quarta-feira, 20 de abril de 2011

RELIGIÃO

RESUMO DOS LIVROS DA BÍBLIA.

Comentário final.

Nota-se uma linha progressiva do Antigo Testamento (AT) ao Novo Testamento (NT). A divindade do AT é exclusivamente territorial e nacional; quem pretendesse adorar Javé fora do território palestino tinha de levar um punhado de terra consigo; o deus era do povo hebreu. Nas idades antiga e clássica, cada povo adorava seus próprios deuses. O NT traz um deus que avoca jurisdição sobre todos os povos. A conduta predominante no AT é matar e vingar; a linguagem do NT é amar e perdoar. Ao caráter maligno do deus hebreu (AT) contrapõe-se o caráter benigno do deus cristão (NT). Ao rezar, Jesus invoca o Pai que está no céu. Motivo sociológico (tradição patriarcal, papel subalterno da mulher) e psicológico (pai biológico desconhecido) leva Jesus a escolher o nome e a imagem do novo deus: Pai.

A idéia de um único deus, exteriorizada no reinado de Aquenaton, adotada por Moisés, Jesus e Maomé, continua a evoluir no Ocidente, à medida que a ciência progride e aquele duplo motivo sociológico e psicológico perde vigor. Nas doutrinas cristã e islâmica a jurisdição divina ainda é tópica, centrada na Terra, segundo a visão geocêntrica: nosso planeta fixo no espaço, os astros girando em torno dele e a atenção divina girando em torno da humanidade: nem se dirá ei-lo aqui ou ei-lo ali, pois o reino de Deus já está no meio de vós, afirmou Jesus. A mente humana projeta no céu a organização política secular (tronos, reis, príncipes, súditos). Depois, procede à inversão, como se a organização terrena fosse o reflexo da organização celeste. O advento da visão heliocêntrica e o avanço da astrofísica permitiram à mente humana perceber que: (i) a jurisdição divina se estende às galáxias, na dupla dimensão física e espiritual de um universo integrado por todos os seres (ii) os humanos e seu planeta não são o centro do universo e da atenção divina. A deusa (Isis, Kali) volta ao seu lugar na mente humana, agora como polaridade, energia feminina. Parcela da humanidade toma consciência da bipolaridade intrínseca ao Deus único: feminina e masculina, negativa e positiva. A mãe celestial e o pai celestial coexistem potencialmente na divina unidade.

O modelo físico da divindade não vai além da estatuária. Cada religião tem o seu próprio modelo. As culturas religiosas do Oriente e do Ocidente modelam seus deuses ora em forma humana, ora em forma animal, ora misturam as formas. Astros como o Sol, Júpiter, Vênus, simbolizam deuses. Seres humanos exponenciais recebem o galardão divino, como no Egito (Hermes), na Índia (Krishna), na Palestina (Jesus). A forma divina é problemática. Definir é colocar limites e predicados. Deus é infinito. Não há, pois, como defini-lo ou enformá-lo. Há noção aproximada: se Deus transcende as fronteiras do tempo e do espaço, então, Deus é atemporal e atópico; não se confina, pois, entre alfa e ômega, começo e fim, extremos do mundo material (com a exaustão da energia do Sol, por exemplo, o sistema solar chegará ao fim). Eterno e infinito, Deus vai além desses extremos. Considerando que as categorias tempo e espaço, presença e ausência, começo e fim, são próprias do mundo material, a este se circunscreve o atributo divino da onipresença, enquanto os atributos da onisciência e onipotência efetivam-se nos dois planos: material e espiritual. Nessa linha aproximativa, Deus será idealizado como energia difusa, com potencial de luz, vida e amor, sem contornos, impessoal, acessível pelas vias da fé, razão, intuição e êxtase. O bom senso recomenda cultuar Deus em nosso coração de acordo com a nossa compreensão e respeitar a crença alheia.

