sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

ORAÇÃO


V

Santa Maria, mãe de Deus.

Há divergência entre a bíblia católica da editora Ave Maria e as bíblias das demais editoras. Naquela, não consta menção à primogenitura nem ao limite de tempo em que a adolescente Maria permaneceria virgem (Mt 1: 25). Nas outras bíblias consta que ela permaneceria sem ter relações sexuais com José até dar luz ao primogênito, ou enquanto não viesse à luz o filho primogênito. A referência à primogenitura indica que o autor, quando escreveu o texto, sabia da existência de irmãos de Jesus. A prole vem confirmada nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas: “Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós, também, suas irmãs?” (Mt 13: 55-56; Mc 3: 31-32 + 6: 3-4; Lc 8: 19-20). A expressão “até” acontecer ou “enquanto” não acontecer algum fato, separa o presente do futuro; indica que após o fato acontecer haverá mudança; até o parto, abstinência; depois do parto, relação sexual. Maria pariu mais seis filhos.

Santa é possível. Afinal, parir e criar sete filhos em sociedade patriarcal é de santificar qualquer mulher honesta. Mãe de Deus é impossível. Sendo onipotente, onisciente, onipresente, Deus não tem genitores; ele que é o pai e a mãe do mundo. A expressão “mãe de Deus” destinava-se a convencer os fiéis de que Jesus e Deus eram a mesma essência. Destarte, se Maria era mãe de Jesus, então também o era de Deus. Lógica falaciosa com o intuito de divinizar o profeta e, assim, amparar a doutrina da santíssima trindade copiada do sistema religioso hindu que inclui o culto à trindade: Brahmã (criador) + Vishnú (conservador) + Shiva (renovador), incorporada ao cristianismo pelo clero católico na Idade Média. Trindade havia no Egito (Osíris + Isis + Horus), na Pérsia (Varuna + Indra + Naatya) e na Grécia (Urano + Gaia + Eros).

A doutrina católica da trindade presta vassalagem não só à teogonia oriental (brâmane, egípcia, persa) como também à ocidental (grega e romana) e à mística do número três herdada dos pitagóricos. Essa mística envolve o triângulo e diversas tríades dentro e fora do campo da religião, tais como: (i) a de Platão: mundo real (divino) + mundo virtual (natureza) + verbo divino (logos); (ii) de Hegel: tese + antítese + síntese; (iii) de Comte: ordem + progresso + amor; (iv) de Gandhi: não violência (ahimsa) + força da verdade (satyagraha) + governo autônomo (swaraj); (v) da Psicologia: pensamento + sentimento + vontade; (vi) da revolução francesa: liberdade + igualdade + fraternidade.

Mediante o artifício da divinização, os bispos visavam ao incremento da catequese e aumento do rebanho, o que a igreja conseguiu no curso dos séculos. O mistério da trindade foi criado no Concílio de Nicéia (325 d.C.), aprovado pela maioria dos bispos, quando ficou assentado que Pai, Filho e Espírito Santo, eram consubstanciais, três pessoas em uma só substância. O mistério foi rejeitado pelos bispos do Concílio de Antioquia (341 d.C.). Depois de avanços e recuos, finalmente o mistério foi convertido em dogma no Concílio de Latrão IV (1215).   

A igreja cristã adquiriu poder na esfera espiritual e na esfera secular; acumulou riqueza fabulosa e domínio político e social. Os mitos da divindade de um ser humano (faraó, imperador, sacerdote, profeta) e do nascimento virginal, integram a cultura de povos antigos. Milhões de pessoas ainda acreditam nos relatos mitológicos.

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