EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
Holismo, novidade, mudança, essencialismo,
são tópicos caros à corrente do historicismo
contrária à visão naturalística, afirma Karl Popper. Há elemento comum às
ciências naturais e às ciências sociais quanto aos métodos adotados. Assim
pensa a corrente naturalista do
historicismo. Tal qual a Física, a Sociologia é um ramo do conhecimento que
pretende ser teorético e empírico ao mesmo tempo. Como disciplina teorética, a
Sociologia explica e prevê eventos valendo-se de teorias e leis universais que
procura descobrir. Como disciplina empírica, a Sociologia se baseia na
experiência, nos fatos observáveis. A observação é a base para aceitar ou
rejeitar qualquer teoria proposta. A previsão pode ser profética ou
tecnológica. A primeira (previsão profética) refere-se a um evento futuro e
inevitável. O seu valor prático está em permitir a prevenção, isto é, que
possamos nos preparar para enfrentá-lo. A segunda (previsão tecnológica) é
construtiva, indica o caminho que se nos abre se quisermos alcançar certos
resultados. Este segundo tipo é próprio da engenharia social que pode ser de
ação gradual e holística. A engenharia
social holística tem por fim remodelar toda a sociedade, enquanto a gradual (tecnologia de ação por partes)
projeta a criação e a reforma de instituições sociais de caráter público e
privado. O planejamento holístico carece de base científica.
A concepção historicista de
desenvolvimento social não implica fatalismo. Ideais, sonhos, raciocínios,
desejos, conhecimentos, temores, energia, interesses, constituem forças do
desenvolvimento social que não se aprisionam em planos. O historicista
pode interpretar e favorecer o desenvolvimento social, mas não altera-lo. O
método historicista surge como parte de uma ampla interpretação filosófica do
mundo. A voga do historicismo pode ser vista como puro reflexo da voga
evolucionista. A chamada hipótese evolucionista resulta da explicação de
observações biológicas e paleontológicas fundada no pressuposto de uma
ancestralidade comum de formas relacionadas. Tal hipótese carece do status de lei universal.
Na opinião de Karl, a evolução da
vida na Terra é um processo histórico peculiar, um enunciado histórico singular
e não uma lei universal. A dinâmica
social difere da dinâmica natural.
Os fatos da sociedade humana não giram em órbita, nem se movem progressivamente
em uma trajetória, como se fossem fenômenos da natureza. O tipo de sociedade
que o sociólogo denomina “estática” corresponde justamente ao sistema físico
que o cientista natural denomina “dinâmico”. A hipótese de que existem tendências é um artifício estatístico
útil, mas tendências não são leis e sim coisas radicalmente diversas. O
enunciado da tendência é existencial e não universal. A tendência não deve ser utilizada como base para previsões de
caráter científico.
A tentativa e o erro são
necessários ao avanço científico. Através de ensaios e erros as gerações
passadas chegaram ao conhecimento que transmitiram à geração presente e
modelaram a sociedade. O cientista social encara tais ensaios e erros como seu
método experimental para alicerçar suas teorias. Em época de rápida mudança
social constata-se a caducidade das leis sociais em que nos apoiamos e verifica-se
que elas não tinham o caráter universal que supúnhamos. Verifica-se, também, o
caráter regional das leis sociais quando constatamos que outros povos se guiam
por leis diferentes das nossas. A educação e a propaganda padronizam interesses
e crenças e eliminam diferenças individuais. O progresso da ciência depende da
livre competição de pensamentos e necessita de liberdade política. Sem suprimir
a crítica pública, o governo democrático toma medidas duras e necessárias
diante de males e perigos concretos.
O progresso pode ser desprezível
em conseqüência de um fenômeno natural incontrolável ou de aspectos da natureza
humana como a indolência e o esquecimento. Além de psicológicas, as condições
do progresso científico e industrial também são institucionais e sociais. Ao
tomar consciência de que a pesquisa científica em torno de problemas sociais
exerce influência sobre a vida social, o cientista social fica impossibilitado
de conservar a adequada atitude científica de desinteressada objetividade. O
progresso científico poderá findar se um dia a humanidade mergulhar no
misticismo, na busca do nirvana. O apelo emocionalmente persuasivo para que os
homens se congreguem em torno de um propósito comum implica no apelo para que
opiniões diferentes e opostas sejam abandonadas. Isto pode significar o abandono
do pensamento racional. A liberdade de ser ímpar e diferente dos outros, de
discordar da maioria e seguir o próprio caminho, pode constituir a mola
propulsora da evolução e do progresso.
Theodor Wiesengrund-Adorno (1903 a 1969), graduado em
filosofia pela Universidade de Frankfurt, faz da música e da tecnologia motivo
para reflexão filosófica. Escritor prolífico, Theodor escreveu: “Dialética do
Iluminismo”, “Teoria Estética”, estudos sobre Husserl e sobre Hegel, além de outras
obras. Refugiou-se na Inglaterra para escapar do nazismo e lecionou na
Universidade de Oxford. Mudou-se para os EUA, onde realizou estudo considerado
modelo de sociologia empírica: “A Personalidade Autoritária”. Regressou a
Frankfurt depois de terminada a guerra e reorganizou o Instituto de Pesquisa
Social (1950).
A técnica, diz Theodor, se define
enquanto: (i) qualquer coisa determinada interna e esteticamente; (ii) desenvolvimento
exterior às obras de arte. As técnicas de reprodução sacrificam a distinção
entre o caráter da obra de arte e o caráter do sistema social quando visam à
produção em série e à homogeneização. A técnica é fonte de poder na sociedade.
As circunstâncias que favorecem tal poder são geradas pelos mais fortes economicamente.
A racionalidade da técnica identifica-se com a racionalidade do domínio. Rádio
e cinema não podem ser tomados como arte por serem negócios e seus fins realizados mediante sistemática e programada
exploração de bens considerados culturais caracterizadora de uma indústria cultural.
A expressão indústria cultural substitui a enganadora expressão cultura de massa utilizada pelos donos
dos veículos de comunicação de massa. Essa “cultura” não surge das massas como
fazem acreditar os senhores da comunicação, mas é por eles produzida e adaptada
ao consumo das massas. Em larga medida, tais senhores determinam o próprio
consumo. Ao “criar necessidades” ao consumidor (que deve contentar-se com o que
lhe é oferecido) a indústria cultural
se organiza para que o indivíduo se conforme a condição de objeto. A indústria cultural faz da humanidade a
consumidora dos seus produtos e é portadora da ideologia dominante que outorga
sentido a todo o sistema do mundo industrial. A humanidade tornou-se vítima de
novo engodo: o progresso da dominação
técnica que tolda a consciência individual e impede a formação de
indivíduos independentes, capazes de conscientemente julgar e decidir.
Instaurando o poder da mecanização sobre o homem, a indústria cultural cria condições cada vez mais favoráveis à
implantação do seu comércio fraudulento onde os consumidores são continuamente
enganados em relação ao que lhes é prometido e não cumprido.
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