terça-feira, 2 de março de 2010

VIDA3

A história do ser humano tem sido a da ação predatória desde os primórdios da sua vida neste planeta. No século XX, a reação encorpa-se. No século XXI, a política de preservação tende a prevalecer. A defesa do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável ganham terreno. A consciência ecológica se expande em nível planetário. Chegou-se a uma concepção holística da vida. Foram percebidos nexos biológicos que unem em rede todas as formas de vida. O conhecimento da interdependência dos seres vivos e das suas relações com o ar, a água e o solo, ultrapassou os muros dos laboratórios, das universidades, das escolas de mistérios e ganhou a praça pública graças à divulgação dos estudos e pesquisas realizados.

A atitude do ser humano civilizado está se encaminhando para uma relação harmônica e racional com a natureza. Instituições civis se organizam em defesa da qualidade de vida no planeta. Esforços internacionais têm sido desenvolvidos para atingir esse objetivo; realizam-se conferências e celebram-se acordos. A resistência de algumas nações, fundada em razões econômicas, retarda a execução desses acordos, como aconteceu com o de Kyoto. Políticas de cunho pacifista têm sido engendradas para suprimir armas nucleares e bacteriológicas e proscrever a sua produção e circulação. Acordos contrários à guerra química e à proliferação das citadas armas atestam o avanço. Organizações civis combatem a caça e a pesca predatórias. Organizações governamentais cogitam medidas preventivas contra colisões de corpos celestes na superfície da Terra cujos efeitos poderiam ser fatais aos seres vivos.

A expansão da consciência humana em nível planetário já faz sentir um efetivo espírito de fraternidade entre os povos. Desde a geração dos anos 60, os jovens parecem ostentar amor à natureza, à vida saudável, à cultura do corpo, ao esporte, à música, à liberdade, ao cosmopolitismo, como se esse amor estivesse gravado no código genético. O misticismo oriental invadiu o Ocidente como refluxo do racionalismo ocidental que invadira o Oriente no século XIX. A invasão mística mais se fortaleceu com a adesão dos Beatles, ícones daquela juventude que iniciou o movimento hippie. Verificou-se a necessidade de duradoura ação solidária a fim de levar a todas as nações os bens da natureza e os bens da civilização. Anuncia-se a almejada concórdia universal.

Do ângulo lógico e psicológico, a vida pode ser vista como fenômeno intelectual, volitivo e emotivo; manifesta-se em moções e emoções geradoras de idéias, desejos e sentimentos; possui faculdades racionais, memória e consciência. A vida racional pode elaborar conceitos radicais de espiritualidade que conduzem ao desprezo do corpo e elaborar conceitos radicais de materialidade que conduzem ao desprezo da alma. Na filosofia, na religião e no misticismo há, nessa matéria, posições extremadas e posições intermediárias ou ecléticas, desde as civilizações antigas até a contemporânea. A reflexão filosófica assenta-se principalmente nos processos racionais, enquanto a religião e o misticismo assentam-se principalmente nos processos irracionais, todos alicerçados na mesma base: a natureza física, emocional e intelectual do ser humano.

A vida é movimento contínuo. Na linha evolutiva, à vida sensitiva seguiu-se a vida intelectiva. A fase posterior da evolução não elimina a anterior. Convivem no tempo e no espaço os vegetais, os animais irracionais e os racionais. Os animais racionais têm vida sensitiva e vida intelectiva, ambas importantes em suas respectivas funções. A vida intelectiva não é a única a produzir conhecimento. A vida sensitiva guarda lições de grande valia à existência do ser humano; através da emoção e da intuição, rompe os grilhões da lógica e adentra o mundo espiritual. A alma personalizada pode sintonizar-se com o mundo espiritual, porém, se nele permanecer, desligar-se-á do corpo e só regressará ao mundo físico mediante reencarnação, conforme crença oriental encampada pelo espiritismo de Alan Kardec.

Há vida interior quando o sujeito relaciona-se consigo mesmo, cogita, trava monólogos, reza, medita, emociona-se, extasia-se. Há vida exterior, quando o sujeito trava diálogos, se relaciona com familiares e outras pessoas na sua comunidade ou fora dela, no seu país ou fora dele, com os mais diversos propósitos (trabalho, lazer, arte, estudo, pesquisa, oração comunal, tratamento de saúde, protesto, eleição, guerra).

No que concerne à vida humana individual, as necessidades do corpo reclamam satisfação. O mundo secular e o mundo espiritual são aspectos distintos de uma única realidade e ambos merecem atenção. Para se harmonizar com o mundo espiritual, desnecessário morrer para o mundo secular, isolar-se em mosteiro ou em cavernas, flagelar o corpo ou definhar em penitências. Basta um lugar tranqüilo no lar, no templo, ao ar livre, na cidade, no campo, na estação espacial, onde seja possível meditar, orar fervorosamente, entrar em comunhão com as hostes cósmicas. A plenitude da vida humana abrange os dois mundos. Para alcançá-la é necessário determinação da vontade; desejo sincero e forte; trabalho manual, técnico ou intelectual regular, lícito, construtivo; dieta saudável, exercícios físicos moderados, disciplina, vigilância e oração.

Chama-se vida, também, ao modo de ser e de estar no mundo. Daí falar-se em vida familial, vida social, vida cultural, vida de artista, vida religiosa, vida monástica, vida mística, vida de asceta e assim por diante. A um ambiente movimentado, diz-se que tem vida. A um ambiente incolor, estagnado, deserto, diz-se que está sem vida. Na terra ou na água onde a vida vegetal ou animal não vinga, diz-se que é um lugar morto ou estéril. Em tal sentido, morte significa ausência de vida. No que tange ao ser humano, considerando a dupla dimensão do mundo, a morte significa passagem de uma dimensão (atual/material) a outra (potencial/espiritual); a alma personalizada passa a viver em outra dimensão; o corpo se desintegra e a energia que o mantinha íntegro volta ao estado imaterial (tu és pó e ao pó retornarás); a respectiva personalidade anímica decalca-se na alma universal (a casa do meu pai tem muitas moradas).

Após uma taça de poesia, o próximo tema será LUZ.
Que a paz e o amor estejam com todos. Assim seja!

Nenhum comentário: