sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 25



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Otto Wagner (1841 a 1918), arquiteto alemão, reagiu aos estilos então vigentes e inaugurou o movimento arquitetônico denominado funcionalismo, que também influiu na teoria social. Segundo o novo princípio, a aparência externa deve refletir o uso e a finalidade do edifício construído. A beleza está na sinceridade, na honesta relação entre o construído e o seu objetivo. A arquitetura deve refletir direta ou simbolicamente a cultura contemporânea. A face decorativa deve refletir o estágio da ciência e da tecnologia. Na opinião de Otto, o homem moderno não acredita nos ideais gregos de harmonia e equilíbrio; tampouco se comove com a piedade e o cavalheirismo medievais. Poder, eficiência, velocidade e conforto, são as metas do homem moderno. A arte deve encampar essas metas. O estilo funcional preponderou no século XX. Edifícios públicos e particulares, hotéis, lojas, casas, foram construídos no estilo funcional com as suas características de simplicidade angular e linhas cubistas na Europa e na América.

Charles Édouard Jeanneret (1887 a 1965), conhecido pelo apelido “Le Corbusier”, arquiteto e urbanista suiço, trabalhou na França, Alemanha, Argélia, Índia e Brasil. Foi um dos subscritores do Manifesto Purista (1919). Expôs a relação entre as formas mecânicas modernas e as técnicas arquitetônicas. Projetou edifícios que se sustentavam sobre pilotis. Divulgou o planejamento urbano. Exerceu influência mundial com seus traços e seus escritos, inclusive sobre arquitetos brasileiros como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.   

Oscar Niemeyer (1907 a 2008), arquiteto brasileiro, com o seu traço curvo, revolucionou a arquitetura. O seu estilo correu o mundo contemporâneo. Sua obra arquitetônica é vasta e se distribui pela África, América, Ásia e Europa. Arquitetura arrojada também se faz hodiernamente em alguns países dos diversos continentes na construção de casas, edifícios, aeroportos, autódromos e estádios desportivos.

A música popular era de domínio público desde os trovadores medievais. Havia composições vulgares, de roda e folclóricas, cantadas e dançadas em família, nas festas populares e nas tavernas. A música popular teve notável impulso no século XX: valsa, rumba, tango, bolero, samba, rock´n roll e os ritmos deles derivados. A diversificação das vias transmissoras contribuiu para a difusão da música popular: rádio, televisão, gravadores, computadores, suportes de reprodução (discos, fitas). Espetáculos com público numeroso em recintos fechados ou em locais abertos são transmitidos pelos canais de televisão para vasta região do planeta. Vários instrumentos de corda, sopro e percussão foram inventados. A força mercadológica da musica popular relegou a música erudita a um público diminuto. Na América dos anos 1950, a banda de Bill Halley e o cantor Elvis Presley lançam o rock´n roll para o mundo, febre daquela geração e das gerações seguintes, cantantes e dançantes. As bandas se multiplicaram. De Liverpool para o mundo, na Europa dos anos 1960, a banda dos Beatles difundiu o yé-yé-yé, modalidade roqueira; executou suas composições musicais e ajudou a propagar o idioma inglês e a cultura inglesa entre a juventude dos outros países. Os seus integrantes foram condecorados pela rainha da Inglaterra. A indústria fonográfica teve enorme crescimento. O público jovem se tornou o principal consumidor dos produtos dessa indústria e das drogas que os acompanham.

Quando uma forma de expressão artística chega ao ápice, os artistas da geração seguinte buscam novas formas, como aconteceu na pintura, na escultura, na arquitetura, na literatura e na música. Na filosofia ocorre o mesmo. Após atingir o auge na Grécia clássica, a filosofia se ramificou e se tornou temática, com ênfase ora na religião, ora na ciência, ora na ética, ora na estética, ora na lógica. Na Idade Contemporânea, as análises lógica, lingüística, psicológica, antropológica, sociológica, ilustram essa fragmentação. Sirvam de exemplos: Alain Touraine e Claude Lèvi-Strauss. O primeiro (Alain) professor na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais escreveu numerosos livros, desde “Production de la Société” (1973) até “La Recherche de Soi” (2000). Em que pese ter se dedicado à Sociologia, Alain se inclui entre os inúmeros pensadores que expuseram suas reflexões filosóficas. O segundo (Claude), lecionou Filosofia em liceus franceses (1930), Sociologia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Paulo (1935) e, depois da guerra, Antropologia no Collège de France. Ingressou na Academia Francesa.

