quarta-feira, 11 de abril de 2012

PÁSCOA2


A idéia central da páscoa cristã é a ressurreição de Jesus, o Cristo. Demonstrada a falsidade dessa idéia, a comemoração perde o sentido. Se não houver morte, não haverá ressurreição. A morte do corpo humano ocorre quando cessam as funções respiratória, cardíaca e cerebral; não mais atuam instinto, desejo, vontade, sentimento, pensamento. Ao processo de integração sucede o de desintegração. Se o cérebro deixa de funcionar, os procedimentos para revitalizar o organismo são inócuos; quando muito, recuperam vida vegetativa. A história da medicina e a crônica vulgar registram casos de morte aparente, perda temporária dos sentidos físicos. A morte definitiva resulta do processo de mutação universal no mundo físico citado por Heráclito e Lavoisier. Para o místico, a morte do ser humano significa passagem do mundo material ao mundo espiritual com o acervo consciente da personalidade.

O ciclo vital do ser humano provoca o sonho da eternidade. A bíblia hebraica (antigo testamento) e cristã (novo testamento) vem embalada neste sonho. A ressurreição faz parte deste sonho. Da leitura do episódio narrado pelos evangelistas – do qual falta registro exotérico historicamente válido – verifica-se que Jesus foi retirado da cruz ainda com vida; que não houve ressurreição e sim artimanha. A crucifixão serviu para facilitar a aceitação e a difusão da doutrina de Jesus; com este propósito, foi estabelecida a crença na morte e ressurreição. Herodes Antipas, tetrarca da Galiléia, autoridade competente para decidir o caso criado pelo sacerdócio judeu, absolveu Jesus. Pilatos acatou a decisão do tetrarca e declarou Jesus inocente. Os sacerdotes acusaram o general de proteger um subversivo e ameaçaram levar o fato ao conhecimento do imperador romano. Pilatos lavou as mãos. Para não se complicar, permitiu a aplicação da lei romana (morte por crucificação) já que a lei judaica (morte por apedrejamento) não podia ser aplicada – não só por causa da páscoa no sábado – como também por determinação legal de Roma.

Convicto da inocência de Jesus, Pilatos autorizou José de Arimatéia a retirar o corpo da cruz sem que lhe fossem quebradas as pernas. O curto período na cruz foi insuficiente para causar a morte. Além de Jesus, dois crucificados permaneciam vivos; quebraram-lhes as pernas para apressar a morte. Pilatos cumpriu o seu dever: (i) como soldado, perante o imperador, ao permitir que Jesus fosse crucificado por subversão denunciada pelos sacerdotes; (ii) como civil, perante a sua consciência, ao permitir que Jesus fosse retirado da cruz ainda com vida. De um lado, Pilatos atendeu aos judeus; de outro, aos cristãos. O apóstolo Marcos menciona o testemunho do centurião sobre a morte de Jesus (Mc 15: 44,45), formalidade que Pilatos validou prontamente. No direito romano, a forma era essencial à validade de certos atos. O centurião recebera propina para dar esse testemunho (Mt 28: 12).

Jesus foi socorrido no sepulcro de propriedade de Arimatéia; mudou o visual para não ser reconhecido pelos fariseus; nem Maria Madalena o reconheceu (Jo 20: 11,15); os demais discípulos só ficaram convencidos após verem as feridas deixadas nas mãos de Jesus e assistirem à sua refeição (Mt 28: 17; Mc 16: 14; Lc 24: 16, 36, 43; Jo 21: 4). Durante sete anos, aproximadamente, os apóstolos conviveram com um nazareno, homem de cabelos longos, barba comprida, bigode, vestindo túnica branca e calçando sandálias. Ao se defrontarem com um homem de rosto liso, cabeça raspada, vestuário comum, que se apresentava como o rabi crucificado, a reação de descrédito foi natural e imediata. Cumpridos os votos e a missão, os nazarenos podiam cortar os cabelos, a barba, o bigode, usar trajes do costume social e encetar vida comum. Encerrada a sua missão, Jesus retira-se da vida pública e termina seus dias longe de Jerusalém, ao lado da sua amada.

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