A deposição pelo governo central da junta governativa eleita
pelo povo causou forte reação liberal em Pernambuco (1822). Com a outorga da Carta Imperial (1824) a oposição republicana inflamou-se. O caldo entornou quando
o governador escolhido pelo povo (Paes
de Andrade) foi
substituído por outro (Pais Barreto). Os pernambucanos recusaram o
indicado, mantiveram o eleito, romperam com o poder central e organizaram a Confederação do Equador (referência à linha planetária). As províncias do Maranhão, Ceará,
Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Bahia aderiram à confederação. Os
líderes confederados convocaram assembléia constituinte para organizar um
Estado nos moldes dos EUA. Divergências internas enfraqueceram o movimento
republicano que terminou derrotado pelas forças imperiais de terra e mar.
No Sul, a Província Cisplatina pretendia desligar-se do
Brasil e integrar-se às Províncias Unidas do Rio da Prata (Argentina). Apoiados pela população local, os platinos invadiram a
província. O governo brasileiro reagiu com força militar (1825). Três anos depois, com a intermediação da Inglaterra, as
partes beligerantes celebraram a paz, ocasião em que foi reconhecida a
independência da Cisplatina e a sua conversão em Estado soberano: República
Oriental do Uruguai (1828).
No período da regência que se seguiu à abdicação de Pedro I (1831
a 1840) houve levantes populares como a cabanagem, na Província do Grão-Pará,
a sabinada na Província da Bahia e a balaiada, na Província do Maranhão.
A cabanagem proveio das agruras daquela gente pobre e trabalhadora (sertanejos, ribeirinhos, negros, índios, caboclos, mulatos), cujas habitações pareciam cabanas,
de onde derivou o nome desse movimento social (1835 a 1840). Os cabanos pleiteavam melhores
condições de vida. Desatendidos e reprimidos pelo governo, reagiram e partiram
para a luta armada. Sem planejamento, guiavam-se pela emoção e pela intuição.
Expulsaram o presidente da província, assumiram o governo, mas não sabiam o que
fazer. Embora insatisfeitos com o status
quo, faltava-lhes ideário e projeto de mudança (só vontade e insatisfação eram insuficientes para
governar). A sabinada,
nome derivado do seu líder, o médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira,
foi uma revolta urbana que obteve a adesão de parte das forças imperiais,
libertou Bento Gonçalves da prisão em Salvador, expulsou o presidente da
província e proclamou a República da
Bahia (1837 a 1838). Por causa do seu ofício, Francisco
dos Anjos Ferreira recebeu o apelido de Balaio.
O movimento liderado por ele e que se caracterizou como guerrilha rural,
recebeu o nome de balaiada. Ele se
revoltou contra a autoridade pública quando viu impunes os policiais que
violentaram suas duas filhas. À semelhança do outro Ferreira (Virgulino, o Lampião) formou um bando, percorreu o
interior da província praticando violência e ampliou sua revolta contra o
governo imperial (1838 a 1841).
Os distúrbios continuaram com Pedro II no governo (maioridade antecipada). Em Pernambuco, marginalizados da
atividade econômica, os brasileiros revoltaram-se contra os lusitanos (comerciantes e senhores de engenho). Denominado revolta praieira (nome
derivado da Rua da Praia onde se localizava o jornal dos liberais) o movimento começou na capital e
adentrou a província apoiado pelos liberais radicais (1844
a 1850). Os pernambucanos almejavam participar da atividade comercial, obter
garantia de trabalho e voto livre e universal, entre outros direitos. No Sul,
descontentes com a centralização política e com a concorrência platina no
comércio do couro e do charque, ruralistas se revoltaram. Na estância, peões e
escravos largavam o trabalho e pegavam em armas para defender os interesses do
patrão e suas idéias separatistas e republicanas. Conhecido como guerra dos
farrapos, esse movimento foi
liderado por Bento Gonçalves, aclamado Presidente da República Riograndense (1835 a 1845). A revolução farroupilha estendeu-se
à Província de Santa Catarina onde foi proclamada a República Juliana. Houve, ainda, operações militares na Argentina,
contra o governo de Rosas (1851 a 1852); no Uruguai, contra o governo de Aguirre
(1864); e no Paraguai, contra o governo de Solano Lopez (1864
a 1870).
A deposição de Pedro II resultou do golpe contra a monarquia
desferido por um grupo de militares. A população ficou surpresa. Política era
negócio da elite (donos de fazendas e engenhos,
banqueiros, empresários, bacharéis, intelectuais). Liberais de um lado e conservadores de outro
disputavam o governo; todos ricos ou bem amparados no erário. A parcela humilde
da população se entristeceu com o exílio do Imperador, homem sexagenário,
culto, estimado e visto como um pai bondoso. O movimento republicano
intensificou-se diante dos efeitos sociais e econômicos da abolição da
escravatura. As idéias republicanas vinham de longe, motivaram a dissolução da
primeira assembléia constituinte e geraram conflitos internos até desaguarem no
golpe militar de 1889. Essas idéias espelhavam a vocação da América para a
república (oposta à vocação da Europa
para a monarquia). Depois
da independência, as colônias européias no continente americano se tornaram
repúblicas.
A América Portuguesa formara uma sociedade escravocrata do
século XVI ao XIX. A pretexto da perda da mão-de-obra escrava, os fazendeiros e
senhores de engenho colocaram-se contra a monarquia. Os destinos do Brasil
continuavam nas alvas mãos do patriciado (feição
aristocrática da sociedade brasileira). A exploração da borracha na região amazônica aumentou a
riqueza da aristocracia rural, trouxe luxos urbanos e empregos a nordestinos e
nortistas. No sul do Brasil, os cafeicultores progressistas reivindicavam maior
autonomia às províncias e a descentralização do poder político visando à pronta
e eficiente solução dos seus problemas. Pleiteavam incentivo à imigração,
financiamento de ferrovias e crédito à produção. O setor agrário e o exportador
predominavam na economia. O surto industrial, a expansão das ferrovias e dos
estabelecimentos de crédito, o desenvolvimento do comércio e dos serviços
urbanos geraram uma classe média urbana que pouco a pouco foi se fortalecendo
com maior participação na vida política e se integrando à corrente republicana.
Essa corrente ganhou um forte elo ao ser apoiada pela igreja católica desde que
o governo imperial se recusou a acatar bula do Papa que proibia vínculo de
católicos com maçons (1864). Obedecendo à bula, os bispos expulsaram
os maçons das irmandades religiosas (1873). O governo imperial processou os
bispos e os condenou à prisão com trabalhos forçados (depois, eles foram anistiados). Separação entre Estado e Igreja
fazia parte do ideário republicano.
Após
a guerra com o Paraguai, o exército brasileiro se fortaleceu e não mais se
conformou com o pouco apreço que lhe devotava o mundo civil. Oficiais e alunos
da Escola Militar aderiram ao positivismo de Augusto Comte. Isto lhes ensejou
autoridade intelectual e um rumo político e ideológico seguro. Os militares
estavam contrariados com algumas decisões do governo imperial, inclusive as
concernentes à captura de escravos; achavam-se também no direito de participar
do governo de modo mais efetivo. O militarismo integrou a vida republicana
desde o nascedouro. O exército recrutou pessoal em todas as camadas sociais,
equipou-se materialmente, elaborou doutrina militar e criou mentalidade própria
das forças armadas, o que lhe ensejou papel institucional relevante.
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