Do ponto de vista etnológico, Claude concebe a cultura como um conjunto de sistemas simbólicos cujo primeiro nível é ocupado pela linguagem e por regras matrimoniais, relações econômicas, arte, ciência e religião. Todos esses sistemas expressam aspectos da realidade física e social, sobretudo as relações que esses dois tipos de realidade mantêm entre si e que os sistemas simbólicos mantêm entre eles. Claude foi um dos líderes do estruturalismo nas ciências sociais. No livro “Antropologia Estrutural” da sua lavra, lê-se: “o objetivo do mito é fornecer um modelo lógico para resolver uma contradição”. No livro “O Pensamento Selvagem” ele expõe a sua visão de mundo ao tomar por tema o pensamento em estado natural e comum a todo o ser humano. Claude traça o paralelo entre o pensamento selvagem e o pensamento cultivado. Razão dialética e razão analítica se implicam. A dialética é a analítica em marcha, passarela que a razão analítica lança sobre um abismo do qual não enxerga a outra borda, mas sabe que ela existe e que se afasta constantemente. O pensamento selvagem é totalizante, lógico e intemporal. A finalidade última das ciências humanas não é a de constituir o homem e sim a de dissolvê-lo. Considerando que natureza e cultura estão integradas de fato, a oposição entre ambas deve-se ao método aplicado no estudo. A explicação científica consiste na substituição da complexidade menos por outra mais inteligível. Superestruturas são atos falhos que tiveram êxito socialmente.

Em “Tristes Trópicos”, estilo literário agradável, Claude narra suas viagens marítimas, a ameaçadora sombra do nazismo até chegar a América, dificuldade de sair da Europa por ser judeu, a sua transição da filosofia para a etnografia, as visitas a diversas regiões do Brasil, às tribos indígenas e à Índia. Ele descreve e confronta paisagens urbanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, o perfil dos habitantes, os costumes, tal como faz com Calcutá e outras cidades indianas. Claude externa opinião pouco lisonjeira sobre a conduta dos alunos paulistas. À sua narrativa não faltam reflexões filosóficas infusas nas observações de cunho científico como esta: “A liberdade não é nem uma invenção jurídica nem um tesouro filosófico, ou propriedade acarinhada de civilizações mais dignas do que outras por terem sabido produzi-la e preserva-la. Resulta, sim, de uma relação objetiva entre o indivíduo e o espaço que ocupa, entre o consumidor e os recursos de que dispõe”. Na opinião dele – de nítida coloração marxista – não são os sistemas políticos que determinam a forma da existência social e sim as formas de existência é que dão um sentido à ideologia que as exprime. Claude advertia sobre o perigo da confusão entre o progresso do conhecimento e a crescente complexidade das construções do espírito. A Filosofia é vista como espécie de contemplação estética da consciência por si própria e não como a serva da Ciência. O marxismo é ciência humana com perspectiva social; a psicanálise, ciência humana com perspectiva individual. Cita o discurso em que o embaixador Luiz de Souza Dantas, em Paris (1934), afirmava não existir índio no Brasil; os portugueses haviam eliminado todos no século XVI. [O embaixador pretendia passar a imagem de um Brasil branco e civilizado]. Claude menciona o compromisso entre os sábios Victor Marguerite, Keyserling, Ladislas Raymond, Romain Rolland e Einstein: quando um deles publicasse um livro, os outros o louvariam como uma das mais altas manifestações do gênio humano.

Nenhum comentário: