terça-feira, 3 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


PAI NOSSO.

Os apóstolos Mateus e Lucas reproduzem essa oração ensinada por Jesus no sermão da montanha. Os demais apóstolos silenciam a respeito. Segundo Lucas, os discípulos solicitaram ao mestre que lhes ensinasse a rezar. Mateus não menciona tal solicitação e coloca a prece no bojo do discurso que Jesus proferia sem interrupção.   

Depreende-se do evangelho de Mateus, que o mestre ensinava o modo de rezar. O discípulo devia orar em segredo, isolado em um quarto, com portas fechadas, sem multiplicar as palavras, diferente dos hipócritas que gostam de orar em pé nos templos e nas esquinas das ruas. No dizer do apóstolo Marcos, as palavras devem sair conforme inspiração do momento, pois antes de serem pronunciadas, Deus sabe quais serão (Mc 13: 11). A atitude de fé, de respeito e de recolhimento vale tanto quanto as palavras. Jesus exemplifica. Entretanto, os seus seguidores mantêm atitude diversa e congelaram as palavras do exemplo como se fossem únicas e eternas:

Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. (Mt 6: 5-13)

Pai, santificado seja o vosso nome, venha o vosso reino, dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento, perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos aqueles que nos ofenderam e não nos deixeis cair em tentação. (Lc 11: 2-4).

Da comparação entre o texto de Mateus e o texto de Lucas, percebe-se que a linguagem dos apóstolos não espelha fielmente as idéias e as palavras do mestre. Nesta e em outras passagens, os quatro evangelistas colocam na boca de Jesus palavras que ele não disse, pois algumas são contraditórias e outras desprovidas de sentido. Marcos e Lucas não são testemunhas da vida de Jesus. Marcos narra o que lhe contou o apóstolo Pedro. Lucas declara expressamente, no prólogo do seu evangelho, não ter sido testemunha ocular dos acontecimentos. Mateus e João, apóstolos da primeira hora, escreveram depois de 50 e 70 anos da crucifixão de Jesus, respectivamente, lapso de tempo favorável ao esquecimento e à confusão. Além disto, o clero procedeu a acréscimos e supressões que desfiguraram a mensagem original. O evangelho de Mateus foi escrito em aramaico; os três restantes, em grego; todos traduzidos para o latim em conseqüência do domínio romano. Durante os séculos IV (anos 301 a 400) e V (anos 401 a 500), Jerônimo, erudito sacerdote católico, procedeu, a pedido do papa Dâmaso, à revisão das versões latinas dos evangelhos e os reuniu na versão denominada Vulgata. Após a queda do império romano, o latim perdeu, paulatinamente, o papel de língua universal. A partir do século XIII (anos 1201 a 1300) a bíblia começa a ser traduzida para o vernáculo de reinos medievais e de nações modernas. No século XX (anos 1901 a 2000), centros de estudos bíblicos traduziram textos originais dos apóstolos – e não exclusivamente dos quatro evangelistas – o que possibilitou melhor compreensão daquele movimento histórico. Nessa viagem de dois mil anos, passando por diferentes mãos, épocas e contextos históricos, os evangelhos sofreram interpolações. Há discrepâncias que abalam sua credibilidade.

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