EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
Signatário do Tratado
Interamericano de Assistência Recíproca de 1947, o Brasil alinhou-se com os EUA
e os países do Cone Sul no combate ao comunismo e à influência soviética na
América (1964 a
1985). À semelhança dos gulags,
formou-se o arquipélago sul-americano:
Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Nele ocorreram prisão, exílio,
tortura, assassinato e desaparecimento de milhares de pessoas, troca de
prisioneiros, violação de mulheres, arresto de crianças, numa infernal
atrocidade da qual somente a natureza demoníaca do ser humano é capaz. Governos
constitucionais de esquerda foram substituídos por ditaduras de direita até que
os ventos mudassem de direção nos anos 1980.
A política e a economia têm essa flexibilidade:
mudam conforme a direção do vento ou de acordo com o teor da boataria. As
notáveis mudanças na Europa Oriental nas duas últimas décadas do século XX
refletiram-se no mundo ocidental. O governo dos EUA sob a chefia de Donald Reagan
aproveitou-se das mudanças para estabelecer uma nova ordem mundial em sintonia
com os interesses do seu país. Induziu a globalização da economia. Margareth
Thatcher, na chefia do governo da Inglaterra, declara o fracasso do socialismo
democrático, adota política conservadora, substitui o Estado do Bem-Estar pelo
Estado Liberal, privatiza a economia e estimula a iniciativa privada. A onda
neoliberal leva de cambulhada países do “terceiro mundo”, inclusive o Brasil. O
Mercado Comum Europeu evolui para União Européia e os países membros criam moeda
comum (Euro) e elaboram projeto de
Constituição (1999).
O fenômeno globalização não era novo e sim uma ocorrência do processo
civilizador como se verifica do intercâmbio cultural e comercial havido na
Idade Moderna entre as nações do mundo. A novidade era o tipo de globalização
na Idade Contemporânea: comunicação de massa em tempo real; circulação instantânea
de enorme volume de capital por vários centros financeiros do mundo (diferentes
mercados nacionais); maior competitividade no comércio internacional com a
padronização de sistemas produtivos, de normas e de comportamento dos
consumidores e produtores. Em Davos, Suíça, na véspera do terceiro milênio, realizou-se
o Fórum Econômico Mundial, que reuniu centenas de empresários e agentes
políticos de várias nações do mundo (28/01/1999 a 02/02/1999). Ali, os
participantes chegaram à conclusão de que todos viviam em um mundo no qual
flutuam as moedas, as empresas e os regimes políticos. Confirmaram a
instabilidade da economia nesta quadra da história e colocaram em dúvida a
capacidade das pessoas de aceitar e enfrentar essa realidade. Além da
econômica, a globalização tem outras faces, tais como: a ecológica, a
demográfica, a escassez de emprego, de água potável e de combustível fóssil, o
tráfico ilícito de drogas, de plantas, animais silvestres, mulheres, crianças
e órgãos humanos. A globalização
política foi ensaiada com a Liga das Nações, sucedida pela Organização das
Nações Unidas (ONU), com êxito até o momento, apesar dos antagonismos entre as
potências.
A implosão da URSS alterou o mapa
europeu e a correlação de forças entre os países. A maré separatista prossegue
de forma tentada ou consumada: Chechênia, País Basco, Bálcãs (Bósnia, Sérvia,
Montenegro). A província do Kosovo separa-se da Sérvia e recebe apoio dos EUA,
Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Croácia, Hungria e Bulgária, enquanto a
China, Rússia, Espanha, Chipre, Grécia e Romênia, negaram o reconhecimento
(2008). Os EUA autorizaram envio de armas ao Kosovo. A Rússia ameaçou lançar
mísseis contra o país que receber tais armas. A província da Criméia separa-se
da Ucrânia e adere à federação russa (2014). A disputa entre Rússia e EUA pelo
controle político e ideológico da Ucrânia e a ameaça de confronto bélico é mais
um episódio a mostrar a fragilidade da concórdia internacional. Houve
represálias econômicas de todos os lados. A guerra
fria renasce com calor.
