terça-feira, 12 de abril de 2011

RELIGIÃO

NOVO TESTAMENTO – V.

Paulo escreve à igreja de Corinto, por volta do ano 65, solicitando que os crentes acabem com os abusos e as disputas internas. Diz que foi enviado por Cristo, não para batizar e sim para pregar o evangelho (menosprezo a João Batista); para os crentes, Cristo se tornou sabedoria, justiça, santificação e redenção; Cristo é o único fundamento do edifício de Deus; cada um receberá o louvor que merece de Deus quando o tempo chegar. Paulo conjura os crentes a imitá-lo; refuta os que o denigrem; recrimina a igreja de Corinto pela luxúria. Os crentes devem submeter suas desavenças à irmandade, sem recorrer aos tribunais infiéis. Quem se ajunta a uma prostituta torna-se um só corpo com ela; o corpo do crente é o templo do espírito santo; o corpo da mulher pertence ao marido e o do marido à esposa. Os solteiros e as viúvas, se não puderem se conter, devem casar, pois melhor casar do que se abrasar. Cada um permaneça como estava quando Deus o chamou: circunciso ou incircunciso, solteiro, casado ou viúvo. O celibato convém a quem se dedica ao Senhor. Por seu trabalho espiritual, os missionários têm direito a colher bens materiais dos crentes.

Outras prescrições: (i) os crentes não devem comer alimento oriundo do sacrifício a ídolos (ii) as mulheres devem orar com a cabeça coberta e os homens com a cabeça descoberta (iii) nas assembléias, os irmãos devem se comportar bem, um esperando o outro, e as mulheres devem permanecer caladas e submissas (iv) na ceia, todos devem comer com moderação, pois quem tiver fome, coma em casa (v) diversos são os dons, mas o espírito é um só; preferir o dom da profecia ao dom das línguas (vi) quem não acredita na ressurreição de Cristo está em pecado. Jesus morreu por nossos pecados, foi sepultado, ressurgiu no terceiro dia, apareceu sucessivamente a Pedro, aos doze apóstolos, a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a Tiago, novamente aos apóstolos e por último, a ele, Paulo, como a um abortivo que, por ser o menor dos apóstolos, não se considera digno de ser chamado de apóstolo, pois perseguiu a igreja de Deus (modéstia desmentida por suas próprias epístolas; ademais, Jesus nunca apareceu a Paulo; Madalena, a quem Jesus aparecera por primeiro, não foi mencionada por Paulo, cuja aversão às mulheres é epidérmica). Carne e sangue não participam do reino de Deus, diz ele, dissipando a lenda sobre a ascensão em carne e sangue de Enoc, Moisés, Elias e Jesus. Diz mais: quando soar a trombeta, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e os vivos serão transformados. Ele instrui os coríntios sobre a coleta em benefício dos santos (ajuda à igreja de Jerusalém); promete visitá-los depois de passar pela Macedônia; solicita bom tratamento e consideração a Timóteo, à família de Estéfanas e a outros discípulos.

Na segunda missiva aos coríntios, Paulo segue no mesmo diapasão. Fala do consolo dos angustiados, da tribulação que sofreu na Ásia, da sua sinceridade pessoal; defende-se da acusação de ser leviano, alude à dificuldade que encontra no seu ministério e à confiança na morada espiritual. Pede aos crentes que se reconciliem com Deus, pois não pode haver acordo entre a luz e as trevas. Faz referência à carta anterior que causou sofrimento aos crentes pelas reprimendas. Mostra-se grato pela coleta em favor da igreja de Jerusalém. Exorta os crentes à mansidão, à bondade e ao respeito à sua autoridade, da qual confessa se orgulhar. Justifica o seu sustento pessoal pelas igrejas. Esclarece que não é louco. Apelou a Deus para que o apartasse de Satanás e obteve a seguinte resposta: Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se revela toda a minha força. (Esta é mais uma passagem em que Paulo tenta se nivelar a Jesus e impressionar os crentes, porque Jesus também fora tentado por Satanás). Fala de um homem que há 14 anos atrás (por volta do ano 50) foi arrebatado ao paraíso – com ou sem o corpo, não sabe dizer – e lá ouviu palavras inefáveis que não é permitido a um homem repetir. Paulo deixa subentendido, em subliminal falsa modéstia, que esse homem é ele próprio. O objetivo é sempre o mesmo: nivelar-se a Jesus, que também fora arrebatado, para impressionar e convencer os crentes. Diz que foi insensato ao elogiar a si próprio; que às igrejas cabia elogiá-lo, porque ele em nada era inferior aos apóstolos (pedir para ser elogiado ou elogiar a si próprio é expediente solerte e de mau tom). Avisa que visitará a igreja de Corinto, ouvirá testemunhas e desta vez não haverá perdão pelas faltas apuradas; que os crentes não devem exigir, como vêm exigindo, prova de que é Cristo que fala por ele (o que indica a desconfiança dos crentes em relação a Paulo e sua apregoada autoridade).

