sexta-feira, 27 de abril de 2012

ABORTO5


Quando referido à vida humana, o aborto extrapola os lindes do direito, pois interessa à religião e às ciências biológicas e comove a sociedade. Daí a facilidade de pensamentos e crenças estranhos à prestação jurisdicional serem introduzidos no processo judicial gerando confusão e prolixidade por falta de percepção da diferença entre a linguagem do direito e a linguagem da religião, da física e da matemática. Em linguagem livre, foi publicado neste blog (fevereiro de 2010) artigo sobre a vida, seguido de dois outros sobre iluminação mental e amor (tríade mística: vida, luz e amor). O texto adverte para as diversas acepções do vocábulo vida. A mais ampla é a de energia inteligente que gera o universo e o mantém em movimento. Tal energia cria a matéria na sua estrutura mineral, vegetal e animal, segundo padrões inteligentes que a mente humana apreende como leis da natureza. Nada se perde. Tudo flui e se transforma. Esses padrões são gerados pela mente cósmica ou divina, conforme doutrina mística ainda não encampada pela ciência.

As diferentes manifestações da vida acontecem quando o planeta reúne condições ambientais favoráveis. Na Terra, a combinação química adequada ensejou a vida vegetal e animal há milhões de anos. Em decorrência do complexo químico e físico que lhes dá existência e características próprias (sensibilidade, nutrição, reprodução, defesa, pulsão na linha evolutiva desde as espécies germinais simples até os organismos mais complexos) os vegetais e animais receberam dos cientistas o tratamento de seres vivos para distingui-los dos minerais. No amplo sentido, o universo é um ser vivo. No sentido estrito, ser vivo cumpre ciclo natural: nascimento, crescimento, maturidade, envelhecimento, morte. Reage ao meio ambiente e aciona mecanismos de conservação da espécie. Os animais buscam alimento, abrigo e acasalamento. Os animais racionais têm a vida abreviada por atos voluntários e involuntários, coletiva ou individualmente: guerra, rebeliões, acidentes com veículos, hábitos nocivos, suicídio, infanticídio, homicídio, genocídio. O feto ainda não é animal e sim projeto que poderá ou não ser concluído com êxito. No útero, falta autonomia ao nascituro. Este apenas se torna animal ao respirar fora do útero e ativar o sistema nervoso, respiratório, circulatório e digestivo do seu próprio organismo. Vida significa também o modo de ser e de estar no mundo: vida familial, social, política, econômica, monástica. A um ambiente agitado diz-se que tem vida. Há vida interior quando a pessoa relaciona-se consigo mesma (cogita, reza); há vida exterior quando se relaciona com os outros (comunica, expressa).

A provável exaustão das fontes de abastecimento diante do crescimento demográfico exige controle da natalidade e redução do consumo. Os métodos anticoncepcionais e o aborto são vistos como parte da solução desse grave problema mundial. Países de todos os continentes adotam medidas restritivas ao aumento da população (China é o exemplo mais citado). Tragédias decorrentes de fatores naturais (terremotos, maremotos) têm ceifado milhares de vidas humanas. Contam-se aos milhares os mortos em conflitos e acidentes. Ainda assim, o aumento da população preocupa líderes da Europa e da América. A igreja cristã se opõe tenazmente ao aborto. Qualifica-o de assassinato, como se o embrião fosse pessoa. Coloca-se contra o direito posto pelo Estado. Faz terrorismo moral e religioso, esquecida de que ela própria torturou e matou milhares de pessoas. Há crenças e idéias diferentes entre indivíduos e nações. Merecem respeito. Da vida racional surgem conceitos radicais: (i) de espiritualidade, que conduzem ao desprezo do corpo (ii) de materialidade, que conduzem ao desprezo da alma. As posições intermediárias merecem acatamento. A reflexão filosófica assenta-se na razão enquanto a religião assenta-se na emoção. O alicerce é o mesmo para todos: a natureza física, emocional e racional do ser humano. As necessidades do corpo e da alma reclamam satisfação. A plenitude da vida humana abrange os dois mundos: material e espiritual. Considerada a dupla dimensão do mundo, morte significa a passagem da vida material à espiritual. O corpo se desintegra (tu és pó e ao pó retornarás); a personalidade anímica se funde na alma universal (a casa do meu pai tem muitas moradas).

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