Terceira parte.
Da combinação do componente sexual com o querer possessivo na relação entre seres humanos pode resultar tragédia. Entram em jogo forças obscuras e devastadoras.
- Se tu não fores minha, não serás de mais ninguém.
- Se não pudermos nos amar, juntos desceremos à sepultura.
A desilusão e a frustração levam à loucura, ao homicídio, ao suicídio. A força afetiva da vida inverte o pólo: de integradora passa a destruidora. O ódio – essa inversão do amor – e a vontade de matar tomam conta do agente. A desesperança ante a frustração desperta a vontade de morrer. O ciúme – esse indesejável companheiro do amor – leva a pessoa ao desespero e à infelicidade. A atração física resiste à disciplina da razão; o apaixonado arrosta todos e arrasta tudo num vendaval: pais, parentes, amigos, autoridades seculares e religiosas, leis morais, jurídicas e canônicas. Shakespeare focalizou bem esse ângulo da paixão no romance Romeu e Julieta.
Natural, o zelo pela pessoa amada. O perigo está no exagero, na imoderação, que torna o zelo doentio, com a pulsão da morte. Para Sigmund Freud, essa pulsão é um conjunto de forças que tende a reconduzir cada ser vivo aos seus estados anteriores até o ponto zero, quando chega ao estado de matéria inanimada. As divindades do amor (Eros) e da morte (Tanatos) integram o processo. A evolução das formas vivas opera-se graças à sexualidade e à morte: criação e extinção incessantes, num movimento perpétuo em que o destino individual de cada ser vivo pouco importa do ponto de vista da evolução das espécies. O indivíduo é importante na transmissão genética, como suporte da mutação a ser transmitida. Sob esse enfoque, o amor funciona como arapuca biológica montada pela natureza.
Laços de família, de amizade, de associação, decorrem da força afetiva da vida. Esposos, pais e filhos se estimam e se mantêm unidos no lar. Vizinhos, colegas de escola e de profissão, professores e alunos, fornecedores e consumidores, governantes e governados, todos atraídos por objetivos comuns, relacionam-se em função dessa lei natural do amor.
Nós nos contemos diante de estranhos, atentamos bem para descobrir o meio favorável de agradá-los e de lhes ser úteis. Com os amigos, porém, excedemo-nos imoderados, descansamos em sua afeição, permitimo-nos caprichos; as paixões exasperam-se indômitas e, assim, magoamos logo aqueles que mais ternamente amamos. (“Máximas” – Goethe).
Ao contemplar as estrelas imaginando um paraíso celeste, um mundo de amor e paz em galáxia distante, o ser humano poderá estar, na verdade, nostálgico do mundo intra-uterino que foi substituído pelo espaço social da família e da comunidade. O túnel ou portal que imagina existir na passagem para outra dimensão pode ser a genética lembrança da travessia do ventre materno para o mundo exterior, registrada no subconsciente. O sonho e o desejo de um mundo melhor certamente têm sua origem na decepção do indivíduo com o mundo em que vive, com o modo pelo qual a humanidade se organizou no planeta e que lhe fecha as portas ao sucesso e à felicidade. Pessoas felizes, de bem com a vida, adaptadas integralmente ao modus vivendi na Terra, satisfeitas com os seus bens e os seus amores, ou com eles envolvidas inteiramente, não contemplam estrelas. A essa contemplação dedicam-se poetas, poetisas, sonhadores; santos, místicos e artistas mais sensíveis falam com as estrelas.
A força afetiva, atrativa e magnética da vida, manifesta-se entre os seres humanos como afinidade, simpatia, amizade, caridade, solidariedade, compaixão, devoção, veneração. A manifestação em tela pode ocorrer na forma de proteção à família, às crianças, aos idosos, aos deficientes físicos e mentais, ao meio ambiente. A afeição recai tanto sobre o poder, a riqueza, a fama, o saber, como também sobre Deus, honradez, bondade, verdade, justiça, modalidade afetiva unilateral e incondicional que não exige reciprocidade e lastreia as virtudes.
