segunda-feira, 13 de abril de 2015

FILOSOFIA XV - 41



EUROPA (1900 a 2014). Final.

Hannah Arendt preocupa-se com as raízes e com o significado da existência e da política na sociedade moderna No livro inacabado “A Vida da Mente”, ela trata do pensar, do querer e do julgar, à semelhança das três críticas formuladas por Kant (razão pura, razão prática e juízo). No livro “A Condição Humana”, publicado em 1958, Hannah propõe que se reconsidere a condição humana tendo em vista os horrores da segunda guerra mundial. O livro discute a ação e exclui do foco do debate considerações sobre o pensar humano. O seu tema central é “o que estamos fazendo” (homo faber). Analisa a natureza, o mecanismo, a complexidade e o significado da ação. A categoria central do pensar político é a natalidade e não a mortalidade como quer o pensamento metafísico e religioso. Todos os aspectos da condição humana relacionam-se com a política. Com palavras e atos nos inserimos no mundo humano como um segundo nascimento quando assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento físico. A Vita Activa inclui três atividades fundamentais: labor, trabalho e ação. Labor corresponde ao processo biológico do corpo humano. Trabalho é atividade artificial da existência humana, produção de coisas distintas das coisas da natureza. Ação é a única atividade direta entre homens sem mediação das coisas.

Maurice Merleau-Ponty (1908 a 1961), francês, professor, filósofo, lecionou nas universidades de Lyon e Paris, assumiu a cadeira de filosofia no College de France, serviu como oficial do exército francês na segunda guerra mundial. Alinhou-se ao marxismo como método heurístico e não como expressão histórica, como se depreende das suas obras “Humanismo e Terror” e “Aventuras da Dialética”. Deixou inacabado o livro “O Visível e o Invisível”. Há uma perspectiva estética no seu pensamento. Adentra o terreno da psicologia em “Fenomenologia da Percepção”. Põe o problema do momento que a consciência é integrada ao mundo. Filiou-se à fenomenologia do filósofo e matemático alemão Edmund Husserl. Segundo Maurice, “a fenomenologia é uma filosofia transcendental que põe em suspenso, para compreendê-las, as afirmações da atitude natural”. Partiu do estágio da neurociência do seu tempo, especialmente do funcionamento do sistema nervoso, para construir uma teoria do conhecimento fundada na percepção. Salientou o papel do organismo humano no processo de conhecimento. Aprender a ver as coisas é adquirir um estilo de visão, enriquecer e reorganizar o esquema corporal.
Na arte, diz Maurice, experimenta-se a percepção de modo intenso e vibrante. O mundo sensível é o logos do mundo estético. Ele toma como exemplo a pintura e cita Cézanne e Matisse. Perceber o que nos cerca está na base do conhecimento, seguindo-se a atribuição de significado ao que foi captado pelos sentidos e o estabelecimento das conexões entre objetos. Percepção e sensação se diferenciam. A primeira é a apreensão de um objeto pela consciência mediante sensações; está relacionada com a postura corporal. A segunda é uma espécie de eletricidade, de movimento do corpo, aspecto motriz do organismo. O corpo humano sintetiza quando: (1) sai de sua dispersão e se ordena; (2) dirige-se para um termo único do seu movimento; (3) concebe uma única intenção pelo fenômeno da sinergia. A percepção emerge no recesso do corpo. A apreensão do significado do objeto se faz pelo corpo. Da cooperação entre os órgãos sensoriais e a característica motriz dos músculos decorre a percepção. Há uma interdependência entre o organismo humano e o meio ambiente. O ser humano é uma estrutura psicológica e histórica, entrelaçamento do tempo natural, do tempo afetivo e do tempo histórico. 

