O sentimento de alegria e de
esperança por um futuro risonho repete-se todo final de ano. As padronizadas
festas motivam reflexões de variados matizes expressas em linguagem poética ou
literária, matéria de revistas, jornais, programas de televisão e de intensa
propaganda comercial. Renovam-se os votos de saúde, prosperidade, amor e
felicidade. Paz é palavra freqüente
nesses festejos em que as pessoas se vestem de branco, se abraçam, cantam,
dançam, riem, comem, bebem, soltam fogos e estouram bombas. Euforia. Costume
raso. Promessas de mudança jamais
cumpridas. Para alguns, o ano velho foi muito bom e não convém mudar. Vida
nova! Exclamam outros, sem convicção. Temas correlatos à paz, como o místico
trinômio luz + vida + amor, o binômio eu + tu e a felicidade, foram tratados na
série publicada nos meses de fevereiro, março e abril de 2010 aqui neste
espaço. Dispensável, pois, a repetição. Cabem algumas considerações sobre a
paz.
Em janeiro, o livro da vida continua
a ser escrito. Fevereiro: carnaval. Março: quaresma. Abril: páscoa. Junho: festas
juninas. Setembro: semana da pátria. Dezembro: reveillon. Durante o ano: (i)
dias santificados e outros feriados que ensejam passeios à praia ou à montanha
e incrementam o turismo interno; (ii) nascimentos, casamentos, divórcios e
mortes; (iii) pessoas amando, odiando, fingindo, tolerando, estudando, trabalhando,
vagabundeando; (iv) homens e mulheres empregados e desempregados, saudáveis e
doentes, alegres e tristes, felizes e sofrendo, sorrindo e chorando.
Abundância para uns, mendicância
para outros. Crianças e adolescentes, amparados alguns, abandonados e
explorados, outros. Famílias sem moradia. Habitações em regiões sem
infra-estrutura e em áreas de risco. Tragédias por fatores naturais e humanos
que: (i) agitam as emissoras de TV e nutrem a vaidade dos repórteres e
apresentadores; (ii) enchem cofres e armazéns particulares de políticos
corruptos com o dinheiro do erário destinado ao socorro e com os bens doados
pelo povo; (iii) evidenciam a solidariedade da maioria e o egoísmo e a pilantragem
da minoria.
Aumento de preços, tarifas e
tributos. Inflação. Acidentes de veículos com lesões e morte. Assassinatos,
furtos, roubos, estupros. Violência doméstica. Agressão à mulher, à criança e ao
meio ambiente. Tráfico de drogas, de gente, de bicho, de madeira e de metal. Propaganda
enganosa. Manipulação de dados. Corrupção no Legislativo, no Executivo, no Judiciário
e nos órgãos da administração pública indireta. Impunidade. Eleição para cargos
públicos de gente que não presta. Eleitor ignorante ou corrupto.
Vitórias e derrotas no esporte. Insuficiência
de escolas, hospitais, professores, médicos e de verba para pesquisa científica.
Despreparo de professores e alunos. Má remuneração dos professores da escola
pública e dos médicos da previdência social. Má qualidade do ensino e da
assistência à saúde. Aprovações escolares aos lotes. Ensino privado como
negócio lucrativo. Policiais e criminosos associados. Consumo de craque,
cocaína, maconha, tabaco e bebida alcoólica. Nações a cobiçar as riquezas de
outras e a provocar guerras a pretexto de defesa prévia. Hipocrisia como norma
das relações internacionais. Mentira como valor diplomático. Covardia das
nações aliadas à grande potência.
Cada novo ano já nasce velho de
100 anos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário