quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 15



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

A população européia decresceu com a Peste Negra; depois, cresceu até a primeira guerra mundial; a seguir, decresceu (milhões de mortos na guerra); voltou a crescer até a segunda guerra mundial; depois, decresceu novamente (milhões de mortos na guerra); voltou a crescer ao ponto de reduzir a marcha e apelar para o controle da natalidade. Este controle resultou da iniciativa dos casais que encaram a realidade econômica e adotam novos costumes e nova mentalidade: família minúscula, ser feliz aqui e agora. Influem na gangorra demográfica: períodos de guerra e paz; fluxo de emigrações e imigrações; controle e descontrole da natalidade; maior ou menor efeito das proibições religiosas; maior ou menor expectativa de vida.

A ciência médica passa a considerar o psiquismo e o organismo físico de modo integrado no processo terapêutico ao notar a recíproca influência entre a vida orgânica, a vida social e a vida mental. A técnica psicanalítica participa do processo. Nutricionistas elaboram dietas e orientam a produção de alimentos. O controle de doenças mediante aperfeiçoados e acessíveis recursos da medicina contribuem para maior duração da vida e redução das incertezas sobre a saúde, embora permaneçam incertezas derivadas de epidemias e de moléstias como aids, câncer, diabetes, alcoolismo. A ênfase na higiene contribuiu para melhorar a saúde das pessoas: lavar as mãos, banhar-se e escovar os dentes diariamente, roupas limpas e passadas, dormitórios separados, ventilação, limpeza dos utensílios domésticos, móveis, banheiro e quintal. A ampliação do espaço das moradias populares proporcionou mais conforto a partir da segunda metade do século XX. Água represada e tratada chega ao interior das residências através de encanamento. Rede de esgoto permite que as necessidades fisiológicas sejam atendidas dentro de casa em local reservado e provido de vaso sanitário e descarga. Cogita-se o tratamento e reaproveitamento da água do esgoto e a dessalinização da água do mar para irrigação e consumo humano.

As casas das camadas ricas e remediadas da sociedade estão providas de fogão a gás ou elétrico, geladeira, freezer, máquinas de lavar e secar roupa e louça, telefone, liquidificador, batedeira, aparelhos eletrônicos, além do mobiliário. Jardim na frente, quintal nos fundos, garage e piscina. Casa decente, aquecimento ambiental, ar condicionado, rádio, televisão, computador, bicicleta e automóvel são os itens mais freqüentes aspirados pelas famílias. A leitura de livros, de jornais, de revistas e a freqüência às salas de cinema sofrem a concorrência do noticiário e dos programas das emissoras de televisão e das matérias publicadas na rede de computadores. Os consumidores, por comodismo, fazem compras através dessa rede e recebem a mercadoria em casa. O volume das vendas por esse meio atinge bilhões de dólares.

A urbanização da sociedade européia gerou concentração de famílias nas cidades. Parte da população rural abandonou a atividade agrícola. As casas da camada pobre da sociedade são mais amplas e mais confortáveis do que as casas dos pobres do século anterior e geralmente estão providas de fogão a gás, de geladeira, ferro de passar roupa, aparelho de televisão e mobiliário simples e essencial. O trabalho urbano e mal remunerado realizado em casa no século XIX, deslocou-se para as fábricas, onde os salários eram melhores, havia benefícios sociais e os donos forneciam ferramentas e material. Após 1914, atividade doméstica e atividade profissional têm domicílios distintos. Vida privada e vida pública separam-se.

No século XXI, a atividade profissional ligada à informática e atividades informais, como artesanato e culinária, retornam ao ambiente doméstico. Algumas empresas preferem que o empregado trabalhe em casa. Da parte do prestador de serviço, verifica-se, neste século, mudança de mentalidade em andamento: ser feliz na atividade escolhida, ainda que para isto sua renda venha a ser menor do que a auferida no emprego em grande empresa. A racionalização do espaço do setor produtivo levou à criação de áreas comerciais e de zonas industriais nos territórios municipal e metropolitano. Oportunidade de emprego, conforto e lazer na cidade moderna atrai o pessoal do campo. Incluído no proletariado (operários, comerciários, trabalhadores domésticos), o campônio fica à mercê da burguesia (banqueiros, donos de fábricas, de minas, de companhias de transportes, comerciantes, profissionais liberais).

O trabalhador nacional sofre a concorrência de pessoas vindas de outros países em busca de melhor padrão de vida. A mobilidade de pessoas no continente europeu facilitada pela diversidade e quantidade dos meios de transporte aumenta a população do país que recebe o contingente de imigrantes e diminui a população do país remetente. Portugueses, gregos, turcos, africanos morenos e negros, asiáticos morenos e amarelos, saem dos seus países e aportam na Alemanha, na França, na Inglaterra. Normalmente, a primeira geração de imigrantes, ainda apegada aos costumes e tradições de sua terra de origem, tem dificuldade de se adaptar à cultura do país receptor. Os seus descendentes assimilam-na com mais facilidade, embora mantenham a cultura dos ascendentes parcialmente (religião, folclore e alguns hábitos alimentares numa dieta mista de carne, arroz, massa, batata, legume, verdura, fruta, chá, café, suco, refrigerante, cerveja, vinho). Ocorre intercâmbio cultural no seio da sociedade receptora.

A emigração e a imigração têm provocado, na Idade Contemporânea, sérios problemas aos países europeus receptores de indivíduos e famílias oriundos principalmente da África e da Ásia. O alto grau de desenvolvimento econômico de uma região atrai pessoas de países menos desenvolvidos. Isto gera problema de moradia, abastecimento, emprego e distúrbios internos como tem acontecido na França, Inglaterra e Alemanha. Em defesa do país receptor da imigração, invoca-se preceito da encíclica Rerum Novarum, do papa Leão XIII: “Ninguém é obrigado, em absoluto, a socorrer o próximo tirando o que é necessário a si ou à sua família, nem reduzindo nada do que a conveniência ou o bem-estar impõe à sua pessoa”.

A xenofobia intensificou-se nesses países hospedeiros. As vestes das muçulmanas (véu, burka), por exemplo, provocaram reações xenófobas, ainda que essas mulheres, jovens e adultas, fossem cidadãs nascidas na Europa. Adeptos da religião islâmica são, de maneira equivocada e preconceituosa, associados ao terrorismo. Cidadãos europeus descendentes da primeira leva de imigrantes saíram pelas ruas em diversas ocasiões causando danos ao patrimônio público e particular como forma de protesto contra a discriminação que sofrem. Eles queriam ser reconhecidos como cidadãos de primeira categoria, obter empregos que rendessem bons salários, viver urbanamente fora de guetos e exercer os direitos humanos declarados no ordenamento jurídico. Houve mortos e feridos nas manifestações e nos confrontos com a força policial.

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