sexta-feira, 8 de abril de 2011

RELIGIÃO

NOVO TESTAMENTO - III

Epístolas.

As cartas de autoria dos apóstolos são os primeiros documentos escritos sobre Jesus, sua doutrina e respectiva difusão. Os apóstolos utilizaram secretários para a redação, uns por serem analfabetos (como Pedro) e outros por comodidade (como Paulo). O conteúdo essencial dessas cartas é reproduzido nos evangelhos posteriormente escritos. Pedro, Tiago, Judas Tadeu e João, apóstolos da primeira hora, e Paulo, apóstolo da segunda hora, são os seus autores. Os apóstolos da primeira hora citam os ensinamentos e as recomendações que receberam diretamente de Jesus. Suas cartas são apelidadas de católicas (= universais) porque dirigidas às comunidades ou igrejas cristãs, salvo a segunda e a terceira de João, destinadas a determinadas pessoas. Entre as epístolas de Paulo umas são gerais e outras individuais. Há um padrão nas cartas devido à unidade de doutrina e ao propósito comum de fortalecer e expandir a comunidade cristã. De um modo geral, exortam o crente a: (i) perseverar na fé em Deus e em Jesus (ii) viver no amor e na luz de Deus; (iii) observar os mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas, amar ao próximo como a si mesmo e a se amarem reciprocamente; (iv) obedecer às autoridades; (v) comprometer-se com a verdade, com a justiça, com a bondade; (vi) praticar caridade; (vii) acautelar-se contra falsos profetas, homens ímpios que se introduzem nas comunidades cristãs e espalham a maldade; (viii) afastar-se dos prazeres carnais, da cobiça, da corrupção, da concupiscência.

Quanto ao prometido retorno de Jesus, os missivistas pedem paciência e que os crentes mantenham a esperança, pois esse dia chegará. Os crentes não devem prestar juramento; devem rezar quando estiverem tristes e cantar quando estiverem alegres; confessar seus pecados entre si; curar os enfermos pela unção com óleo e oração fervorosa; orar uns pelos outros. Os apóstolos enaltecem o reino espiritual e abjuram o mundo terreno, a riqueza material e a soberba dos ricos; qualificam o mundo terreno de reino do demônio; falam da alegria de receber notícias sobre a fé e a dedicação dos crentes à causa de Jesus Cristo.

A primeira epístola de Pedro é destinada às igrejas da Ásia (anciãos + presbíteros + crentes). Fala em misericórdia e ressurreição de Jesus. Exorta os fiéis à santidade, ao amor fraterno e sincero. Alerta-os para não se contaminarem com a inveja, maledicência, astúcia, fingimento. Usa a imagem do edifício espiritual: Jesus é a pedra angular e os crentes, o material, a comunidade eleita. Cita os deveres: (1) servir a Deus; (2) seguir o exemplo de Jesus; (3) obedecer às autoridades; (4) cumprir as obrigações com a família e com os patrões; (5) repudiar a luxúria, bebedeira, orgia, idolatria; (6) praticar a hospitalidade; (7) vigiar, orar, aplicar os dons em benefício alheio; (8) exercer o ministério com força divina.

Na segunda epístola, Pedro menciona a dificuldade de entender as cartas de Paulo. Há implícita censura nesta observação, fruto da desconfiança dos apóstolos da primeira hora quanto às reais intenções de Paulo, que parecia querer imprimir rumo à igreja cristã ao seu talante (o que de fato aconteceu). Pedro exorta os crentes a se unirem na fé, a vincular a fé à virtude, a virtude à ciência, a ciência à temperança, a temperança à paciência, a paciência à piedade, a piedade ao amor fraterno, o amor fraterno à caridade. Segundo Pedro, tal proceder abre as portas do reino de Cristo. Ele pede aos crentes que perseverem nesse proceder e dá o seu testemunho pessoal da majestade de Jesus. Na opinião dele, toda profecia da escritura deriva do espírito santo, não da vontade humana, e por isso, não comporta interpretação pessoal. Pedro qualifica os falsos profetas de imundos, cobiçosos, corruptos, libertinos, pervertidos, fontes sem água, filhos do Maligno. Compara aqueles que estiveram no caminho de Cristo e retornaram ao paganismo a uma porca lavada que volta ao lamaçal; um cão que volta ao seu vômito: tal é o louco que reitera suas loucuras (Provérbios, 26: 11).

Tiago, irmão de Jesus, presidiu ao primeiro concílio da igreja primitiva no ano 49. Bispo em Jerusalém, ele escreve para as 12 tribos da dispersão. Trata-se de homenagem retroativa ao povo hebreu expulso da Palestina nos séculos VI e V a.C. Tiago pretendia angariar a simpatia dos descendentes dos judeus que retornaram do exílio babilônico. Na sua epístola, com algumas expressões sem nexo e outras confusas (aliás, deficiência que se nota também nas outras epístolas e nos evangelhos) Tiago se dirige, na verdade, aos seus contemporâneos. Adverte-os das provações pelas quais passarão (ele próprio as vivenciou e foi morto por ordem de Herodes). Aconselha-os a ter paciência, fortaleza na fé e a suplicarem sabedoria a Deus, sem vacilar. Adota o discurso a favor da pobreza e contra a riqueza, típico da mensagem de Jesus (doutrina dos essênios).

