quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 18



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

O espírito científico não se libertou inteiramente do espírito religioso. Esta indevida conexão responde por equívocos cobertos pela etiqueta da ciência. “No piolho podemos ver o dedo de deus”, dizia um anatomista do século XVII. Einstein incorreu no mesmo erro no século XX, ao pretender amoldar a ciência à teologia, porém se penitenciou quando o corrigiu. O espírito mágico também permanece. O mago opera com aquilo que está oculto na natureza e o faz visando o bem (magia branca) ou o mal (magia negra). O cientista traz para a claridade aquilo que está oculto na natureza. A microfísica implica nova epistemologia: o objeto elementar da ciência nesta região não é sólido, nem líquido, nem gasoso. A geometria dos sólidos tem mínima aplicação neste campo. Constatou-se que a matéria é formada de partículas elétricas que se deformam no movimento. Ao perder ou ganhar energia, o átomo assume nova forma. Verificou-se a passagem do ter para o ser: a matéria não tem energia; a matéria é energia. Tal passagem também se verifica no misticismo: deus não tem luz, vida e amor; deus é luz, vida e amor.

Os historiadores referem-se à revolução tecnológica ocorrida no século XX: cibernética, telemática, rapidez do transporte humano e de carga (trem bala, trem de levitação magnética, avião supersônico). O título “revolução” justifica-se pela repercussão desses avanços nos costumes, nas artes, nas relações de consumo e por salientar a indiferença da técnica em relação aos valores morais e religiosos. Por outro ângulo, verifica-se o contínuo desenvolvimento da técnica na história da humanidade, desde a invenção da roda até a nave espacial. No mundo moderno, o laboratório distancia-se do atelier e do escritório. O artista e o filósofo trabalham de modo individual. O trabalho científico diversifica-se, especializa-se e conta com equipes e não apenas com a dedicação individual. A especialização ocorre também na indústria, no comércio, na agricultura, na pecuária e nos serviços em geral.

A desilusão pode motivar a busca de alternativas. Divorciada da ética, a utilização da ciência e da tecnologia pode produzir frutos amargos. A filosofia mecânica rompe com o passado e sela a revolução científica. Segundo essa filosofia, as categorias que explicam os fenômenos são: a forma, o tamanho, a quantidade, o movimento e o repouso; os corpos são constituídos de átomos ou corpúsculos invisíveis. Os filósofos mecanicistas também se debruçaram sobre os processos vitais: os seres vivos atuam segundo as leis da mecânica. Descartes e Hobbes, por exemplo, centraram atenção nos fenômenos vitais e no comportamento do animal (racional e irracional). O sistema cartesiano foi a mais influente e admirável versão da filosofia mecânica. Os otimistas estavam convictos de que o paraíso chegara ao nosso mundo. Simultânea à formação do sistema capitalista, a revolução científica e tecnológica foi sem paralelo no mundo. Isto desafiou a capacidade do homem de se ajustar ao novo ambiente. A instabilidade gerada pela velocidade das mudanças tornou-se dramática, influiu nas relações humanas e aguçou contradições. O sentimento de urgência assedia as novas gerações: a vida é curta; viver intensamente o presente; felicidade já; o futuro a deus pertence. Casamento de curta duração, instabilidade no emprego, exigência de resultados imediatos, são efeitos da nova dinâmica social.  

A eletricidade e os derivados do petróleo tornam-se as principais fontes de energia, deixando em segundo plano o vapor e as energias nuclear, solar e eólica.  Cresce o automatismo das máquinas. O trabalho se especializa. Surgem novas profissões. O trabalho científico serve à técnica e ao capital. A maquinaria automática aumentou a produção de bens e suscitou a idéia de dividir tarefas em unidades diminutas do processo de fabricação. Inventaram a célula fotoelétrica. A ciência a serviço da indústria química possibilitou a produção de artigos sintéticos e farmacológicos. O dispositivo denominado diafragma, ao evitar a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, previne a gravidez. A mesma finalidade preventiva tem o invólucro de plástico (Camisa de Vênus) e a vasectomia. A família se beneficiou com máquinas elétricas, aparelhos eletrônicos e utensílios de plástico. O conforto em casa e no trabalho externo, a maior diversidade de remédios, técnicas cirúrgicas aperfeiçoadas e dietas balanceadas, contribuíram para melhorar a saúde das pessoas e aumentar a expectativa de vida que, nos dias atuais, está em torno de 80 anos. Os octogenários são 15% da população européia (2014).

