segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

FILOSOFIA XV - 17



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Signatário do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca de 1947, o Brasil alinhou-se com os EUA e os países do Cone Sul no combate ao comunismo e à influência soviética na América (1964 a 1985). À semelhança dos gulags, formou-se o arquipélago sul-americano: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Nele ocorreram prisão, exílio, tortura, assassinato e desaparecimento de milhares de pessoas, troca de prisioneiros, violação de mulheres, arresto de crianças, numa infernal atrocidade da qual somente a natureza demoníaca do ser humano é capaz. Governos constitucionais de esquerda foram substituídos por ditaduras de direita até que os ventos mudassem de direção nos anos 1980.

A política e a economia têm essa flexibilidade: mudam conforme a direção do vento ou de acordo com o teor da boataria. As notáveis mudanças na Europa Oriental nas duas últimas décadas do século XX refletiram-se no mundo ocidental. O governo dos EUA sob a chefia de Donald Reagan aproveitou-se das mudanças para estabelecer uma nova ordem mundial em sintonia com os interesses do seu país. Induziu a globalização da economia. Margareth Thatcher, na chefia do governo da Inglaterra, declara o fracasso do socialismo democrático, adota política conservadora, substitui o Estado do Bem-Estar pelo Estado Liberal, privatiza a economia e estimula a iniciativa privada. A onda neoliberal leva de cambulhada países do “terceiro mundo”, inclusive o Brasil. O Mercado Comum Europeu evolui para União Européia e os países membros criam moeda comum (Euro) e elaboram projeto de Constituição (1999).

O fenômeno globalização não era novo e sim uma ocorrência do processo civilizador como se verifica do intercâmbio cultural e comercial havido na Idade Moderna entre as nações do mundo. A novidade era o tipo de globalização na Idade Contemporânea: comunicação de massa em tempo real; circulação instantânea de enorme volume de capital por vários centros financeiros do mundo (diferentes mercados nacionais); maior competitividade no comércio internacional com a padronização de sistemas produtivos, de normas e de comportamento dos consumidores e produtores. Em Davos, Suíça, na véspera do terceiro milênio, realizou-se o Fórum Econômico Mundial, que reuniu centenas de empresários e agentes políticos de várias nações do mundo (28/01/1999 a 02/02/1999). Ali, os participantes chegaram à conclusão de que todos viviam em um mundo no qual flutuam as moedas, as empresas e os regimes políticos. Confirmaram a instabilidade da economia nesta quadra da história e colocaram em dúvida a capacidade das pessoas de aceitar e enfrentar essa realidade. Além da econômica, a globalização tem outras faces, tais como: a ecológica, a demográfica, a escassez de emprego, de água potável e de combustível fóssil, o tráfico ilícito de drogas, de plantas, animais silvestres, mulheres, crianças e  órgãos humanos. A globalização política foi ensaiada com a Liga das Nações, sucedida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com êxito até o momento, apesar dos antagonismos entre as potências.    

A implosão da URSS alterou o mapa europeu e a correlação de forças entre os países. A maré separatista prossegue de forma tentada ou consumada: Chechênia, País Basco, Bálcãs (Bósnia, Sérvia, Montenegro). A província do Kosovo separa-se da Sérvia e recebe apoio dos EUA, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Croácia, Hungria e Bulgária, enquanto a China, Rússia, Espanha, Chipre, Grécia e Romênia, negaram o reconhecimento (2008). Os EUA autorizaram envio de armas ao Kosovo. A Rússia ameaçou lançar mísseis contra o país que receber tais armas. A província da Criméia separa-se da Ucrânia e adere à federação russa (2014). A disputa entre Rússia e EUA pelo controle político e ideológico da Ucrânia e a ameaça de confronto bélico é mais um episódio a mostrar a fragilidade da concórdia internacional. Houve represálias econômicas de todos os lados. A guerra fria renasce com calor.

