VI
Rogai por nós, pecadores.
Pecado é o crime religioso, a
violação das leis ditadas pelo clero supostamente em nome de Deus. Pecador é
quem o comete por ação ou omissão. A artificiosa maneira de provocar o
sentimento de culpa no crente passou do judaísmo para o cristianismo, assim
como o temor à divindade. A doutrina do pecado original está na base desse
artifício.
Impotente em face do pecado, o
cristão roga a intercessão de Maria junto a Deus. O pressuposto desta prece é a
separação entre os santos e os pecadores. Haverá pecadores até o final dos
tempos. Os homens serão julgados segundo as suas obras e palavras. Adepto desta
doutrina, Jesus sabia que não nascera para salvar a humanidade e trazer paz ao
mundo: Não julgueis que vim trazer paz a
terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o
filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do
homem serão as pessoas da sua própria casa (Mt 10: 34-36 + Lc 12: 51-53). A
redação dessa passagem é pouco diferente nas bíblias das editoras Barsa,
Sociedade Bíblica e Gideões Internacionais, sem alterar o essencial.
Do exame conjunto dos evangelhos
e das epístolas verifica-se que Jesus tinha por objetivo criar uma comunidade
de santos. Na epístola dirigida às igrejas estrangeiras Pedro confirma a
intenção do mestre: “e quais outras pedras vivas, vós também vos tornais os
materiais desse edifício espiritual, um sacerdócio santo” (Pedro 2: 5). Jesus
estava cônscio de que não nascera para expiar os pecados do mundo; haveria
pecadores até o mundo acabar. No seu ministério, ele sempre deixou nítida a
separação entre os santos (seguidores da sua doutrina) e os pecadores (o resto
da humanidade). Afirmava ser estreita a porta que conduzia ao reino de Deus e
que poucos a cruzariam. No sermão da montanha, ele aconselha os ouvintes:
“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que
conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a
porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram” (Mt 7:
13-14). No caminho de Jerusalém, alguém perguntou: Senhor: são poucos os homens que se salvam? Ele respondeu: Procurai entrar pela porta estreita porque, digo-vos,
muitos procurarão entrar e não o conseguirão (Lc 13: 22-24).
Faltam alicerces à doutrina
salvacionista e do juízo final. A humanidade não foi salva. Permanecem os males
que a afligem. “No dia do juízo os homens prestarão conta de toda palavra vã
que tiverem proferido” (Mt 12: 36-37). Não haveria conta a prestar se Jesus
tivesse salvado a humanidade. “Vigiai, pois, em todo o tempo, e orai a fim de
que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer” (Lc
21: 36). “Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus.” (Jo
17: 9). Ao dizer todas essas coisas, Jesus evidencia a discriminação e admite
gente predestinada. Os eleitos (minoria) serão premiados com a felicidade
eterna e os pecadores castigados com o fogo eterno. “Haverá juízo sem
misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa
sobre o julgamento” (Tiago 2: 13).
Agora e na hora da nossa morte. Amém.
O cristão católico suplica a Maria que rogue a Deus
por ele, enquanto vida tiver. Assim, o devoto pode entrar para a comunhão dos
santos. Depois da morte, ele espera entrar no céu pela graça divina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário