quarta-feira, 6 de abril de 2011

RELIGIÃO

NOVO TESTAMENTO – II.

Atos dos apóstolos.

Lucas é o autor desta narrativa iniciada como se fora uma carta dirigida à pessoa de nome Teófilo a quem, antes, ele já havia endereçado o evangelho que escrevera. No evangelho, Lucas trata essa pessoa como excelentíssimo, tratamento este que se defere a alguém de elevada posição na sociedade, ou, por qualquer título, merecedor de alta consideração. Ainda no prefácio, Lucas diz que a primeira narração (evangelho) referia-se aos ensinamentos e às ações de Jesus e que esta segunda narração referia-se aos acontecimentos posteriores à ascensão de Jesus ao céu.

A narrativa se divide em duas partes. Na primeira, Lucas relata o comportamento dos apóstolos durante e depois da ascensão de Jesus. Em assembléia, os 11 apóstolos escolhem Matias para ser o 12º e ocupar o lugar de Judas Iscariotes no colégio apostólico. No dia de Pentecostes (50º dia depois da páscoa) o espírito santo desce sobre a assembléia formada de 120 pessoas. Nesse número incluíam-se homens e mulheres fiéis, discípulos e apóstolos. Os membros da assembléia passam a conversar em diferentes línguas. Pedro faz um discurso de autenticação: declara Jesus o Senhor e o Cristo. Pedro consegue as primeiras conversões dos judeus ao cristianismo. Prega a união dos fiéis em comunidade: um só coração, uma só alma, um só patrimônio. Apóstolos e discípulos eram considerados nazarenos, porque consagravam sua vida a Deus; eram vistos como nova seita religiosa. Os que eram proprietários de terras e casas vendiam-nas e entregavam o produto da venda ao colégio apostólico. Os bens eram repartidos entre os membros da comunidade, segundo a necessidade de cada um. A administração dos bens da comunidade foi confiada a diáconos eleitos entre os membros da assembléia (mais ampla do que o colégio apostólico).

Lucas narra: (1) os milagres dos apóstolos; (2) a prisão de Pedro e João por ensinarem em nome de Jesus; (3) a prisão e a morte do diácono Estevão sob acusação de blasfêmia contra a lei de Moisés e contra o lugar santo (templo); (4) a dispersão dos membros da comunidade cristã de Jerusalém pelas diferentes regiões da Palestina, a fim de escapar da perseguição dos judeus; (5) a conversão de Saulo de Tarso no caminho de Damasco e o seu batismo por Ananias; (6) as pregações de Saulo (Paulo) em Damasco e a sua fuga para a cidade de Tarso a fim de não ser morto pelos judeus de fala grega; (7) a participação de Paulo (Saulo) na assembléia de Jerusalém; (8) a visão de Pedro e a sua atividade como apóstolo. Lucas narra, ainda, o episódio na casa de Cornélio, em Cesaréia, quando Pedro expõe o conceito universal de Deus: que não faz distinção de pessoas, mas em toda nação lhe é agradável quem o temer e fizer o que é justo. Em Jerusalém, Pedro é censurado pelos fiéis circuncisos por comungar com pessoas incircuncisas. Pedro os convence de que fizera a vontade de Deus e que a mensagem de Jesus não se destinava apenas aos judeus, mas incluía os pagãos. Lucas ainda menciona: (1) a fundação da igreja na Antioquia pelo apóstolo Barnabé e a conversão de muitos pagãos; (2) a morte de Tiago; (3) a prisão de Pedro por ordem de Herodes Antipas, a milagrosa libertação por um anjo e a morte do rei.

A segunda parte da narrativa é dedicada à difusão dos ensinamentos cristãos fora da Palestina, pela Ásia Menor e Europa. Lucas relata: (1) as atividades missionárias de Barnabé e de Saulo, que passa a se chamar Paulo; (2) a controvérsia no concílio dos apóstolos em Jerusalém sobre os requisitos a serem preenchidos pelos novos adeptos, inclusive sobre o valor da circuncisão, quando ficou decidido que: (i) dos novos adeptos devia ser exigida apenas a abstenção de carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da impureza (ii) a circuncisão não era obrigatória; (3) a delegação dada a Paulo, Barnabé, Judas e Silas, para que levassem a decisão do concílio às igrejas da Antioquia, Síria e Cilícia; (4) a discussão e a separação entre Paulo e Barnabé por causa de Marcos (Barnabé queria levar Marcos na viagem e Paulo se opunha – Barnabé seguiu para um lado e Paulo para outro); (5) o convite que Paulo faz a Timóteo, discípulo de ótima reputação junto à comunidade cristã de Listra e Icônio; (6) a prisão de Paulo e Silas, sob acusação de amotinarem a cidade; (7) o encontro de Paulo com os discípulos de João Batista em Éfeso (os discípulos fiéis a João Batista não se misturavam com os discípulos fiéis a Jesus); (8) as viagens posteriores à Macedônia, Grécia, Mileto, Tiro, Cesaréia e Jerusalém; (9) a prisão e o julgamento de Paulo nesta última cidade, sob acusação de blasfêmia contra o templo e a lei de Moisés; Paulo afirma ser judeu convertido ao cristianismo; o povo judeu não se convence e pede a morte de Paulo; o tribuno (autoridade pública) determina o recolhimento de Paulo com açoites; Paulo se declara romano de nascimento e cita a norma que vedava açoitar um romano; ele é libertado, mas o tribuno ordena o seu comparecimento perante o Grande Conselho judaico; no julgamento, Paulo se declara fariseu, filho de fariseus e que fora preso por causa da sua crença na ressurreição, o que dividiu o tribunal: de um lado, os juízes fariseus que acreditavam na ressurreição dos justos; de outro, os juízes saduceus que não acreditavam; os ânimos se exaltaram; a autoridade romana afasta Paulo e o recolhe na cidadela, sem uma sentença; (10) a manifesta intenção de um grupo de judeus de acabar com a vida de Paulo; por cautela, o tribuno o despacha para Cesaréia, onde ele foi entregue ao governador; (11) o julgamento em Cesaréia, sob acusação de pertencer à seita dos nazarenos, de ser uma peste que fomentava a discórdia entre os judeus no mundo inteiro; Paulo nega as acusações; o governador suspende o processo e mantém Paulo recluso, porém, permite a assistência de companheiros; (12) o novo julgamento, após o decurso de 2 anos, perante outro governador; Paulo invoca a cidadania romana e apela para César; o governador o despacha para Roma; (13) o acidente durante a viagem: o barco enfrenta forte tempestade e se desvia para a ilha de Malta, onde os navegantes foram bem recebidos; Paulo cura o pai do chefe da ilha, seu hospedeiro; (14) a partida de Malta, após 3 meses, a recepção de Paulo em Roma por membros da comunidade cristã; a licença para morar em casa própria, embora vigiado por um soldado; a prisão domiciliar que durou 2 anos. Neste ponto, termina a narrativa de Lucas.

Comentário. Os judeus convertidos eram poucos. A maioria dos judeus permaneceu fiel a Moisés, tanto os que residiam na Palestina, como os que viviam em cidades de outros países. Os judeus e pagãos convertidos ao cristianismo eram perseguidos pelos judeus e pagãos não convertidos. Paulo mostrou-se hábil argumentador e se valeu da sua cultura geral e jurídica. Invocava com pertinência tanto a lei hebraica como a lei romana, sempre que essas leis lhe fossem favoráveis. Confundiu os tribunais da Palestina. Em Roma, viveu em liberdade por alguns anos até ser preso e sentenciado à morte por delito contra o Estado romano.

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