V
Santa Maria, mãe de Deus.
Há divergência entre a bíblia
católica da editora Ave Maria e as bíblias das demais editoras. Naquela, não
consta menção à primogenitura nem ao limite de tempo em que a adolescente Maria
permaneceria virgem (Mt 1: 25). Nas outras bíblias consta que ela permaneceria
sem ter relações sexuais com José até
dar luz ao primogênito, ou enquanto
não viesse à luz o filho primogênito. A referência à primogenitura indica que o
autor, quando escreveu o texto, sabia da existência de irmãos de Jesus. A prole
vem confirmada nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas: “Não é ele o
carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
Não vivem aqui entre nós, também, suas irmãs?” (Mt 13: 55-56; Mc 3: 31-32 + 6:
3-4; Lc 8: 19-20). A expressão “até” acontecer ou “enquanto” não acontecer
algum fato, separa o presente do futuro; indica que após o fato acontecer haverá
mudança; até o parto, abstinência; depois do parto, relação sexual. Maria pariu
mais seis filhos.
Santa é possível. Afinal, parir e criar sete filhos em sociedade
patriarcal é de santificar qualquer mulher honesta. Mãe de Deus é impossível. Sendo onipotente, onisciente,
onipresente, Deus não tem genitores; ele que é o pai e a mãe do mundo. A
expressão “mãe de Deus” destinava-se a convencer os fiéis de que Jesus e Deus
eram a mesma essência. Destarte, se Maria era mãe de Jesus, então também o era
de Deus. Lógica falaciosa com o intuito de divinizar o profeta e, assim, amparar
a doutrina da santíssima trindade copiada do sistema religioso hindu que inclui
o culto à trindade: Brahmã (criador) + Vishnú (conservador) + Shiva (renovador),
incorporada ao cristianismo pelo clero católico na Idade Média. Trindade havia
no Egito (Osíris + Isis + Horus), na Pérsia (Varuna + Indra + Naatya) e na
Grécia (Urano + Gaia + Eros).
A doutrina católica da trindade presta
vassalagem não só à teogonia oriental (brâmane, egípcia, persa) como também à ocidental
(grega e romana) e à mística do número três herdada dos pitagóricos. Essa mística
envolve o triângulo e diversas tríades dentro e fora do campo da religião, tais
como: (i) a de Platão: mundo real (divino) + mundo virtual (natureza) + verbo
divino (logos); (ii) de Hegel: tese + antítese + síntese; (iii) de Comte: ordem
+ progresso + amor; (iv) de Gandhi: não violência (ahimsa) + força da verdade
(satyagraha) + governo autônomo (swaraj); (v) da Psicologia: pensamento +
sentimento + vontade; (vi) da revolução francesa: liberdade + igualdade +
fraternidade.
Mediante o artifício da
divinização, os bispos visavam ao incremento da catequese e aumento do rebanho,
o que a igreja conseguiu no curso dos séculos. O mistério da trindade foi
criado no Concílio de Nicéia (325 d.C.), aprovado pela maioria dos bispos,
quando ficou assentado que Pai, Filho e Espírito Santo, eram consubstanciais,
três pessoas em uma só substância. O mistério foi rejeitado pelos bispos do
Concílio de Antioquia (341 d.C.). Depois de avanços e recuos, finalmente o
mistério foi convertido em dogma no Concílio de Latrão IV (1215).
A igreja cristã adquiriu poder na esfera espiritual e
na esfera secular; acumulou riqueza fabulosa e domínio político e social. Os
mitos da divindade de um ser humano (faraó, imperador, sacerdote, profeta) e do
nascimento virginal, integram a cultura de povos antigos. Milhões de pessoas
ainda acreditam nos relatos mitológicos.
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