quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

TERAPEUTICA

Cura pela razão e pela fé – IV.

Na rede mundial de computadores, em 10.02.2011, a página Yahoo traz notícia da mensagem para o 48º Dia Mundial de Rezas para as Vocações, em que o papa Bento XVI manifesta preocupação com o abandono da fé católica. Diz que a sociedade contemporânea asfixiou a voz de Cristo. O papa conclama os sacerdotes ao trabalho de recrutamento de novos fiéis.

“Hoje que as posições religiosas diferem mais do que nunca, nada se admitiu com maior unanimidade e segurança, por todos que se ocupam da religião de um modo inteligente, do que isto: que a origem da religião no espírito humano é radical e essencialmente distinta da filosofia e da metafísica; que os fundadores das religiões, os grandes “homines religiosi”, têm sido tipos do espírito humano, completamente distintos dos metafísicos e dos filósofos; e que as grandes transformações históricas devidas a eles nunca, em parte alguma, tiveram lugar por virtude de uma nova metafísica, mas sim de uma forma completamente diferente” (Scheler, in “Do Eterno no Homem”).

O princípio da causalidade de que se servem os defensores da teologia natural não tem o caráter lógico e epistemológico que deveria ter para atingir o fim que se propõe, ou seja, chegar ao divino, objeto da religião. A religião é uma esfera de valor autônoma, descansa em bases próprias, independentemente de qualquer outra esfera de valor. O seu fundamento de validade repousa nela própria, na certeza imediata peculiar ao conhecimento religioso. A desconfiança no poder próprio da consciência religiosa decorre da confusão entre a objetividade e a validade universal. Um juízo pode ter objetividade sem ter validade universal. O intelectualismo religioso derivado da confusão entre religião e filosofia pode causar o abandono da fé religiosa.

Outra causa do abandono da fé religiosa está no aumento do volume e da velocidade dos meios de comunicação de massa, informando, esclarecendo, derrubando tabus, com audiência de centenas de milhões de pessoas, reduzindo o campo da ignorância ao expor de maneira ampla e livre os mais diversos tópicos: costumes, técnica, arte, ciência, filosofia, religião, misticismo.

Fé em Deus e na doutrina de Jesus é uma coisa; fé na igreja e nos seus representantes é coisa bem diferente. Como virtude, a fé compara-se a jóia preciosa: devemos reservá-la às ocasiões especiais. Como confiança, a fé deve ser depositada em pessoas de caráter sem jaça. Como crença religiosa, a fé deve ser reservada a Deus. Podemos refletir sobre teorias e doutrinas, admirar e louvar os seus autores, porém, fé religiosa somente em Deus havemos de colocar. A sociedade contemporânea guarda reservas quanto à igreja e aos seus representantes (padres, pastores, missionários). Apesar disto, ainda é numerosa a parcela da humanidade que se atemoriza pelas ameaças de castigo no outro mundo. Cobrem-na as nuvens da ignorância. Missa católica aos domingos, culto evangélico aos sábados, celebrações diárias pelas emissoras de rádio e TV, páginas na rede de computadores, refletem esforços para contrabalançar as mensagens leigas passadas por esses veículos de comunicação de massa (noticiários, documentários, entrevistas, filmes). As religiões institucionalizadas se mantêm graças a essa ignorância e ao medo que daí decorre.

Assiste razão ao papa quando diz que é árduo ser cristão. Isto explica o fato de ele e sua igreja jamais terem sido cristãos. Católicos, sim; cristãos, nunca. Não basta seguir objetiva e mecanicamente mandamentos e rituais. Isto os fariseus também faziam.

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