IV
Bendito é o fruto do vosso ventre: Jesus.
A frase atribuída a Izabel
“bendito é o fruto do teu ventre” consta apenas do evangelho de Lucas. Antes da
duvidosa visita de Maria a Izabel, o futuro embrião já estava abençoado
conforme as palavras tranqüilizadoras do anjo Gabriel: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que
conceberás e darás luz a um filho e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande
e chamar-se-á Filho do Altíssimo e o senhor Deus lhe dará o trono de seu pai
Davi (Lc 1: 30-32). Os escritores bíblicos eram obcecados por nomes e
genealogia. Gabriel explica a Maria: “Descerá sobre ti o Espírito Santo e o
poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo
que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1: 35). Como se vê da
narrativa, Maria ainda não estava grávida quando o anjo apareceu. Isto indica a
forte probabilidade de Gabriel haver seduzido Maria. Ela cede ao encanto
daquele belo jovem e se entrega: Eis aqui
a serva do senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1: 38).
Gabriel, então, desce sobre ela como se fora o espírito santo, a penetra e faz
a santa semeadura. Excitado, Gabriel se esquece da profecia do Antigo
Testamento, segundo a qual o nome do menino teria de ser Emanuel, que significa
Deus está conosco e não Jesus, que
significa Salvador.
Quando Lucas escreveu tal
evangelho, o estrago já estava feito: o filho primogênito de Maria chamava-se
Jesus e não Emanuel. Rezando para ninguém notar, Lucas põe na boca do anjo
Gabriel o nome Jesus no lugar de Emanuel. Depois, para disfarçar, sai a passeio
com as mãos no bolso, assobiando e olhando as nuvens.
Lucas atribui dois pais a Jesus, Deus e Davi, para
convencer os crentes de que o profeta era judeu e também o messias anunciado no
Antigo Testamento. Jesus não era uma coisa, nem outra; viveu e morreu sem
ocupar o trono de Davi. Jesus recusou esse trono ao dizer que o reino dele não
era deste mundo. Isto causou o afastamento de muitos discípulos que esperavam
um messias político, guerreiro, que derrotasse os romanos e restaurasse o trono
de Davi (entre os judeus, o trono de Davi era mais importante do que o trono de
Salomão). Inteligente e sensível, Jesus percebeu que a insurgência contra os
romanos era suicídio. A história lhe deu razão. Os judeus se rebelaram (ano
66). Os romanos venceram-nos e destruíram Jerusalém (ano 70). Quanto ao trono
celeste, Jesus o compartilha com outros avataras. Rola muita fantasia a
respeito. A expressão “senhor Deus” resulta da distinção que havia na família,
na tribo, na aldeia, na cidade, no reino entre: pai e filhos, chefe e
subordinados, comandante e comandados, proprietário e servos, rei e povo.
Diante da onipotência divina, aquela expressão (“senhor Deus”) se mostra
redundante e reflete apenas a organização social dos humanos.
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