EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
Jacques Maritain seleciona três
grandes choques intelectuais que abalaram a confiança do homem em si mesmo: (I)
O darwinismo do qual derivou uma ética materialista da luta pela vida.
No entanto, simultânea à evolução biológica, há uma descontinuidade metafísica
entre o universo animal e o universo humano gerada pela presença do espírito no
homem que uma vez reconhecida revela a face moral da humanidade. (II) O marxismo
do qual derivou uma ética materialista
pela submissão das regras e dos procedimentos morais à estrutura econômica da
sociedade. Todavia, se o homem tomar consciência da interdependência dos
valores morais e econômicos, chegará a uma ética
espiritualista. (III) A psicanálise que revelou a forte influência
da libido e do inconsciente no comportamento humano. Com isto, a liberdade cede
lugar ao determinismo da natureza em prejuízo do universo da moralidade.
Todavia, se no universo de instintos, tendências e impulsos inconscientes forem
inseridas a razão e a liberdade, resultará uma ética mais consciente da
situação concreta do homem, uma equilibrada relação entre o consciente e o
inconsciente. Introduzir-se-á outro tipo de inconsciente além do natural, a
saber: o inconsciente espiritual que
é a fonte viva da atividade consciente e das obras da razão.
[O método experimental das
ciências físicas foi aplicado na Psicologia e fatores externos foram
considerados no estudo do psiquismo humano. Com as pesquisas de Pavlov e suas
observações sobre os reflexos condicionados desenvolve-se a psicologia do
comportamento (behaviorismo). A
incursão de Jung na metafísica e no misticismo oriental inaugurou sua
divergência com Freud e gerou a psicologia analítica, a crença no inconsciente
coletivo e na comunicação entre a mente humana e a mente divina].
A condição humana é a do corpo
ligado a uma alma no universo da matéria que faz o homem sonhar com uma idade de ouro. Para os crentes no
primitivo estado de inocência e no pecado original a idade de ouro situa-se no início da história após o que o homem
decaiu por sua própria culpa. Para os que não comungam dessa crença judia e
cristã, a idade de ouro situa-se no
fim da história e o homem a ela chegará por seu libertador esforço graças à
ciência e às mudanças sociais. Segundo a doutrina cristã, a condição humana
será transfigurada de modo sobrenatural após a morte (reencarnação impossível).
A recusa à condição humana situa-se no plano moral e não no plano físico. Tal
recusa pertence ao mundo do sonho, mas o homem nutre-se de sonhos cujas raízes
estão na sua psicologia individual e determinam sua atitude fundamental na
vida.
O desenvolvimento histórico da
filosofia alemã pode ser visto em
etapas. A primeira etapa seria de Kant e Hegel; a segunda, de
Marx e Engels; a terceira, de Nietzsche; a quarta, de Heidegger, Husserl e
Hartmann. A quinta, da Escola de
Frankfurt, nome informalmente atribuído ao círculo formado durante a
República de Weimar (1919/1933) por Max Horkheimer, Theodor Adorno, Herbert
Marcuse, Friedrich Pollock, Eric Fromm, Otto Kirchheimer e Leo Löwenthal. A Escola teve seguidores como Albrecht
Wellimer, Alfred Schmidt, Axel Honneth, Franz Neumann, Jürgen Harbemas e Oskar
Negt.
Max Horkheimer (1895 a 1973), professor
alemão, filósofo, sociólogo, nascido no seio de rica família judia (o pai era
dono de fábrica de tecidos), doutorou-se em Filosofia (1922). Deixou-se
influenciar pelas duas críticas de
Kant e pelo pensamento de Schopenhauer. Juntamente com Marcuse, Adorno e
Friedrich Pollock (sociólogo e economista alemão), Max fundou o Instituto para
Pesquisas Sociais (IPS), anexo à Universidade de Frankfurt, que se dedica à
pesquisa interdisciplinar: filosofia, sociologia, psicologia, política,
economia. Este círculo de estudiosos ficou conhecido como Escola de Frankfurt. O IPS publicava periodicamente a Revista de Pesquisa Social, com textos
dos seus membros e de outros colaboradores. Os componentes do IPS eram
majoritariamente judeus marxistas. Com a queda da República de Weimar e com a
ascensão do III Reich, o governo nazista fechou o IPS. Os seus membros
debandaram para outros países. O IPS mudou-se para Nova Iorque (Universidade de
Colúmbia), sob a direção de Horkheimer e Marcuse. Depois da guerra, o IPS
retornou à Alemanha e retomou suas atividades regularmente até a presente data.
Marcuse permaneceu nos EUA e seu pensamento influiu na formação da mocidade
estudantil e no movimento social de maio de 1968 em França.
As revoluções russa (comunista),
italiana (fascista) e alemã (nazista) mudaram o panorama social e político da
Europa na primeira metade do século XX. Essas revoluções podem ser consideradas
a fronteira entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea na história da
civilização ocidental. O advento da teoria psicanalítica de Freud e o
pragmatismo norte-americano aliados a tais mudanças, levaram os filósofos
marxistas a um exame crítico do qual resultou o afastamento do marxismo
ortodoxo, substituído por um marxismo
ocidental no plano prático e teórico. A Escola
de Frankfurt era receptiva ao pensamento dos filósofos e cientistas
anteriores e posteriores à sua fundação. Daí resultou uma teoria social
interdisciplinar e neomarxista. Esse novo pensamento constitui a Teoria Crítica da Sociedade, conjunto de
idéias baseadas no criticismo de Kant, no socialismo de Marx, na teoria
sociológica de Weber e na teoria psicanalítica de Freud, voltado para a cultura
ocidental contemporânea. O centro da crítica está no poder, nas relações de dominação do modelo liberal e capitalista,
do qual a cultura de massa é uma das
expressões. Por isto mesmo, Adorno afirmou que se trata, na verdade, de uma indústria cultural que mantém os
mecanismos de dominação de uma classe (elite capitalista) sobre outra (massa
trabalhadora). A proposta da Escola é
a de liberar os indivíduos desses mecanismos e devolver-lhes a liberdade em uma
autêntica democracia. A Escola negava
a vocação dos operários para a revolução social.
Max vê a razão instrumental como
criadora de mitos perigosos. Advoga
um marxismo heterodoxo e um humanismo individualista. As categorias do marxismo
não são definitivas e sim indicações para ulteriores investigações cujos
resultados retroagem sobre elas próprias. Ele opõe à teoria tradicional a teoria crítica. No sistema dedutivo de René
Descartes – que integra a teoria tradicional – as proposições de certo campo
devem estar ligadas de tal modo que a maioria delas deriva de poucas. Estas
poucas proposições constituem os princípios
gerais e entre elas e as demais proposições decorrentes não pode haver contradição.
Disto resulta um sistema matemático de signos. Os sistemas assim construídos
(no modelo cartesiano) são operacionais, têm vasta aplicabilidade. Essa teoria
tradicional não se ocupa da gênese social dos problemas que investiga, das
situações reais em que a ciência é usada e do escopo dessa utilização. A razão
abstrata dessa teoria é criadora de mitos em que se assenta o cientificismo.
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