EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
O espírito científico não se
libertou inteiramente do espírito religioso. Esta indevida conexão responde por
equívocos cobertos pela etiqueta da ciência. “No piolho podemos ver o dedo de
deus”, dizia um anatomista do século XVII. Einstein incorreu no mesmo erro no
século XX, ao pretender amoldar a ciência à teologia, porém se penitenciou
quando o corrigiu. O espírito mágico também permanece. O mago opera com aquilo
que está oculto na natureza e o faz visando o bem (magia branca) ou o mal
(magia negra). O cientista traz para a claridade aquilo que está oculto na
natureza. A microfísica implica nova epistemologia: o objeto elementar da
ciência nesta região não é sólido, nem líquido, nem gasoso. A geometria dos
sólidos tem mínima aplicação neste campo. Constatou-se que a matéria é formada
de partículas elétricas que se deformam no movimento. Ao perder ou ganhar
energia, o átomo assume nova forma. Verificou-se a passagem do ter para o ser: a matéria não tem energia; a matéria é energia. Tal
passagem também se verifica no misticismo: deus não tem luz, vida e
amor; deus é luz, vida e amor.
Os historiadores referem-se à revolução tecnológica ocorrida no século
XX: cibernética, telemática, rapidez do transporte humano e de carga (trem
bala, trem de levitação magnética, avião supersônico). O título “revolução”
justifica-se pela repercussão desses avanços nos costumes, nas artes, nas
relações de consumo e por salientar a indiferença da técnica em relação aos
valores morais e religiosos. Por outro ângulo, verifica-se o contínuo
desenvolvimento da técnica na história da humanidade, desde a invenção da roda
até a nave espacial. No mundo moderno, o laboratório distancia-se do atelier e
do escritório. O artista e o filósofo trabalham de modo individual. O trabalho
científico diversifica-se, especializa-se e conta com equipes e não apenas com
a dedicação individual. A especialização ocorre também na indústria, no
comércio, na agricultura, na pecuária e nos serviços em geral.
A desilusão pode motivar a busca
de alternativas. Divorciada da ética, a utilização da ciência e da tecnologia pode
produzir frutos amargos. A filosofia mecânica rompe com o passado e sela a revolução
científica. Segundo essa filosofia, as categorias que explicam os fenômenos
são: a forma, o tamanho, a quantidade, o movimento e o repouso; os corpos são constituídos de átomos ou
corpúsculos invisíveis. Os filósofos mecanicistas também se debruçaram
sobre os processos vitais: os seres vivos
atuam segundo as leis da mecânica. Descartes e Hobbes, por exemplo,
centraram atenção nos fenômenos vitais e no comportamento do animal (racional e
irracional). O sistema cartesiano foi a mais influente e admirável versão da
filosofia mecânica. Os otimistas estavam convictos de que o paraíso chegara ao
nosso mundo. Simultânea à formação do sistema capitalista, a revolução científica e tecnológica foi
sem paralelo no mundo. Isto desafiou a capacidade do homem de se ajustar ao
novo ambiente. A instabilidade gerada pela velocidade das mudanças tornou-se
dramática, influiu nas relações humanas e aguçou contradições. O sentimento de
urgência assedia as novas gerações: a vida é curta; viver intensamente o
presente; felicidade já; o futuro a deus pertence. Casamento de curta duração, instabilidade
no emprego, exigência de resultados imediatos, são efeitos da nova dinâmica
social.
A eletricidade e os derivados do
petróleo tornam-se as principais fontes de energia, deixando em segundo plano o
vapor e as energias nuclear, solar e eólica.
Cresce o automatismo das máquinas. O trabalho se especializa. Surgem
novas profissões. O trabalho científico serve à técnica e ao capital. A
maquinaria automática aumentou a produção de bens e suscitou a idéia de dividir
tarefas em unidades diminutas do processo de fabricação. Inventaram a célula
fotoelétrica. A ciência a serviço da indústria química possibilitou a produção
de artigos sintéticos e farmacológicos. O dispositivo denominado diafragma, ao
evitar a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, previne a gravidez. A mesma
finalidade preventiva tem o invólucro de plástico (Camisa de Vênus) e a
vasectomia. A família se beneficiou com máquinas elétricas, aparelhos
eletrônicos e utensílios de plástico. O conforto em casa e no trabalho externo,
a maior diversidade de remédios, técnicas cirúrgicas aperfeiçoadas e dietas
balanceadas, contribuíram para melhorar a saúde das pessoas e aumentar a
expectativa de vida que, nos dias atuais, está em torno de 80 anos. Os
octogenários são 15% da população européia (2014).