Gilles Deleuze (1925 a 1995), francês, professor, formou-se em Filosofia na Sorbonne (Universidade de Paris) e escreveu alguns textos em parceria. Ante o agravamento do câncer de pulmão, atirou-se da janela do seu apartamento em Paris, encontrando a morte nas pedras da rua. Preferiu a morte à ociosidade forçada por doença incurável e corrosiva. Gilles estudou as filosofias de Spinoza, Leibniz, Hume, Kant, Nietzsche, Bérgson e Foucault, além das obras de alguns escritores como Proust e Kafka, a fim de formar o seu pensamento e alicerçar suas teses. Ele se opõe à psicanálise freudiana que reduz o desejo ao complexo de Édipo. Enfrentar o caos e sobre ele traçar plano é o que define o pensamento.
Arte, ciência e filosofia são as três grandes formas do pensamento e em todas elas há criação, diz Gilles. A arte é a linguagem que faz entrar as sensações na pedra, na cor, no som, na palavra. A ciência deve se livrar da sua forma clássica, lógica e representativa. Nem todo organismo tem cérebro; nem toda vida é orgânica; em tudo há forças que constituem microcérebros. No seu livro “O que é a Filosofia?” Gilles diz que a filosofia não consiste em saber. Não é a verdade que inspira a filosofia e sim categorias como interessante, notável e importante, as quais decidem sobre o seu sucesso ou o seu fracasso. A Filosofia é devir e não história, coexistência de planos e não sucessão de sistemas. Filosofia é criação de conceitos. Gilles ampara-se no cinema para formular os seus conceitos de imagem + movimento e de imagem + tempo.

Michel Foucault (1926 a 1984) historiador e filósofo francês que investigou os métodos terapêuticos, questões psicológicas e o funcionamento da sociedade ocidental moderna. Criticou a propensão ao sofisma e ao artifício intelectual nos outros filósofos da pós-modernidade embora ele próprio incidisse ocasionalmente nesses mesmos defeitos. Em suas obras, o poder político e social é tema recorrente. Na opinião de Foucault, idéias e práticas sociais têm caráter arbitrário; carecem de fundamento racional. A linguagem é o instrumento do poder na sociedade. As formas de pensamento implicam coerção e estão presentes nas relações de poder. Afirmava que a AIDS era irreal, estratagema do stablishment para reprimir a sexualidade pelo terror. [Ironicamente, a AIDS o matou]. Sobre poder e sexualidade ele trata na sua “Historia da Sexualidade” [investigação certamente provocada por sua homossexualidade e não apenas por influência de Nietzsche]. Na sua “História da Loucura”, expõe os conceitos de saúde e de loucura, a combinação de ambos no conceito mais amplo de doença mental e as conseqüências práticas daí decorrentes. No seu livro “Vigiar e Punir”, analisa a política disciplinar utilizada nas prisões relacionando-a com os padrões de conduta estudados nas ciências sociais.

[No século XIX, outro Foucault se destacara em França: Jean Bernard Leon Foucault (1819 a 1868). Este cientista utilizou um enorme pêndulo para demonstrar a rotação da Terra. A experiência chamou-se “Pêndulo de Foucault”. O escritor Umberto Eco deu esse título a um dos seus romances. O cientista formulou noção precisa sobre a velocidade da luz].

Jürgen Habermas, nascido em 1929, filósofo, sociólogo e professor da Universidade Johann Wolfang Goethe (Frankfurt), filiado à teoria crítica desenvolvida pela Escola de Frankfurt. Aborda o contraste entre o real funcionamento da sociedade e as idéias que sustentam o capitalismo. Diz que o sistema e o mundo da vida convivem na sociedade tendo como mediador o direito; arrola três tipos de democracia: liberal, republicano e deliberativo. Como interesses centrais do homem, Jürgen entende: (1) a exploração técnica da natureza {dominante no sistema capitalista}; (2) as relações recíprocas {a comunicação entre as pessoas para ser autêntica e efetiva depende da relação de mútua confiança}; (3) a libertação do domínio de outrem {ação comunicativa, em que o outro é ouvido, oposta à ação estratégica, lógica da dominação que define o objetivo sem ouvir o outro e que fundamenta a sociedade capitalista}.
A razão comunicativa (comunicação livre, racional e crítica) distingue-se da razão instrumental e da razão iluminista; busca o consenso mediante o debate ao invés da arbitrariedade e da coerção. O coletivo prepondera sobre o individual. Legítima é a norma social aceita em determinada situação ideal, sem constrangimento algum, sujeita apenas à argumentação racional. Entre dezenas de obras da autoria de Jürgen, estão: “Conhecimento e Interesse”, “Discurso Filosófico da Modernidade” e “Inclusão do Outro”.

Nenhum comentário: