segunda-feira, 8 de março de 2010

LUZ2

Segunda parte.

Além do medo e da pulsão inata ao saber, concorre para a busca de maior luz a aspiração ao poder, ao domínio do outro ou da sociedade. Parcela da humanidade percebeu que o saber pode propiciar poder, fama e riqueza; que o domínio da ciência e da técnica é fundamental na competição entre os povos; que a informação tem valor estratégico e econômico. Emissoras de rádio e televisão, rede de computadores, telefones comuns e celulares, telégrafo, correios aéreos, terrestres e fluviais com veloz capacidade de entrega, levam informações às zonas urbanas e rurais, a regiões próximas e distantes, dentro e fora do território nacional, por todo o orbe. Na voragem da conquista de corações e mentes, as empresas de comunicação social disputam audiência, manipulam notícias, constroem e destroem reputações, sustentam e derrubam regimes políticos.

A mentalidade mercantil no mundo contemporâneo estendeu-se aos mais variados setores da sociedade; sufocou o humanismo no campo da política, da economia, da religião, do trabalho, da educação, da saúde, da moradia, da arte, da ciência, da tecnologia, dos esportes, do meio ambiente. O planeta não se tornou apenas uma aldeia global como dissera, no século XX, o teórico da comunicação, Herbert McLuhan; o planeta se tornou também uma colossal feira livre. Independentemente da distância, compra-se e vende-se instantaneamente, pela rede de computadores, produtos oferecidos em suas páginas; por telefone, produtos anunciados na TV; utilizam-se cartões de crédito e de débito; transações bancárias se concluem por via eletrônica. A moeda ocupa lugar central nas relações entre pessoas e povos. Nos mais diversos assuntos, a moeda se insinua. O poder econômico engolfou o poder político. Governantes e governados se corrompem. A moeda esteriliza a ética. Legisladores buscam inteirar-se das novas situações e demandas junto à comunidade e às corporações, a fim de lhes dar solução normativa. Enquanto não sobrevém legislação específica, magistrados tentam adaptar à ordem jurídica vigente, as relações decorrentes das mudanças na sociedade, submetidas à apreciação judicial no devido processo. Na construção jurisprudencial resultante do esforço hermenêutico, os princípios fundamentais do direito exercem papel relevante.

A trajetória do raio de luz é retilínea, mas se torna curvilínea ao passar por um campo de gravitação. Isto foi observado durante o eclipse do sol, em 1919, e comprovou a teoria de Einstein sobre tal curvatura. A retidão moral também encontra campo de gravitação que desvia o comportamento humano: diante do lucro, cedem os valores éticos e religiosos.

O conhecimento astrofísico, a criação de novas técnicas e equipamentos para perscrutar o universo, os computadores, os satélites artificiais, a navegação espacial, as estações espaciais, ensejaram novos produtos de consumo para a sociedade. A pesquisa do átomo e das suas partículas, a técnica para utilização da energia nuclear, a biologia molecular e celular, tornaram-se elementos do poder militar e econômico. A cibernética contribuiu para a robotização da indústria e avanço da informática, onde a programação (software) e as respectivas máquinas (hardware) são valorizadas comercialmente. Fortunas se acumularam nas mãos de uns poucos detentores desse tipo de conhecimento.

À vetusta anatomia veio agregar-se a melindrosa fisiologia no mundo moderno. Após a descoberta da circulação do sangue, por William Harvey, na Europa do século XVII, e os estudos das funções do organismo humano, a fisiologia se enriqueceu com a bioenergética, a endocrinologia e a neurofisiologia. O calor do corpo humano foi explicado pelo funcionamento dos sistemas respiratório e circulatório. Das secreções glandulares, passou-se ao exame da estrutura e do funcionamento das células e das moléculas. A medicina molecular entra no circuito terapêutico. O genoma foi decifrado. O cérebro humano ficou mais conhecido após o estudo dos neurônios e a localização de áreas específicas para cada sentido, o que ajudou na prevenção e no combate de doenças e gerou nova postura diante das anomalias mentais. A cibernética surge do casamento entre a engenharia de sistemas e a neurofisiologia. O conhecimento das redes neurais aplicado a máquinas e a organizações enseja sistemas de comunicação e a denominada “inteligência artificial”.

Ao ajudar o ser humano a conhecer a si mesmo, a ciência foi além da estrutura e do funcionamento do organismo humano: invadiu a psique – a alma personalizada – a fim de lhe desvendar os mistérios. A psicanálise revolucionou a ciência. O médico austríaco Sigmund Freud, na última década do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, inaugurou essa técnica terapêutica e a divulgou no mundo científico. Na teoria psicanalítica divergem os estudiosos, como soe acontecer no mundo das idéias. Estados de consciência, subconsciência e inconsciência foram identificados. A ciência se debruçou sobre os fatores endógenos e exógenos que determinam a conduta e a visão de mundo da pessoa. Os estudos de Pavlov sobre os reflexos condicionados lançaram luz sobre o comportamento humano. A hipnose auxiliou na investigação dos mecanismos da mente e do poder da sugestão.

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