexto, não significa má atuação da seleção brasileira. A defesa, a armação e o ataque se comportaram bem. Acontece que a muralha erguida pelos paraguaios estava inexpugnável. Aos brasileiros faltou experiência, paciência e astúcia para assediar esse tipo de muralha.

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