EUROPA (1900 a
2014). Final.
Hannah Arendt preocupa-se com as
raízes e com o significado da existência e da política na sociedade moderna No
livro inacabado “A Vida da Mente”, ela trata do pensar, do querer e do julgar,
à semelhança das três críticas formuladas por Kant (razão pura, razão prática e
juízo). No livro “A Condição Humana”, publicado em 1958, Hannah propõe que se
reconsidere a condição humana tendo em vista os horrores da segunda guerra
mundial. O livro discute a ação e
exclui do foco do debate considerações sobre o pensar humano. O seu tema
central é “o que estamos fazendo” (homo
faber). Analisa a natureza, o mecanismo, a complexidade e o significado da ação. A categoria central do pensar
político é a natalidade e não a mortalidade como quer o pensamento
metafísico e religioso. Todos os aspectos da condição humana relacionam-se com
a política. Com palavras e atos nos inserimos no mundo humano como um segundo
nascimento quando assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento
físico. A Vita Activa inclui três
atividades fundamentais: labor, trabalho e ação. Labor corresponde ao processo biológico do corpo humano. Trabalho é atividade artificial da
existência humana, produção de coisas distintas das coisas da natureza. Ação é a única atividade direta entre
homens sem mediação das coisas.
Maurice Merleau-Ponty (1908 a 1961), francês,
professor, filósofo, lecionou nas universidades de Lyon e Paris, assumiu a
cadeira de filosofia no College de France, serviu como oficial do exército
francês na segunda guerra mundial. Alinhou-se ao marxismo como método
heurístico e não como expressão histórica, como se depreende das suas obras
“Humanismo e Terror” e “Aventuras da Dialética”. Deixou inacabado o livro “O
Visível e o Invisível”. Há uma perspectiva estética no seu pensamento. Adentra
o terreno da psicologia em “Fenomenologia da Percepção”. Põe o problema do
momento que a consciência é integrada ao mundo. Filiou-se à fenomenologia do
filósofo e matemático alemão Edmund Husserl. Segundo Maurice, “a fenomenologia é uma filosofia
transcendental que põe em suspenso, para compreendê-las, as afirmações da
atitude natural”. Partiu do estágio da neurociência do seu tempo, especialmente
do funcionamento do sistema nervoso, para construir uma teoria do conhecimento
fundada na percepção. Salientou o
papel do organismo humano no processo de conhecimento. Aprender a ver as coisas
é adquirir um estilo de visão, enriquecer e reorganizar o esquema corporal.
Na arte, diz Maurice,
experimenta-se a percepção de modo
intenso e vibrante. O mundo sensível é o logos
do mundo estético. Ele toma como exemplo a pintura e cita Cézanne e Matisse. Perceber o que nos cerca está na base do
conhecimento, seguindo-se a atribuição de significado ao que foi captado pelos
sentidos e o estabelecimento das conexões entre objetos. Percepção e sensação se
diferenciam. A primeira é a apreensão de um objeto pela consciência mediante
sensações; está relacionada com a postura corporal. A segunda é uma espécie de
eletricidade, de movimento do corpo, aspecto motriz do organismo. O corpo
humano sintetiza quando: (1) sai de sua dispersão e se ordena; (2) dirige-se
para um termo único do seu movimento; (3) concebe uma única intenção pelo
fenômeno da sinergia. A percepção
emerge no recesso do corpo. A apreensão do significado do objeto se faz pelo
corpo. Da cooperação entre os órgãos sensoriais e a característica motriz dos
músculos decorre a percepção. Há uma
interdependência entre o organismo humano e o meio ambiente. O ser humano é uma
estrutura psicológica e histórica, entrelaçamento do tempo natural, do tempo
afetivo e do tempo histórico.
Gilles Deleuze (1925 a 1995), francês,
professor, formou-se em Filosofia na Sorbonne (Universidade de Paris) e
escreveu alguns textos em
parceria. Ante o agravamento do câncer de pulmão, atirou-se
da janela do seu apartamento em Paris, encontrando a morte nas pedras da rua.
Preferiu a morte à ociosidade forçada por doença incurável e corrosiva. Gilles
estudou as filosofias de Spinoza, Leibniz, Hume, Kant, Nietzsche, Bérgson e
Foucault, além das obras de alguns escritores como Proust e Kafka, a fim de
formar o seu pensamento e alicerçar suas teses. Ele se opõe à psicanálise
freudiana que reduz o desejo ao complexo de Édipo. Enfrentar o caos e sobre ele
traçar plano é o que define o pensamento.