No século XX, homens e mulheres ocidentais se libertaram de tabus, de regras ditadas pelo preconceito. O relacionamento sexual readquiriu naturalidade; a prática pelo prazer independente da reprodução, sem medo dos anátemas religiosos. A expressão fazer amor entrou no vocabulário popular para significar o atendimento ao apetite carnal sem complicações éticas, jurídicas ou religiosas. As diferentes técnicas de controle da natalidade contribuíram para essa libertação: relacionamento sem o perigo da gravidez. Além disso, o parceiro pode ser do mesmo sexo, como era na Grécia e Roma antigas. Grupos religiosos judeus, cristãos, muçulmanos, não toleram essa liberação dos costumes.
No mútuo relacionamento, há homens e mulheres que exigem uma dose de ternura e de branda atenção além do prazer físico. Até os profissionais da prática sexual se recusam a manter relações com pessoas violentas, agressivas, salvo quando se trata de perversão combinada. Ciúme e violência assombram o amor entre seres humanos. Em tempo de guerra, desde eras prístinas até o presente século, os invasores forçam relações sexuais com mulheres da cidade conquistada. Longe de casa, o guerreiro busca satisfazer o apetite sexual contra a vontade da mulher que encontra no caminho. Em tempo de paz, homem e mulher se satisfazem com parceiro da sua escolha, num relacionamento de mútuo consenso. O encanto pessoal, a alegria, a cortesia, estão entre os fatores atraentes e sedutores.
Em tempo de paz também há casos sem consentimento: mediante violência ou grave ameaça, o agente constrange mulher à conjunção carnal ou a com ele praticar atos libidinosos. O homem assediar a mulher e vice-versa decorre do magnetismo gerado pelo princípio vital e faz parte da sedução. O assédio adentra o terreno da ilicitude quando o agente insiste na perseguição apesar de o paciente resistir e se mostrar importunado ou constrangido. Há casos de consentimento viciado, como acontece com as crianças quando adultos delas se servem para satisfazer seus instintos. Na primeira década do século XXI tornaram-se públicos inúmeros casos de pedofilia praticada por sacerdotes da igreja católica na América e na Europa.
Da combinação do componente sexual com o querer possessivo na relação entre seres humanos pode resultar tragédia. Entram em jogo forças obscuras e devastadoras.
- Se tu não fores minha, não serás de mais ninguém.
- Se não pudermos nos amar, juntos desceremos à sepultura.
A desilusão e a frustração levam à loucura, ao homicídio, ao suicídio. A força afetiva da vida inverte o pólo: de integradora passa a destruidora. O ódio – essa inversão do amor – e a vontade de matar tomam conta do agente. A desesperança ante a frustração desperta a vontade de morrer. O ciúme – esse indesejável companheiro do amor – leva a pessoa ao desespero e à infelicidade. A atração física resiste à disciplina da razão; o apaixonado arrosta todos e arrasta tudo num vendaval: pais, parentes, amigos, autoridades seculares e religiosas, leis morais, jurídicas e canônicas. Shakespeare focalizou bem esse ângulo da paixão no romance Romeu e Julieta.
Natural, o zelo pela pessoa amada. O perigo está no exagero, na imoderação, que torna o zelo doentio, com a pulsão da morte. Para Sigmund Freud, essa pulsão é um conjunto de forças que tende a reconduzir cada ser vivo aos seus estados anteriores até o ponto zero, quando chega ao estado de matéria inanimada. As divindades do amor (Eros) e da morte (Tanatos) integram o processo. A evolução das formas vivas opera-se graças à sexualidade e à morte: criação e extinção incessantes, num movimento perpétuo em que o destino individual de cada ser vivo pouco importa do ponto de vista da evolução das espécies. O indivíduo é importante na transmissão genética, como suporte da mutação a ser transmitida. Sob esse enfoque, o amor funciona como arapuca biológica montada pela natureza.
Laços de família, de amizade, de associação, decorrem da força afetiva da vida. Esposos, pais e filhos se estimam e se mantêm unidos no lar. Vizinhos, colegas de escola e de profissão, professores e alunos, fornecedores e consumidores, governantes e governados, todos atraídos por objetivos comuns, relacionam-se em função dessa lei natural do amor.
