Na escola primária, minha professora ensinava: ao chegar a algum lugar você deve
cumprimentar quem lá estiver. Achei aquilo bonito. Você deve cumprimentar os mais velhos e não esperar que eles te
cumprimentem, ela dizia. Pensei: deixar de cumprimentar os mais novos
também não é falta de educação? Pelo meu semblante ela certamente notou a minha
estranheza. Claro que não a contestei. Nós, crianças, respeitávamos os pais, os
professores e os idosos. Vejam como sou antigo! Coloquei a lição em prática. Como resposta,
eu recebia olhares de censura que pareciam dizer: garoto atrevido! Naquele tempo criança não se metia na conversa de
adulto. O meu cumprimento interrompia a reunião. Achei melhor ficar quieto. Seguiria
a lição da professora quando fosse adulto.
Minha mãe advertia: respeite suas namoradas; não faça mal a elas; lembre-se que você tem
irmãs. Tradução: não transe com elas e não lhes tire a virgindade. Para
noivar e casar a virgindade da moça era requisito essencial. Ao descobrir que a
moça não era mais “moça” o marido enganado a devolvia à casa paterna. Se aquelas
advertências maternas houvessem ocorrido nos anos 70 eu teria dito: pô mãe, antes de transar com a namorada lembrar
da minha irmã? Isto é incesto psíquico! Não transar com a namorada por que tenho
irmã? Isto é castração psíquica! Minha namorada de 14 anos era apetitosa. Polaca
de olhos verdes, pele macia, seios arredondados, pernas torneadas, que meus
fogosos 18 anos acariciavam. O pai dela não queria o namoro; só depois de a
filha completar 16 anos e com alguém de futuro e não com um pé-rapado como eu.
A mãe dela apoiava o namoro. Deixei-a virgem (a filha). As advertências da
minha mãe funcionavam ainda; depois, caíram em desuso.
Triste é constatar as dificuldades e o sofrimento dos
nossos irmãos desafortunados. Os mais afortunados devem evitar o sentimento de
culpa, regozijar-se e agradecer a Deus por não dependerem da previdência social
para cuidar da saúde. A contribuição previdenciária paga por exigência legal é
vista por alguns afortunados como contribuição aos desafortunados. Se houvesse
a igualdade mencionada no direito e na política (e mais compaixão) a diferença
entre afortunados e desafortunados não seria tão acentuada. O bem-estar e as
condições para uma vida feliz devem ficar ao alcance de todos. Para atingir
essa relativa igualdade há que evitar o nivelamento por baixo. O nivelamento há
de ser por cima: enriquecer o pobre.
No Brasil, as famílias dos presidiários ganham salário
enquanto perdurar a reclusão. Cada membro da família (esposa, companheira, filho)
recebe quase o dobro do salário mínimo. Segundo o número de dependentes do
criminoso, a renda mensal pode atingir mais de três mil reais. O salário-reclusão
é pago com as contribuições do trabalhador à previdência social. Há trabalhador
ganhando menos do que presidiário. Os recursos da previdência oficial devem
beneficiar o trabalhador e não o criminoso. O trabalhador não deve ganhar menos
do que o presidiário, nem o salário do professor ser inferior ao de motorista
servidor público.
Da mentalidade tacanha provém a decisão dos
governantes, a partir do governo Kubitschek, de reduzir a rede ferroviária.
Para implantar a indústria automobilística não havia necessidade alguma de
acabar com o transporte ferroviário. A república brasileira não estava obrigada
a assinar contratos com a cláusula de abandono das ferrovias. Os países do
hemisfério norte mantiveram as suas ferrovias, ampliaram a malha e
aperfeiçoaram os trens. Por covardia e estupidez, os governantes brasileiros
sucumbiram ante as exigências da indústria estrangeira.
O improvável equipara-se a uma fronteira móvel, hoje está no ponto x,
amanhã no ponto y, à medida que se amplia o conhecimento humano. À
medida que a ciência progride a ignorância regride. Com o conhecimento cresce a
percepção da nossa ignorância. Quanto mais evolui o espírito humano mais a
superstição empalidece.
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