Arte, ciência e filosofia são as
três grandes formas do pensamento e em todas elas há criação, diz Gilles. A
arte é a linguagem que faz entrar as sensações na pedra, na cor, no som, na
palavra. A ciência deve se livrar da sua forma clássica, lógica e
representativa. Nem todo organismo tem cérebro; nem toda vida é orgânica; em
tudo há forças que constituem microcérebros. No seu livro “O que é a
Filosofia?” Gilles diz que a filosofia não consiste em saber. Não é a verdade
que inspira a filosofia e sim categorias como interessante, notável e importante, as quais decidem sobre o seu
sucesso ou o seu fracasso. A Filosofia é devir e não história, coexistência de
planos e não sucessão de sistemas. Filosofia é criação de conceitos. Gilles
ampara-se no cinema para formular os seus conceitos de imagem + movimento e de
imagem + tempo.
Michel Foucault (1926 a 1984) historiador e
filósofo francês que investigou os métodos terapêuticos, questões psicológicas
e o funcionamento da sociedade ocidental moderna. Criticou a propensão ao
sofisma e ao artifício intelectual nos outros filósofos da pós-modernidade
embora ele próprio incidisse ocasionalmente nesses mesmos defeitos. Em suas
obras, o poder político e social é tema recorrente. Na opinião de Foucault,
idéias e práticas sociais têm caráter arbitrário; carecem de fundamento
racional. A linguagem é o instrumento do poder na sociedade. As formas de
pensamento implicam coerção e estão presentes nas relações de poder. Afirmava que
a AIDS era irreal, estratagema do stablishment
para reprimir a sexualidade pelo terror. [Ironicamente, a AIDS o matou]. Sobre
poder e sexualidade ele trata na sua “Historia da Sexualidade” [investigação
certamente provocada por sua homossexualidade e não apenas por influência de
Nietzsche]. Na sua “História da Loucura”, expõe os conceitos de saúde e de
loucura, a combinação de ambos no conceito mais amplo de doença mental e as conseqüências práticas daí decorrentes. No seu
livro “Vigiar e Punir”, analisa a política disciplinar utilizada nas prisões
relacionando-a com os padrões de conduta estudados nas ciências sociais.
[No século XIX, outro Foucault se
destacara em França: Jean Bernard Leon Foucault (1819 a 1868). Este cientista
utilizou um enorme pêndulo para demonstrar a rotação da Terra. A experiência
chamou-se “Pêndulo de Foucault”. O escritor Umberto Eco deu esse título a um
dos seus romances. O cientista formulou noção precisa sobre a velocidade da
luz].
Jürgen Habermas, nascido em 1929,
filósofo, sociólogo e professor da Universidade Johann Wolfang Goethe
(Frankfurt), filiado à teoria crítica desenvolvida pela Escola de Frankfurt. Aborda o contraste entre o real funcionamento
da sociedade e as idéias que sustentam o capitalismo. Diz que o sistema e o mundo da vida convivem na sociedade tendo como mediador o direito;
arrola três tipos de democracia: liberal, republicano e deliberativo. Como
interesses centrais do homem, Jürgen entende: (1) a exploração técnica da
natureza {dominante no sistema capitalista}; (2) as relações recíprocas {a
comunicação entre as pessoas para ser autêntica e efetiva depende da relação de
mútua confiança}; (3) a libertação do domínio de outrem {ação comunicativa, em que o outro é ouvido, oposta à ação estratégica,
lógica da dominação que define o objetivo sem ouvir o outro e que fundamenta a
sociedade capitalista}.
A razão comunicativa (comunicação livre, racional e crítica)
distingue-se da razão instrumental e
da razão iluminista; busca o consenso
mediante o debate ao invés da arbitrariedade e da coerção. O coletivo
prepondera sobre o individual. Legítima é a norma social aceita em determinada
situação ideal, sem constrangimento algum, sujeita apenas à argumentação
racional. Entre dezenas de obras da autoria de Jürgen, estão: “Conhecimento e
Interesse”, “Discurso Filosófico da Modernidade” e “Inclusão do Outro”.
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