Por volta dos anos 60/62, quando estava preso, Paulo escreve para os efésios, filipenses, colossenses e a Filêmon. Aos efésios, ele repete a ladainha da salvação por Jesus Cristo, da união de circuncidados e incircuncisos na comunidade cristã, das virtudes dos crentes, da saída das trevas para a luz, dos deveres dos servos, dos patrões, da família (submissão da mulher ao marido, honrar pai e mãe). Recomenda que os crentes revistam-se da armadura de Deus para resistir às ciladas do demônio. Informa que está enviando Tiquico, ministro do Senhor, para levar notícias e confortar o coração dos fiéis. À igreja de Filipos, Paulo fala das suas orações em favor da igreja, tal qual nas epístolas anteriores, em que faz referência aos seus padecimentos por amor a Cristo, na visível intenção de comover os crentes. Pede união e perseverança. Repete isto a todas as igrejas, o que indica laços frouxos entre os fiéis. Fala de si mesmo, da sua vida farisaica e da sua vida cristã e pede aos crentes que o imitem (pedido que já fizera alhures e continuaria a fazer, como se imitado devesse ser ele e não Jesus). Agradece a ajuda que recebe da igreja. Na epístola à igreja de Colossos, Paulo faz as saudações e os agradecimentos de praxe em nome de Jesus Cristo. Consola os crentes pelas tribulações sofridas, contando os seus próprios padecimentos por anunciar o evangelho. Paulo glorifica a si próprio ao falar da missão evangélica. A essa igreja, a mesma advertência que faz às outras: cautela contra as falsas doutrinas, os falsos profetas, o falso ascetismo; fala do sacrifício de Jesus pelos pecadores. Paulo repete as recomendações e pede que esta e as outras epístolas circulem pelas igrejas. A Filêmon, cristão rico, Paulo escreve pedindo que recebesse e perdoasse o escravo fugitivo de nome Onésimo, que ele convertera à fé cristã; que Onésimo fosse recebido não mais como escravo e sim como irmão de fé. Diz que podia usar da sua autoridade em Cristo para prescrever o que era da obrigação de Filêmon, porém, prefere apenas fazer um apelo à sua caridade. Compromete-se a pagar qualquer prejuízo que Onésimo tenha causado. Paulo solicita pouso na casa de Filêmon, pois espera sair da prisão em breve.

