EUROPA (1900 a 2014). Continuação.
A população européia decresceu
com a Peste Negra; depois, cresceu até a primeira guerra mundial; a seguir,
decresceu (milhões de mortos na guerra); voltou a crescer até a segunda guerra
mundial; depois, decresceu novamente (milhões de mortos na guerra); voltou a
crescer ao ponto de reduzir a marcha e apelar para o controle da natalidade.
Este controle resultou da iniciativa dos casais que encaram a realidade
econômica e adotam novos costumes e nova mentalidade: família minúscula, ser feliz
aqui e agora. Influem na gangorra demográfica: períodos de guerra e paz;
fluxo de emigrações e imigrações; controle e descontrole da natalidade; maior
ou menor efeito das proibições religiosas; maior ou menor expectativa de vida.
A ciência médica passa a
considerar o psiquismo e o organismo físico de modo integrado no processo
terapêutico ao notar a recíproca influência entre a vida orgânica, a vida
social e a vida mental. A técnica psicanalítica participa do processo.
Nutricionistas elaboram dietas e orientam a produção de alimentos. O controle
de doenças mediante aperfeiçoados e acessíveis recursos da medicina contribuem
para maior duração da vida e redução das incertezas sobre a saúde, embora permaneçam
incertezas derivadas de epidemias e de moléstias como aids, câncer, diabetes,
alcoolismo. A ênfase na higiene contribuiu para melhorar a saúde das pessoas:
lavar as mãos, banhar-se e escovar os dentes diariamente, roupas limpas e
passadas, dormitórios separados, ventilação, limpeza dos utensílios domésticos,
móveis, banheiro e quintal. A ampliação do espaço das moradias populares
proporcionou mais conforto a partir da segunda metade do século XX. Água
represada e tratada chega ao interior das residências através de encanamento. Rede
de esgoto permite que as necessidades fisiológicas sejam atendidas dentro de
casa em local reservado e provido de vaso sanitário e descarga. Cogita-se o
tratamento e reaproveitamento da água do esgoto e a dessalinização da água do
mar para irrigação e consumo humano.
As casas das camadas ricas e
remediadas da sociedade estão providas de fogão a gás ou elétrico, geladeira,
freezer, máquinas de lavar e secar roupa e louça, telefone, liquidificador,
batedeira, aparelhos eletrônicos, além do mobiliário. Jardim na frente, quintal
nos fundos, garage e piscina. Casa decente, aquecimento ambiental, ar
condicionado, rádio, televisão, computador, bicicleta e automóvel são os itens
mais freqüentes aspirados pelas famílias. A leitura de livros, de jornais, de
revistas e a freqüência às salas de cinema sofrem a concorrência do noticiário
e dos programas das emissoras de televisão e das matérias publicadas na rede de
computadores. Os consumidores, por comodismo, fazem compras através dessa rede
e recebem a mercadoria em
casa. O volume das vendas por esse meio atinge bilhões de
dólares.
A urbanização da sociedade
européia gerou concentração de famílias nas cidades. Parte da população rural
abandonou a atividade agrícola. As casas da camada pobre da sociedade são mais
amplas e mais confortáveis do que as casas dos pobres do século anterior e
geralmente estão providas de fogão a gás, de geladeira, ferro de passar roupa,
aparelho de televisão e mobiliário simples e essencial. O trabalho urbano e mal
remunerado realizado em casa no século XIX, deslocou-se para as fábricas, onde
os salários eram melhores, havia benefícios sociais e os donos forneciam
ferramentas e material. Após 1914, atividade doméstica e atividade profissional
têm domicílios distintos. Vida privada e vida pública separam-se.
No século XXI, a atividade
profissional ligada à informática e atividades informais, como artesanato e
culinária, retornam ao ambiente doméstico. Algumas empresas preferem que o
empregado trabalhe em casa.
Da parte do prestador de serviço, verifica-se, neste século,
mudança de mentalidade em andamento: ser
feliz na atividade escolhida, ainda que para isto sua renda venha a ser
menor do que a auferida no emprego em grande empresa. A racionalização do
espaço do setor produtivo levou à criação de áreas comerciais e de zonas
industriais nos territórios municipal e metropolitano. Oportunidade de emprego,
conforto e lazer na cidade moderna atrai o pessoal do campo. Incluído no
proletariado (operários, comerciários, trabalhadores domésticos), o campônio
fica à mercê da burguesia (banqueiros, donos de fábricas, de minas, de
companhias de transportes, comerciantes, profissionais liberais).
O trabalhador nacional sofre a
concorrência de pessoas vindas de outros países em busca de melhor padrão de vida.
A mobilidade de pessoas no continente europeu facilitada pela diversidade e
quantidade dos meios de transporte aumenta a população do país que recebe o
contingente de imigrantes e diminui a população do país remetente. Portugueses,
gregos, turcos, africanos morenos e negros, asiáticos morenos e amarelos, saem
dos seus países e aportam na Alemanha, na França, na Inglaterra. Normalmente, a
primeira geração de imigrantes, ainda apegada aos costumes e tradições de sua
terra de origem, tem dificuldade de se adaptar à cultura do país receptor. Os
seus descendentes assimilam-na com mais facilidade, embora mantenham a cultura
dos ascendentes parcialmente (religião, folclore e alguns hábitos alimentares
numa dieta mista de carne, arroz, massa, batata, legume, verdura, fruta, chá,
café, suco, refrigerante, cerveja, vinho). Ocorre intercâmbio cultural no seio
da sociedade receptora.
A emigração e a imigração têm
provocado, na Idade Contemporânea, sérios problemas aos países europeus
receptores de indivíduos e famílias oriundos principalmente da África e da
Ásia. O alto grau de desenvolvimento econômico de uma região atrai pessoas de
países menos desenvolvidos. Isto gera problema de moradia, abastecimento,
emprego e distúrbios internos como tem acontecido na França, Inglaterra e
Alemanha. Em defesa do país receptor da imigração, invoca-se preceito da
encíclica Rerum Novarum, do papa Leão
XIII: “Ninguém é obrigado, em absoluto, a
socorrer o próximo tirando o que é necessário a si ou à sua família, nem
reduzindo nada do que a conveniência ou o bem-estar impõe à sua pessoa”.
A xenofobia intensificou-se nesses países hospedeiros.
As vestes das muçulmanas (véu, burka), por exemplo, provocaram reações
xenófobas, ainda que essas mulheres, jovens e adultas, fossem cidadãs nascidas
na Europa. Adeptos da religião islâmica são, de maneira equivocada e
preconceituosa, associados ao terrorismo. Cidadãos europeus descendentes da
primeira leva de imigrantes saíram pelas ruas em diversas ocasiões causando
danos ao patrimônio público e particular como forma de protesto contra a
discriminação que sofrem. Eles queriam ser reconhecidos como cidadãos de
primeira categoria, obter empregos que rendessem bons salários, viver
urbanamente fora de guetos e exercer os direitos humanos declarados no
ordenamento jurídico. Houve mortos e feridos nas manifestações e nos confrontos
com a força policial.
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