Na civilização ocidental, a liberdade humana ganhou notável amplitude após a revolução
francesa. Em época alguma e em lugar algum houve liberdade total ou, em outras palavras, jamais houve completa
ausência de limites, freios e grilhões. A liberdade humana sempre foi parcial, limitada por leis da natureza e por padrões
culturais (costumes, convenções, normas éticas, jurídicas e religiosas). As
determinações sociais são geradas pela interação entre os humanos. Tais
determinações com vestes normativas limitam a conduta humana e condicionam a
vontade e o pensamento. Príncipes da civilização
oriental (faraós, reis) desfrutaram de elevado grau de liberdade (poder
real) enquanto os súditos desfrutavam-na em grau mínimo. Perante a realeza, o
súdito tinha deveres e não direitos. O mesmo aconteceu na civilização ocidental até a Idade Média inclusive. A liberdade dos
reis europeus estava limitada inicialmente pelo poder da igreja católica (poder
secular submetido ao poder clerical). Os monarcas reagiram, conquistaram maior
grau de liberdade e exerceram o poder de modo independente. Na Idade Moderna, os
súditos da Europa continental e da América anglo-saxônica reagem e conquistam,
para si, maior grau de liberdade. Os governantes foram submetidos a regras
constitucionais e legais votadas pelos representantes dos governados. A sede do
poder soberano transferiu-se do governante para o governado. No exercício da
sua liberdade, o povo, através de representantes eleitos, passou a ditar as
regras de organização do Estado também na América portuguesa e espanhola. No
século XX, houve retrocesso em repúblicas européias e americanas. Governantes
ampliaram as suas liberdades (poder político) instaurando regimes autocráticos,
enquanto os governados tiveram as suas liberdades reduzidas.
Nos Estados sob governo religioso, o poder secular se
confunde com o poder clerical em detrimento da liberdade individual. No Estado
muçulmano, por exemplo, impera o princípio religioso denominado Islã, que significa servidão, conceito incompatível com o de liberdade. O Islã informa
as leis, condiciona a ação do legislador e do governo, exige obediência
absoluta às escrituras sagradas. Tanto na Ásia morena como na Ásia amarela,
independente da crença religiosa, o grau de liberdade do governante (poder
estatal) é bem maior do que o grau de liberdade do governado (poder social). A
cultura oriental inclui a tradicional reverência aos governantes. O povo aceita
a supremacia da autoridade em relação à liberdade. Isto facilita a proliferação
de regimes autocráticos (monarquias, oligarquias, ditaduras).
Sob o prisma filosófico, houve grande progresso da civilização
antiga até a clássica civilização grega. A partir da Idade Média, esse
progresso diminuiu enquanto o ritmo do conhecimento científico se acelerou na
Europa. No período medieval europeu, destacou-se o pensamento de Santo
Agostinho e de Tomás de Aquino, adaptação da filosofia grega à doutrina
católica. A Idade Moderna foi de veneração à ciência. A pesquisa científica
trouxe certezas e incertezas. Isto se refletiu na filosofia, ensejando vários núcleos de reflexão (estrutura lógica, fato social, existência humana,
utilidade coletiva) distribuindo-se em correntes do pensamento tais como:
logicismo, psicologismo, sociologismo, existencialismo, pragmatismo.
Sob o prisma da moral, desde a Idade Antiga até a
Idade Contemporânea, não se afigura apropriado falar em progresso, tendo em vista a volatilidade dos valores éticos na
experiência dos povos. Ao direito, quando entendido como o mínimo ético
exigível compulsoriamente, é possível aplicar a idéia de evolução progressista
no curso da história. Verdade, justiça, honestidade, bondade, beleza, são
idéias e sentimentos que povoam a mente e o coração dos homens, porém, a
vivência desses valores foi sempre tortuosa. O modo de hierarquizar os valores
varia conforme a época e as vicissitudes de cada povo. Na civilização
ocidental, a utilidade assumiu a
supremacia na escala dos valores a partir do século XX, inclusive. O útil prevaleceu sobre o veraz, o justo,
o honesto, o bom e o belo. Verdade, justiça, honestidade, bondade e beleza têm
o seu referencial na utilidade. O econômico prevalece sobre o político e o
social. Os princípios morais ganham extrema flexibilidade nos países
capitalistas e socialistas.
Sob o prisma espiritual, a humanidade está na Idade da
Pedra Lascada. O espírito da maioria dos seres humanos ainda vive nas cavernas,
sob o domínio do medo, da ignorância e da superstição. A maioria da população
mundial ainda acredita: (1) em escrituras sagradas ditadas por um deus, ou por
deuses, ou esculpidas na pedra por alguma divindade; (2) em livros
esotéricos de misterioso conteúdo, repletos de símbolos ambivalentes, escritos
por humanos supostamente sábios ou iluminados; (3) em seres diabólicos
sobrenaturais; (4) em seres diáfanos {fantasmas, duendes, anjos}; (5) na
divindade de seres humanos. Essa esmagadora maioria renuncia ao exame crítico e
racional desses textos e discursos enganosos e fraudulentos produzidos por
espertalhões e visionários, reproduzidos de geração em geração por exploradores
da fraqueza humana (sacerdotes, pastores, missionários, rabinos, gurus,
professores).
Orientada por líderes religiosos que sabem como
explora-la, essa maioria separa fé e razão. A bipolaridade da fé (positiva e
negativa) passa despercebida. A fé tem uma função construtiva: (1) ao ativar mecanismos
psicossomáticos restauradores da saúde; (2) ao abrir caminho para a iluminação
espiritual e a paz interior. A fé na medicina científica, na terapia natural,
na cura metafísica, no mundo espiritual, no poder divino, quando intensa e
sincera, aciona os citados mecanismos. A fé, quando cega, mergulha o indivíduo
na crendice e o faz vítima da exploração dos mais espertos. Diante das trevas
da fé cega e da luz da razão, a maioria da população mundial tem escolhido as
trevas. Monoteístas e politeístas se digladiam. Dentro dos templos, os crentes
comportam-se como anjos fiéis. Fora dos templos, agem como demônios nas
relações sociais, econômicas e políticas, internas e externas, na encarniçada
luta por riqueza e domínio.
A consciência ecológica forma um enclave nessa massa
bruta e abre janela para o sol da alma cósmica. Essa abertura foi o primeiro
passo eficaz para a evolução espiritual coletiva e progressiva da humanidade. A
tríade da alma cósmica (vida + luz + amor) começa a ser vivenciada em algum grau de compreensão no seio
dos povos. Na dimensão espiritual, o ser humano principia a sair da caverna e
da idade da pedra ao zelar pela sadia qualidade de vida e por um meio ambiente
ecologicamente equilibrado em nível planetário. Isto congrega os seres humanos
em torno de uma causa comum com nuances de autêntico amor fraterno que pode direcionar
o espírito guerreiro exclusivamente às competições esportivas.
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