sábado, 12 de fevereiro de 2011

TERAPEUTICA

Cura pela razão e pela fé – II.

A cultura humana produz benefícios e malefícios. Entre os males do mundo da cultura estão o genocídio, o terrorismo, o racismo, o narcisismo, o fanatismo ideológico e religioso, a intolerância, a violência, o preconceito, a frouxidão dos costumes (consumo de drogas, prostituição, tráfico de mulheres e crianças, libertinagem, corrupção, deterioração dos laços da família, precária e seletiva transmissão do conhecimento, caráter mal formado, ausência de espírito fraterno), as moléstias derivadas da competição desenfreada (depressão, hipertensão, diabetes), o materialismo, o consumismo, as desigualdades sociais e econômicas (desemprego, miséria, fome), a poluição ambiental, conflitos internos e externos, rebaixamento da dignidade humana.

Desde os primórdios da civilização há uso de alucinógenos, sensualismo, cobiça, inveja, orgulho, insensatez, mentira, traição, perversidade, difamação, fraude, saques, assassinatos, guerras, ações predatórias. Processos mentais configuram o egocentrismo, o nacionalismo exacerbado, a disputa por riqueza, poder, fama, honrarias. Distintos interesses separam pessoas e nações. O Jardim do Éden nunca existiu e nem o homem ali foi criado há seis mil anos. Cuida-se de lenda, como a de Shangri-lá e Atlântida. Francis Bacon sugere que a Atlântida de Platão pode ser o continente americano, desconhecido naquela época. O paraíso e a queda do homem são crenças infantis. Não houve degradação alguma e sim evolução física e mental da espécie humana através de milhões de anos.

Todos os males biológicos e psíquicos que afligem a humanidade decorrem dos equívocos na dieta, no comportamento individual e social, na medicina, na ciência, na filosofia e na religião. Há excesso de população e seitas que se opõem ao controle da natalidade. Entre alguns povos a produção de alimentos é insuficiente para atender a demanda. A fome desespera, enfraquece e mata. Nos países capitalistas os ganhos na economia formal ficam restritos a uma parcela da população. A probabilidade de perder o emprego ou de a empresa falir por causa das crises periódicas gera tensão e ansiedade nas pessoas. O desemprego e a falta de recursos desesperam e deprimem. Os excluídos moram na periferia das cidades, em locais insalubres e inseguros, sujeitos a infecções, inundações, perda de vidas e de bens. A competição para galgar boas posições no Estado, na empresa, na profissão, na sociedade, provoca exaustão física e mental. As religiões disputam o recrutamento de crentes, ambicionam a hegemonia espiritual e o crescimento patrimonial; despertam ódios e criam um clima desfavorável à fraternidade universal. A competição entre as nações pelas riquezas naturais do planeta e pelo desenvolvimento econômico ilimitado causa angústia, guerra, morte e destruição.

Se a raça humana fosse extinta, nenhuma falta faria a Deus e à natureza. O ser humano está longe, muito longe de gozar qualquer privilégio divino e de ser a imagem e semelhança de Deus. O escritor hebreu referia-se ao deus hebreu quando lançou a seguinte inversão que colou na civilização ocidental: “Então deus disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gênesis I: 26,27). A verdade que se extrai ao longo do Antigo Testamento está na forma contrária: o escritor hebreu criou esse deus à imagem e semelhança do homem hebreu e o chamou de Javé (ou Jeová): genocida, cruel, exclusivista, materialista, invasor, belicoso. O deus hebreu e o homem, mais do que semelhantes, são iguais.


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