sábado, 9 de julho de 2011

FUTEBOL

Nesta Copa América/2011 de futebol masculino, nota-se um nivelamento das equipes no plano coletivo, até o momento (08/07/2011): Argentina, Brasil, Equador, Paraguai, Uruguai e Venezuela só empataram; Chile e Peru venceram uma partida e empataram em outra; Colômbia ganhou uma partida e empatou outra; Costa Rica perdeu uma partida e venceu outra; Bolívia empatou uma partida e perdeu outra; México perdeu todas.

As finalizações bem sucedidas são poucas. Provavelmente, esta será a copa com menor número de gols. O sistema defensivo das equipes tem se mostrado eficiente. O sistema ofensivo encontra dificuldade para romper os bloqueios. As jogadas ofensivas pelas laterais do campo são pouco utilizadas. Contrariando, às vezes, a orientação do técnico, os jogadores preferem atacar pelo meio, o que facilita a defesa adversária e dificulta as finalizações. O número de gols perdidos nesta copa é incrível. Faltam armadores inteligentes, líderes, com ampla visão de jogo, acerto nos passes longos ou curtos, precisos nos pés do companheiro ou no espaço vazio para proveito oportuno do jogador que vem de trás.

Felizmente para o espetáculo e para o moral dos jogadores, escasseiam as “furadas”. Nota-se geral deficiência na cobrança de faltas, de escanteio e de tiro de meta. Na reposição da bola em jogo pelas laterais do campo, apesar de efetuada com as mãos, os lançadores conseguem cumprir a missão quase impossível de entregá-la ao adversário. O que se vê de passes errados faz duvidar que estejam em campo jogadores profissionais. Há jogadores saindo com a bola dominada do seu campo para o campo do adversário, em bela jogada, para então perdê-la de modo bisonho, por falta de habilidade no passe ou graças à destreza do defensor. Bons e bonitos dribles, mas a maioria sem eficácia; a bola escapa do driblador, para decepção da torcida, principalmente quando se trata de alguma estrela. A caça ao driblador continua. Ao invés de reclamar e espernear, o driblador deve usar inteligência, a exemplo de Marta (jogadora da seleção feminina de futebol): conduzir o caçador para dentro da área e obter o pênalti sem fingimento.

A atuação das seleções da Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai, certamente foi decepcionante apenas para torcidas fanáticas e analistas que se guiam pela paixão. Em ocasiões como esta da Copa América, percebe-se com nitidez a diferença entre o futebol nominal e o futebol real. Os fanáticos e irracionais guiam-se pelo nominal; os moderados e racionais guiam-se pelo real. O futebol nominal é das estrelas incensadas, produto mais da propaganda do que do talento. Nesse âmbito, paixão prevalece sobre razão; análise prende-se mais à tradição e menos à evolução; torcedores e analistas buscam ver no campo o futebol que pulsa nos seus corações e cristalizado na imaginação. No futebol real acontece o contrário: a análise é fria, há mais ponderação do que precipitação; mais verdade do que suposição; mais realidade do que imaginação. Os moderados e racionais assistem aos jogos sem o véu da ilusão e sem as algemas do desejo; torcem pela vitória da sua equipe, mas não se deixam contagiar com a louca ansiedade dos fanáticos.

O realista vê o futebol com seus próprios olhos; o nominalista o vê com olhos alheios. Percebe-se isto nitidamente na escolha do melhor jogador. Os realistas selecionam o melhor jogador pelo efetivo desempenho em campo e não pelo que dita a FIFA ou terceiros interessados; enxergam e consideram os interesses financeiros da instituição e dos seus dirigentes no que tange à compra de votos e ao ingresso de capital oriundo dos patrocinadores. Já os nominalistas navegam nas águas da propaganda e da política da instituição. Exemplo: a copa do mundo revela o melhor jogador do mundo. Na copa de 2010, um holandês revelou-se o melhor com extraordinária atuação. No entanto, a FIFA elegeu um argentino como o melhor do mundo e um uruguaio como o melhor daquela competição, ambos com atuação medíocre. Politicagem fifense. A escolha anual do melhor jogador é uma excrescência fruto dessa politicagem. O melhor do mundo teria de ser escolhido na disputa mundial de seleções, a cada quatro anos. Ver-se-ia a probabilidade de a escolha realista sobrepor-se à nominalista.

O fair-play virou hipocrisia e malandragem. Os jogadores fingem lesão grave para interromper a partida, principalmente quando a sua equipe está vencendo. Ganham tempo e esfriam a reação da equipe adversária. A gentileza de colocar a bola para fora do campo a fim de atender o atleta caído brotou de atitude vista no século passado e convertida em costume. Cuida-se de convenção e não de regra escrita. Durante um jogo no continente europeu, a bola entrou no gol ao ser devolvida em cumprimento a essa convenção. Constrangimento geral. O jogo se reinicia. A equipe beneficiada fica inerte enquanto a equipe prejudicada se movimenta e faz o gol. Restabeleceu-se a vigência da norma consuetudinária. Isto supõe um grau de ética esportiva incomum.

Diante de um quadro de malandragem como se vê atualmente no futebol da América Latina, quem adota conduta ética a esse grau assume o papel de otário. Exemplo: jogadores e técnico da seleção da Venezuela agrediram jogadores da seleção do Brasil alegando descumprimento desse costume. No entanto, quando os brasileiros continuavam o jogo, o venezuelano que estava caído levantou-se fagueiro. Este é um fato recorrente, pelo menos neste rincão do planeta, a exigir nova reflexão sobre a obrigatoriedade de interromper a partida quando um jogador estiver caído. Em se tratando de prática esportiva, o livre arbítrio há de preponderar em face do determinismo. Quem está com a bola é livre para decidir se a coloca fora do campo em atenção ao jogador que está caído, ou se prossegue a jogada. Ninguém está obrigado a ser gentil. Diante da notória malandragem, a gentileza vira burrice. Os jogadores devem prosseguir na jogada e deixar o árbitro decidir sobre a conveniência de interrompê-la. Os técnicos das equipes em confronto devem combinar entre si, antes do início das partidas, que essa questão ficará a cargo do árbitro, caso a caso, sem iniciativa ou interferência dos jogadores. Esse prévio entendimento evitará o deprimente espetáculo das brigas no estádio.

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