domingo, 24 de abril de 2011

POESIA

Quando o frio envolve os campos / quando nas desoladas aldeias / o longo “ângelus” se cala / sobre a natureza despida / fazei, Senhor, dos altos céus / descer os deliciosos corvos amados. / Estranho exército de graves clamores / os implacáveis ventos vos assolam os ninhos. / Ao longo dos barrentos rios / sobre as estradas de velhos cruzeiros / sobre casebres e velas / dispersai-vos, confundi-vos. / Aos milhares, sobre os campos de França / onde repousam os mortos de anteontem / voai, volteai, ao frio de inverno / para que os passantes meditem! / Sêde os pregoeiros do dever / ó nossa negra ave agoirenta! / Mas, Senhor, no alto do carvalho / - mastro perdido na noite enfeitiçada - / deixai as toutinegras de maio / para aqueles que, no fundo da floresta / sob a relva de onde não se pode fugir / estão esmagados pela derrota sem esperança! / (“Os Corvos” – Jean Nicolas Arthr Rimbaud).

Quando as folhas caírem e tu fores / procurar minha cruz no campo santo / hás de encontrá-la, meu amor, num canto / circundada e flores. / Colhe, então, para os teus loiros cabelos / cada flor que do peito meu florisse! / São versos que pensei sem escrevê-los / são palavras de amor que te não disse./ (“Quando as folhas caírem” – Lorenzo Stecchetti).

Não trazia a sua túnica vermelha / mas sangue púrpuro, encarnado /sangue e vinho das mãos gotejavam / quando o viram, alucinado / junto do leito dela – o seu amor / seu pobre amor apunhalado. / Ia andando entr os mais e era cinzento / o traje velho que vestia. / Usava um gorro de listas e o seu passo / ligeiro e alegre parecia. / Porém, eu nunca vi homem que olhasse / tão tristemente a luz do dia. / Jamais, jamais vi homem contemplar / com tão profundo sentimento / essa breve, essa estreita faixa azul / que os presos chamam firmamento / e as nuvens brancas, cor de prata, ao longe / - velas sem rumo, andando ao vento. / Eu, que junto a outras almas padecentes / sofria, em pátio separado / quis saber se era grande, se pequeno / o crime desse condenado / - quando alguém sussurrou atrás de mim: / “aquele, vai ser enforcado!” / Jesus! As próprias grades da prisão / rodam, de súbito, em delírio! / Pesa o céu sobre mim, qual elmo de aço / que o atormenta e o faz correr / e a minha alma, de mágoas trespassada / esquece, olvida o seu martírio. / Eu soube, então, a idéia lacerante / que o atormenta e o faz correr / e o faz olhar, tristonho, o céu radiante / radiante e alheio ao seu sofrer: / ele matou aquela que adorava / - por causa disto vai morrer. / No entanto (ouvi) cada um mata o que adora: / o seu amor, o seu ideal. / Alguns com uma palavra de lisonja / outros com um duro olhar brutal / o covarde assassina dando um beijo / o bravo mata com um punhal. / Uns matam o amor, velhos; outros, jovens; / (quando o amor finda, ou o amor começa) / matam-nos alguns com a mão de ouro / e alguns com a mão da carne – a mão possessa! / E os mais bondosos, esses apunhalam / - que a morte, assim, vem mais depressa. / Há corações vendidos e há comprados / uns amam pouco, outros demais / há quem mate a chorar, vertendo lágrimas / ou a sorrir, sem dor, sem ais. / Todo homem mata o amor; porém, nem sempre / nem sempre as sortes são iguais./ (“Balada do cárcere de Reading” – Oscar Wilde).

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