Invenções e aprimoramentos tecnológicos prosseguiram em ritmo acelerado nos séculos XX e XXI. A tendência para a padronização ocorre em todo o orbe. Isto repercutiu no pensamento filosófico. Costumes, relação de força entre as nações, regimes políticos, sistemas econômicos, tudo isso mudou com tendências padronizadoras. À revolução comercial da Idade Média seguiu-se o surto econômico da Idade Moderna que se convencionou chamar revolução industrial. A indústria consome mais energia do que no período anterior, as fábricas se multiplicam, os meios de transporte e as comunicações se desenvolvem, o socialismo concorre com o capitalismo. Há uma profusão de idéias e descobertas em seqüência à revolução intelectual, tudo contribuindo para o formidável progresso da civilização ocidental. A revolução sexual que explodiu nos anos 1960 e 1970 derrubou tabu no cinema e na vida real, permitiu a pornografia, liberou a homossexualidade, levou educação sexual às escolas, incentivou o uso de preservativos e das drogas anticoncepcionais, protegeu a prostituta sem incluir o proxeneta, enfraqueceu a censura oficial e a moral conservadora.

Todo conceito perde ou tende a perder, total ou parcialmente, a sua utilidade e significação quando as condições empíricas em que foi elaborado tornam-se remotas, mudam ou se extinguem. O excesso de regulamentação sufoca a liberdade. Quando liberadas forças perturbadoras, o governo é chamado a intervir em defesa da ordem social. O pensamento científico se altera diante da novidade. O discurso científico é circunstancial. Na pesquisa científica, a dedução perde terreno para a indução. Apesar disto, a experimentação depende de uma prévia construção intelectual. A prova da coerência do concreto (fenômeno) é procurada no abstrato (matemática). A filosofia esmaece diante da autoridade da ciência como fonte do conhecimento. Essas duas ordens do saber tendem a se harmonizar. O misticismo se mantém como acesso intuitivo à luz espiritual e se manifesta intensamente nas crises sociais.

A contextualização ou conexão passa a integrar o trabalho do cientista junto com a formulação matemática da natureza e o método experimental. Este método consiste em realizar experimentos para confirmar ou rejeitar alguma hipótese no quadro de uma estrutura teórica. A experiência natural concorre com a experiência artificial provocada pelo cientista com propósito definido. Os passos do método experimental variam segundo o tipo de pesquisa e o objeto pesquisado. Os alquimistas foram predecessores do método experimental (Paracelso, Boyle, Newton, Leibniz, foram alquimistas). A vida ativa se harmoniza com a vida contemplativa. Conhecer a natureza é útil para a vida ativa (agricultura, culinária, medicina, comércio, indústria) tanto quanto a filosofia o é para o Estado e a sociedade (história, política, retórica, ética, direito). A metafísica perde autoridade ante a filosofia derivada da experiência. A filosofia ocidental sofre a influência da filosofia oriental. A religião cristã sofre a concorrência da religião e do misticismo oriental (islamismo, budismo, hinduismo).

Carl Gustav Jung (1875 a 1961), suíço, psiquiatra, psicanalista, criou a psicologia analítica. O seu trabalho foi recebido com reservas pela comunidade científica justamente por sua incursão na metafísica e nas crenças orientais. Carl interpretou como símbolo do “eu”, a mandala, figura de contemplação usada na ioga tântrica. Em “Memórias, Sonhos e Reflexões”, ele sustenta: que os padrões simétricos em movimento dentro de um círculo refletem certo estado psíquico e, disto, as rosáceas expostas nas catedrais medievais são exemplos incontestes; que nos sonhos há premonição; que há um inconsciente coletivo, repositório de mitos e símbolos religiosos, subjacente ao inconsciente individual; que os arquétipos mostram a comunicação entre a mente humana e a mente divina. A teoria de Carl foi bem recebida nas instituições místicas.

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