Nós nos contemos diante de estranhos, atentamos bem para descobrir o meio favorável de agradá-los e de lhes ser úteis. Com os amigos, porém, excedemo-nos imoderados, descansamos em sua afeição, permitimo-nos caprichos; as paixões exasperam-se indômitas e, assim, magoamos logo aqueles que mais ternamente amamos. (“Máximas” – Goethe).
Ao contemplar as estrelas imaginando um paraíso celeste, um mundo de amor e paz em galáxia distante, o ser humano poderá estar, na verdade, nostálgico do mundo intra-uterino que foi substituído pelo espaço social da família e da comunidade. O túnel ou portal que imagina existir na passagem para outra dimensão pode ser a genética lembrança da travessia do ventre materno para o mundo exterior, registrada no subconsciente. O sonho e o desejo de um mundo melhor certamente têm sua origem na decepção do indivíduo com o mundo em que vive, com o modo pelo qual a humanidade se organizou no planeta e que lhe fecha as portas ao sucesso e à felicidade. Pessoas felizes, de bem com a vida, adaptadas integralmente ao modus vivendi na Terra, satisfeitas com os seus bens e os seus amores, ou com eles envolvidas inteiramente, não contemplam estrelas. A essa contemplação dedicam-se poetas, poetisas, sonhadores; santos, místicos e artistas mais sensíveis falam com as estrelas.
A força afetiva, atrativa e magnética da vida, manifesta-se entre os seres humanos como afinidade, simpatia, amizade, caridade, solidariedade, compaixão, devoção, veneração. A manifestação em tela pode ocorrer na forma de proteção à família, às crianças, aos idosos, aos deficientes físicos e mentais, ao meio ambiente. A afeição recai tanto sobre o poder, a riqueza, a fama, o saber, como também sobre Deus, honradez, bondade, verdade, justiça, modalidade afetiva unilateral e incondicional que não exige reciprocidade e lastreia as virtudes.
No século XX, homens e mulheres ocidentais se libertaram de tabus, de regras ditadas pelo preconceito. O relacionamento sexual readquiriu naturalidade; a prática pelo prazer independente da reprodução, sem medo dos anátemas religiosos. A expressão fazer amor entrou no vocabulário popular para significar o atendimento ao apetite carnal sem complicações éticas, jurídicas ou religiosas. As diferentes técnicas de controle da natalidade contribuíram para essa libertação: relacionamento sem o perigo da gravidez. Além disso, o parceiro pode ser do mesmo sexo, como era na Grécia e Roma antigas. Grupos religiosos judeus, cristãos, muçulmanos, não toleram essa liberação dos costumes.
No mútuo relacionamento, há homens e mulheres que exigem uma dose de ternura e de branda atenção além do prazer físico. Até os profissionais da prática sexual se recusam a manter relações com pessoas violentas, agressivas, salvo quando se trata de perversão combinada. Ciúme e violência assombram o amor entre seres humanos. Em tempo de guerra, desde eras prístinas até o presente século, os invasores forçam relações sexuais com mulheres da cidade conquistada. Longe de casa, o guerreiro busca satisfazer o apetite sexual contra a vontade da mulher que encontra no caminho. Em tempo de paz, homem e mulher se satisfazem com parceiro da sua escolha, num relacionamento de mútuo consenso. O encanto pessoal, a alegria, a cortesia, estão entre os fatores atraentes e sedutores.
Em tempo de paz também há casos sem consentimento: mediante violência ou grave ameaça, o agente constrange mulher à conjunção carnal ou a com ele praticar atos libidinosos. O homem assediar a mulher e vice-versa decorre do magnetismo gerado pelo princípio vital e faz parte da sedução. O assédio adentra o terreno da ilicitude quando o agente insiste na perseguição apesar de o paciente resistir e se mostrar importunado ou constrangido. Há casos de consentimento viciado, como acontece com as crianças quando adultos delas se servem para satisfazer seus instintos. Na primeira década do século XXI tornaram-se públicos inúmeros casos de pedofilia praticada por sacerdotes da igreja católica na América e na Europa.
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