Tiago ensina o caminho para ser feliz: meditar sobre a lei perfeita da liberdade. Censura os excessos da linguagem: quem não refreia a sua língua e engana o seu coração não pode ser piedoso. Diz que a língua inflamada pelo inferno incendeia o curso da nossa vida; que a língua é um mal irrequieto cheio de veneno mortífero; com ela abençoamos e amaldiçoamos; o gosto pelas contendas recheadas de mentiras é sabedoria terrena, humana, diabólica. Onde há ciúme e contenda há perturbação, diz ele. A religião pura e sem mácula inclui visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e purificar-se da corrupção do mundo. O bom tratamento dado aos ricos dar-se-á aos pobres, porque Deus escolheu os pobres deste mundo para que fossem ricos na fé e herdeiros do reino celestial. Fé sem obras é morta em si mesma. O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que praticam a paz sem fingimento, sem parcialidade. Quem é amigo do mundo é inimigo de Deus.

Tiago cita Provérbios 3: 34: Se ele (o Senhor) escarnece dos zombadores, concede a graça aos humildes, porém, um pouco modificado: Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes. Ao citarem de memória passagens do AT, os apóstolos às vezes se enganam. Ele diz mais: que os crentes devem se purificar; recrimina a maledicência e a falta de virtudes nos homens. Na opinião dele, quem pode fazer o bem e não o faz, comete pecado. Censura os ricos que fraudam os salários dos trabalhadores; acusa-os de haver matado o justo que nenhuma resistência oferecera. (Os membros do Sinédrio, tribunal que julgou e condenou Jesus, eram pessoas abastadas). Segundo Tiago, a oração do justo tem grande eficiência. O crente deve orar e obrar para o retorno ao bom caminho de quem dele se afastou.

Judas Tadeu, irmão de Jesus e de Tiago, escreve aos fiéis incentivando-os a pelejarem pela fé. Rememora episódios da história do povo hebreu: êxodo, Sodoma e Gomorra, discussão entre o arcanjo Miguel e o demônio pela posse do corpo de Moisés. (Tradição judaica não documentada refere-se à ascensão de Moisés de corpo e alma. Em torno disto houve a tal discussão. O arcanjo submeteu o caso a Deus. O demônio foi repreendido). O NT menciona ascensão celestial de Jesus, tal qual o AT menciona a de Elias, ecoando a disputa entre judeus e cristãos. Judas Tadeu pede aos crentes que se edifiquem mutuamente fundados na fé, que orem no espírito santo e se conservem no amor de Deus.

João, em sua primeira epístola, diz que pretende completar a alegria dos fiéis para que não pequem e para que eles permaneçam na verdade e na justiça. Diz que os pecados dos fiéis já foram perdoados em nome de Deus e que eles venceram o Maligno. Aconselha-os a não amar as coisas do mundo. Segundo João, Deus é luz e amor. Quem odeia o seu irmão está nas trevas. Quem anda nas trevas não está em comunhão com Deus. O sangue de Jesus purifica os nossos pecados. Negar que somos pecadores é nos enganarmos. Jesus Cristo expia os pecados do mundo (em conseqüência, o holocausto é abolido e se poupa a vida dos cordeiros). Quem nega Jesus é anticristo. Há anticristos que saíram da comunhão. Quem permanece na comunhão tem a unção do espírito santo. Somos filhos de Deus por causa do amor de Deus por nós. Pecar é transgredir a lei. Jesus Cristo é o filho de Deus que se manifestou para destruir as obras do demônio. João explica: os crentes devem amar uns aos outros, mas não com palavras e sim com atos e em verdade. João garante: ninguém jamais viu Deus (logo, a divindade vista por Moisés era subalterna); nós estamos em Deus e Deus está em nós pelo vínculo do amor; quem nasce de Deus vence o mundo que jaz sob o Maligno.

A segunda epístola de João é endereçada a uma senhora e seus filhos. O apóstolo se alegra ao saber que essas pessoas andam na verdade. Adverte-as sobre o anticristo. Roga que persistam na doutrina. A terceira epístola de João é endereçada a um indivíduo chamado Gaio. O apóstolo felicita Gaio por andar na verdade e pelas obras. Censura a conduta de Diótrefes, por não receber bem os irmãos na sua comunidade e espalhar coisas ruins. João mostra simpatia por uma pessoa de nome Demétrio, possivelmente, seu discípulo.

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