Invenções e aprimoramentos
tecnológicos prosseguiram em ritmo acelerado nos séculos XX e XXI. A tendência
para a padronização ocorre em todo o orbe. Isto repercutiu no pensamento
filosófico. Costumes, relação de força entre as nações, regimes políticos,
sistemas econômicos, tudo isso mudou com tendências padronizadoras. À revolução
comercial da Idade Média seguiu-se o surto econômico da Idade Moderna que se
convencionou chamar revolução industrial. A indústria consome mais energia do
que no período anterior, as fábricas se multiplicam, os meios de transporte e
as comunicações se desenvolvem, o socialismo concorre com o capitalismo. Há uma
profusão de idéias e descobertas em seqüência à revolução intelectual, tudo
contribuindo para o formidável progresso da civilização ocidental. A revolução
sexual que explodiu nos anos 1960 e 1970 derrubou tabu no cinema e na vida
real, permitiu a pornografia, liberou a homossexualidade, levou educação sexual
às escolas, incentivou o uso de preservativos e das drogas anticoncepcionais,
protegeu a prostituta sem incluir o proxeneta, enfraqueceu a censura oficial e
a moral conservadora.
Todo conceito perde ou tende a
perder, total ou parcialmente, a sua utilidade e significação quando as
condições empíricas em que foi elaborado tornam-se remotas, mudam ou se
extinguem. O excesso de regulamentação sufoca a liberdade. Quando liberadas
forças perturbadoras, o governo é chamado a intervir em defesa da ordem social.
O pensamento científico se altera diante da novidade. O discurso científico é
circunstancial. Na pesquisa científica, a dedução perde terreno para a indução.
Apesar disto, a experimentação depende de uma prévia construção intelectual. A
prova da coerência do concreto (fenômeno) é procurada no abstrato (matemática).
A filosofia esmaece diante da autoridade da ciência como fonte do conhecimento.
Essas duas ordens do saber tendem a se harmonizar. O misticismo se mantém como
acesso intuitivo à luz espiritual e se manifesta intensamente nas crises
sociais.
A contextualização ou conexão
passa a integrar o trabalho do cientista junto com a formulação matemática da
natureza e o método experimental. Este método consiste em realizar experimentos
para confirmar ou rejeitar alguma hipótese no quadro de uma estrutura teórica.
A experiência natural concorre com a experiência artificial provocada pelo
cientista com propósito definido. Os passos do método experimental variam
segundo o tipo de pesquisa e o objeto pesquisado. Os alquimistas foram
predecessores do método experimental (Paracelso, Boyle, Newton, Leibniz, foram
alquimistas). A vida ativa se harmoniza com a vida contemplativa. Conhecer a
natureza é útil para a vida ativa (agricultura, culinária, medicina, comércio,
indústria) tanto quanto a filosofia o é para o Estado e a sociedade (história,
política, retórica, ética, direito). A metafísica perde autoridade ante a filosofia
derivada da experiência. A filosofia ocidental sofre a influência da filosofia
oriental. A religião cristã sofre a concorrência da religião e do misticismo oriental
(islamismo, budismo, hinduismo).
Carl Gustav Jung (1875 a 1961), suíço,
psiquiatra, psicanalista, criou a psicologia analítica. O seu trabalho foi
recebido com reservas pela comunidade científica justamente por sua incursão na
metafísica e nas crenças orientais. Carl interpretou como símbolo do “eu”, a mandala, figura de contemplação usada na
ioga tântrica. Em “Memórias, Sonhos e Reflexões”, ele sustenta: que os padrões
simétricos em movimento dentro de um círculo refletem certo estado psíquico e,
disto, as rosáceas expostas nas catedrais medievais são exemplos incontestes;
que nos sonhos há premonição; que há um inconsciente coletivo, repositório de
mitos e símbolos religiosos, subjacente ao inconsciente individual; que os
arquétipos mostram a comunicação entre a mente humana e a mente divina. A
teoria de Carl foi bem recebida nas instituições místicas.
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