Na doutrina islâmica, a senda profética inicia-se com Noé passa por Abraão, Moisés, Jesus e culmina em Maomé (570/632 d.C.). Irradiaram-se pelo mundo a partir: (i) da Arábia, o islamismo (ii) da Índia, o hinduísmo e o budismo (iii) da China, as culturas taoísta e confuciana [apesar da avalanche comunista de Mao-Tse-Tung, em 1949, essas culturas milenares mantiveram-se vivas na Ásia amarela]. Essas culturas têm os seus textos “sagrados” como os Vedas+Upanishades no hinduísmo, Tao-Te-King, no taoísmo, Torah+Sefer Yetzirah no judaísmo, Novo Testamento no cristianismo, Al-Corão no islamismo. A partir da Idade Média inclusive, o cristianismo prevaleceu na Europa e na América, onde foi enorme a sua influência política, social e econômica; nos outros continentes, mostrou-se esquálido.

Católicos e protestantes guiam-se mais pelo AT do que pelo NT. Isto explica: (i) a matança e a crueldade praticadas por europeus e americanos no passado e no presente (ii) a hipocrisia como norma vigente nas relações internacionais. George W. Bush, quando governava os EUA invocava deus para justificar agressão a países do Oriente. Certamente, invocava o cruel e sanguinário deus do AT, já que o deus do NT é da paz, do amor e do perdão. Enciumado, o papa solicitou ao presidente americano que se abstivesse daquela invocação. O político e o clérigo prestam culto ao mesmo deus: Javé (Jeová). Adeptos do AT, católicos e protestantes são essencialmente judeus. O cristianismo serve-lhes de fachada. A infiltração do judaísmo no NT decorreu: (i) da cultura e mentalidade farisaica de Paulo, fundador da igreja católica (ii) do fato de Jesus, em sua pregação, se referir algumas vezes à Lei e aos Profetas.

As visões dos profetas equiparam-se aos sonhos, pois derivam do êxtase místico ou do sono. O alterado estado emocional do profeta quando se refere às coisas divinas, aos preceitos morais e espirituais, também produz alucinações que não devem ser levadas a sério. Os profetas idosos estão sujeitos às fraquezas senis. A visão de Ezequiel parece objetiva: máquina desconhecida que, à falta de vocabulário adequado, ele descreve como animal. Essa máquina saída das nuvens poderia ser descrita como nave espacial no vocabulário moderno.

Em sua carta, Judas Tadeu zela para que seu irmão, Jesus Cristo, não fique abaixo de Enoc, Moisés e Elias. Segundo a lenda, esses três ascenderam ao céu de corpo e alma. Destarte, com Jesus também tinha de acontecer o mesmo. Marcos e Lucas se encarregaram dessa tarefa nos seus respectivos evangelhos. Isto reflete a acirrada competição entre judeus e cristãos pela supremacia teológica naquela quadra da história. Sem dar espaço a outros avatares como Aquenaton, Zaratustra, Lao Tse, Sidarta, aqueles personagens cercaram deus em seu trono: Jesus à direita, Moisés à esquerda, Enoc atrás e Elias à frente. Na verdade, eles não chegaram lá. No trajeto ascensional, seus corpos se congelaram na Lua ou se torraram no Sol. Caso o rumo tenha sido oposto ao Sol, em direção à saída do sistema solar, ainda assim, sem escafandro, sem oxigênio, sem nave espacial, eles feneceriam. Outra probabilidade: na subida, envoltos em nuvens, os corpos foram vencidos pela força da gravidade, retornaram e se espatifaram no solo ou se afogaram no mar. As nuvens não sustentam corpos pesados.

Dos irmãos de Jesus, apenas Tiago e Judas Tadeu seguiram a doutrina e se dedicaram às igrejas. Não há notícia de que os outros irmãos [José e Simão] e as irmãs [nomes não mencionados nos evangelhos] estivessem envolvidos. Há notícia de que a mãe e esses irmãos foram excluídos da assembléia reunida na Galiléia. Alguém avisa: tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem falar-te. Jesus responde: quem é minha mãe e quem são meus irmãos? Apontando para os discípulos, acrescenta: eis aqui minha mãe e meus irmãos; todo aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe (Mateus 12: 46/50). Isto sugere que a mãe biológica e os irmãos e irmãs de sangue, não faziam a vontade do Pai Celestial; portanto, estavam excluídos da família cristã. Jesus extravasou mágoa por não ser reconhecido profeta em sua casa, no seio da família de sangue, como lamentara em outra ocasião (Mateus 13: 57 + Marcos 6:4).