O conceito de família transforma-se pela prática social. Lar homossexual com filhos adotivos registrados em nome do casal e do pai biológico. Convívio de famílias constituídas e providas pela mesma pessoa (poligamia). Sucessão de bens e direitos contemplando a esposa e a outra companheira do marido. Filho registrado em nome do pai biológico e do pai adotivo. Nomes da mãe e da madrasta lançados no registro de nascimento do filho e enteado. Essas mudanças operam-se no plano dos fatos e acabam protegidas pelo legislador ou pelo juiz, ainda que desaprovadas pela religião. Os avanços na biologia, principalmente no campo da genética, exigiram novas leis e um novo direito. Drogas e plantas alucinógenas circulam pelos continentes e são consumidas pelos jovens. Entre os países da Europa hodierna, os nórdicos apresentam a melhor distribuição de renda, bom padrão de vida, menor índice de corrupção e baixa criminalidade (Bélgica, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Islândia, Noruega, Suécia).   

Em setores da ciência e da tecnologia há invenções paralelas por diferentes pessoas sem comunicação entre elas. Isto aconteceu com o avião. A idéia de voar vem de longe. Conta-se que, na Idade Antiga, Ícaro se equipou com asas coladas ao corpo com cera e se atirou do alto de um rochedo. O sol derreteu a cera, as asas se despregaram e o homem voador despencou. O Ícaro da Idade Contemporânea voa de asa delta, para-pente, wingsuit (macacão com asa) e base jump (building antena spam earth) atirando-se de altos edifícios, antenas, pontes e montanhas. Na Idade Média, Leonardo da Vinci planejou a máquina voadora. Na Idade Moderna, há notícia de experimentos com máquinas voadoras mais pesadas do que o ar dos quais não há prova. O brasileiro Alberto Santos Dumont (1873 a 1932), vivendo na França, sem preocupação financeira, membro de família rica, idealizou objetos voadores dirigíveis pelo homem. Perante uma comissão do aeroclube da França, demonstrou a dirigibilidade dos balões ao contornar a Torre Eiffel, em Paris. A seguir, naquela mesma cidade, Alberto construiu máquina voadora com motor a explosão denominada 14-Bis e empreendeu o primeiro vôo em público e documentado da história da aviação (1906). Recebeu o Deutsch-Archdeacon Prize como reconhecimento pelo primeiro vôo motorizado da Europa. Alberto criou o monoplano que pesava 100 kg., com velocidade máxima de 90 km/h. Batizou-o de Demoiselle (1907). Alberto suicidou-se quando estava no Brasil, na praia paulista do Guarujá. O motivo seria o desgosto de ver a sua invenção utilizada para fins bélicos.

O rádio, como instrumento de comunicação, expandiu-se a partir de 1920. Na segunda guerra mundial, os ingleses inventaram o radar (dio detection and rage). Este aparelho permitia à defesa britânica detectar a presença dos aviões inimigos quando ainda se encontravam a uma distância de 100 milhas. Com auxílio desta invenção, os britânicos destruíram mais de uma centena de aeronaves alemãs. A navegação aérea civil e militar se desenvolveu. Sofisticados, potentes e velozes aviões transportam passageiros e carga por todos os continentes. Avançada tecnologia dos aviões de combate e espionagem protege-os do radar (invisibilidade). Naves espaciais viajam pelo sistema solar. Satélites artificiais foram criados e lançados ao espaço para monitorar a Terra e auxiliar na meteorologia, na pesquisa astronômica e nas comunicações.  

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