O conceito de família
transforma-se pela prática social. Lar homossexual com filhos adotivos
registrados em nome do casal e do pai biológico. Convívio de famílias
constituídas e providas pela mesma pessoa (poligamia). Sucessão de bens e
direitos contemplando a esposa e a outra companheira do marido. Filho
registrado em nome do pai biológico e do pai adotivo. Nomes da mãe e da
madrasta lançados no registro de nascimento do filho e enteado. Essas mudanças
operam-se no plano dos fatos e acabam protegidas pelo legislador ou pelo juiz, ainda
que desaprovadas pela religião. Os avanços na biologia, principalmente no campo
da genética, exigiram novas leis e um novo direito. Drogas e plantas
alucinógenas circulam pelos continentes e são consumidas pelos jovens. Entre os
países da Europa hodierna, os nórdicos apresentam a melhor distribuição de
renda, bom padrão de vida, menor índice de corrupção e baixa criminalidade
(Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Islândia, Noruega, Suécia).
Em setores da ciência e da
tecnologia há invenções paralelas por diferentes pessoas sem comunicação entre
elas. Isto aconteceu com o avião. A idéia de voar vem de longe. Conta-se que,
na Idade Antiga, Ícaro se equipou com asas coladas ao corpo com cera e se
atirou do alto de um rochedo. O sol derreteu a cera, as asas se despregaram e o
homem voador despencou. O Ícaro da Idade Contemporânea voa de asa delta,
para-pente, wingsuit (macacão com
asa) e base jump (building antena spam
earth) atirando-se de altos
edifícios, antenas, pontes e montanhas. Na Idade Média, Leonardo da Vinci
planejou a máquina voadora. Na Idade Moderna, há notícia de experimentos com
máquinas voadoras mais pesadas do que o ar dos quais não há prova. O brasileiro
Alberto Santos Dumont (1873 a
1932), vivendo na França, sem preocupação financeira, membro de família rica,
idealizou objetos voadores dirigíveis pelo homem. Perante uma comissão do
aeroclube da França, demonstrou a dirigibilidade dos balões ao contornar a
Torre Eiffel, em Paris. A
seguir, naquela mesma cidade, Alberto construiu máquina voadora com motor a
explosão denominada 14-Bis e
empreendeu o primeiro vôo em público e documentado da história da aviação
(1906). Recebeu o Deutsch-Archdeacon Prize como reconhecimento pelo primeiro
vôo motorizado da Europa. Alberto criou o monoplano que pesava 100 kg., com velocidade
máxima de 90 km/h.
Batizou-o de Demoiselle (1907). Alberto
suicidou-se quando estava no Brasil, na praia paulista do Guarujá. O motivo seria
o desgosto de ver a sua invenção utilizada para fins bélicos.
O rádio, como instrumento de comunicação, expandiu-se
a partir de 1920. Na segunda guerra mundial, os ingleses inventaram o radar (rádio detection
and rage). Este aparelho permitia à defesa britânica detectar a
presença dos aviões inimigos quando ainda se encontravam a uma distância de 100 milhas. Com auxílio
desta invenção, os britânicos destruíram mais de uma centena de aeronaves
alemãs. A navegação aérea civil e militar se desenvolveu. Sofisticados,
potentes e velozes aviões transportam passageiros e carga por todos os
continentes. Avançada tecnologia dos aviões de combate e espionagem protege-os
do radar (invisibilidade). Naves espaciais viajam pelo sistema solar. Satélites
artificiais foram criados e lançados ao espaço para monitorar a Terra e
auxiliar na meteorologia, na pesquisa astronômica e nas comunicações.
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