O sacerdócio alterou as escrituras no curso da história, antes e depois de Cristo. Modificações decorreram, também, da série de traduções: do aramaico para o grego; do grego para o latim e o hebraico; do latim para os demais idiomas. As bíblias editadas em português também apresentam diferenças entre si, na redação, na distribuição dos assuntos e na quantidade dos livros. O significado do vocábulo espírito varia: alma, fantasma, sentido, energia, substância incorpórea, corpo astral, substância real, essência de alguma coisa. Espírito santo: força que vem do alto; energia suplementar da mente e do corpo que desperta poderes especiais nos seres humanos; atitude interior fervorosa e exaltada direcionada a Deus. Espírito de Deus: a própria divindade, sintonia do ser humano com a divindade, submissão do ser humano às leis divinas. Anjo: entidade corpórea ou etérea, boa ou má, que interfere nos assuntos humanos. Anjo do Senhor: entidade corpórea ou etérea, que aparece em vigília ou durante o sono, como portadora de mensagens do ser divino. Demônio: nome genérico que os gregos davam às entidades angelicais. Os cristãos reservam os nomes demônio, satã, diabo, para o anjo mau ou anjo decaído; imprimem-lhe forma mista de homem e animal irracional.

O elemento espiritual do ser humano compõe-se de duas forças que podem ser identificadas como angelical e demoníaca. Essas forças são bipolares. O pólo positivo da força angelical induz o ser humano a buscar o reino divino; inspira-o à santidade, à bondade, à ação altruística, a aspirar por justiça e verdade, a cultivar a beleza. O pólo negativo da força angelical induz o ser humano a se dedicar ao mundo espiritual exclusivamente, a desprezar o mundo terreno, a maltratar o corpo e privá-lo da satisfação dos apetites naturais. O pólo positivo da força demoníaca previne o ser humano dos perigos e o induz a valorizar o mundo terreno, a conservar a espécie, a viver em comunidade, a buscar e produzir alimento, abrigo e demais bens para sua manutenção, conforto e lazer. O pólo negativo da força demoníaca tolhe o caminho para o mundo espiritual, induz o ser humano a algemar-se ao mundo terreno, obceca-o por riqueza, envaidece-o, acorrenta-o ao hedonismo; estimula conflitos, guerras, a radicalização das opiniões e atitudes, a destruição da natureza; desperta ódio, inveja, cobiça; exacerba o egoísmo; provoca ações ilícitas. Ecce homo.

A inteligência tem sido vista como demoníaca. O questionamento de assuntos contidos em escrituras “sagradas” é visto como heresia e coisa do diabo. No entanto, a inteligência é dom natural e a natureza integra o reino divino. Deus é luz, no sentido espiritual de inteligência e sabedoria. Essa luz sapiente não se confunde com a luz física de uma lâmpada ou de uma estrela. Mente iluminada é a que tem acesso ao conhecimento pela via da razão, da intuição e do êxtase. O extravio no uso da inteligência humana provém dos pólos negativos das forças angelical e demoníaca. O fato de o cérebro, oficina da inteligência, estar protegido pelo crânio, indica o cuidado da natureza em preservar o entendimento. O cérebro estaria abaixo do coração (provavelmente, nos intestinos) se a fé preponderasse. A legitimidade da fé repousa na incapacidade da inteligência humana para explicar e compreender todas as coisas.

As coisas do mundo são vistas pelas crianças de modo simples e direto. Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o reino de Deus é para aqueles que se lhes assemelham (Mateus 19: 13/15). O olhar de criança desmistifica. Do conto “As Novas Roupas do Imperador” de Hans Christian Andersen, nota-se a malícia e as noções falsas da mente adulta. Espertalhões enganaram pessoas da corte e do povo sobre a roupa nova do rei. Uma criança apontou a nudez do monarca. Onde vicejam a fé cega e a credulidade, rareia o bom senso. O conteúdo das escrituras “sagradas” deve passar pelo crivo da razão e do bom senso. Ao folhear a bíblia com olhar de criança é possível ver quando “o rei está nu”.

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