Ao escrever a Timóteo, a Tito e aos hebreus, Paulo já estava fora da prisão. Timóteo e Tito foram colocados à frente das igrejas de Éfeso e Creta, como bispos. Paulo alinha vários conselhos e regras de conduta aos homens, mulheres, anciãos, viúvas, escravos, diáconos e bispos. Expõe a hierarquia eclesiástica e a organização da igreja. Qualifica o episcopado de função sublime. O bispo deve ser irrepreensível, prudente, sóbrio, hospitaleiro, regrado no seu proceder, capaz de ensinar, casado uma só vez, governar bem a sua casa, educar os seus filhos na obediência e na castidade. Os bispos devem perseverar na sua missão, apesar das dificuldades do ministério, e não se enredar em controvérsias. O diácono também há de ser virtuoso. Orienta o ministério dos bispos, a especial atenção que devem dar aos idosos e às viúvas. Paulo dita normas aplicáveis aos presbíteros: merecem dupla remuneração quando dedicados à pregação e ao ensino; são necessárias duas testemunhas, no mínimo, para ser recebida acusação contra eles; ao faltarem às suas obrigações, devem ser repreendidos diante de todos, para que os demais se atemorizem; cautela ao impor as mãos, para não se tornarem cúmplices dos pecados alheios. Coloca o amor ao dinheiro na raiz de todos os males. Recomenda que a piedade seja distribuída sem qualquer interesse pecuniário. O homem de Deus combate o bom combate da fé. Exorta os ricos a abdicarem do orgulho e a não depositarem na riqueza as suas esperanças; que pratiquem o bem e façam boas obras; que sejam generosos e comunicativos. Paulo informa que só Lucas está com ele e pede a Timóteo que traga Marcos para auxiliá-lo e os pertences que deixou em Éfeso. Reclama que foi maltratado pelo ferreiro Alexandre, opositor ferrenho do trabalho apostólico; diz que ficou desamparado. Pede a Tito preparar a viagem do jurista Zenas e do discípulo Apolo e recomenda que nada lhes falte. (Paulo não dispensou a assistência de advogado, apesar da sua formação jurídica). Informa que está em Nicópolis, onde pretende passar o inverno.

No que tange à epístola aos hebreus, o propósito era o de consolar os convertidos que se afastaram do templo e das sinagogas. A carta expõe a magnificência de Jesus, a sua condição de filho de Deus, fato que o sobrepõe aos anjos, aos profetas e aos sacerdotes. (Paulo diviniza Jesus, no que foi imitado por alguns apóstolos, inclusive João). Censura aqueles que saíram do Egito, conduzidos por Moisés, por se revoltarem contra a pregação de Jesus (certamente, a censura era dirigida aos descendentes dos hebreus do êxodo). Lembra que Jesus esteve indignado com os judeus durante 40 anos (ou Jesus tinha mais de 33 anos quando foi crucificado, ou Paulo errou na conta, ou o número 40 é esotérico = “por muito tempo”). O sacrifício de Jesus esvaziou de importância os sacrifícios do culto hebraico. Na opinião de Paulo, os personagens do AT não obtiveram o cumprimento de todas as promessas feitas pela divindade, enquanto que os do NT vê-las-ão todas cumpridas. Pede que os crentes se cuidem para não ser excluídos da companhia de Deus, como foram os judeus.

Na carta, Paulo solicita atenção à mensagem trazida por Jesus, pontífice eterno segundo a ordem de Melquisedec (e não segundo a ordem hebraica de Aarão). Rei de Salém (Rei da Paz, significado do seu título), Melquisedec também era o Rei da Justiça (significado do seu nome). A esse rei estrangeiro, sem genealogia, sem pai, sem mãe, cuja vida não tem começo nem fim, Abraão foi prestar tributo de vassalagem, pagar o dízimo e pedir as bênçãos. Argumento de Paulo: se a perfeição tivesse sido realizada pelo sacerdócio levítico (porque é sobre este que se funda a legislação dada ao povo) que necessidade havia ainda de que surgisse outro sacerdote segundo a ordem de Melquisedec e não segundo a ordem de Aarão? Pois, transferido o sacerdócio, forçoso é que se faça também a mudança da lei. Segundo Paulo, a antiga lei está revogada por sua ineficácia e inutilidade; a igreja cristã tem um Sumo Sacerdote (Cristo) que está sentado à direita da majestade divina, cujo tabernáculo está localizado no próprio céu e não foi construído por mãos humanas; Cristo é o mediador do NT e a sua morte expiou os pecados cometidos na vigência do AT. Paulo exorta os crentes à fidelidade, à perseverança, à assistência mútua. Aos apóstatas está reservado o fogo ardente. O fundamento da esperança é a fé, certeza a respeito do que não se vê; o mundo formou-se pela palavra de Deus; as coisas visíveis se originaram do invisível. Pela fé, Enoc foi arrebatado sem ter conhecido a morte. Os que claudicam, tornem ao bom caminho e não se desviem. Paulo repete as virtudes e as recomendações (hospitalidade, benemerência, liberalidade, obediência, fidelidade conjugal, viver sem avareza, fortificar a alma pela graça). Informa que Timóteo saiu da prisão. Roga a todos que, de boa mente, recebam as exortações.

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