quinta-feira, 1 de março de 2012

PAZ


O sentimento de alegria e de esperança por um futuro risonho repete-se todo final de ano. As padronizadas festas motivam reflexões de variados matizes expressas em linguagem poética ou literária, matéria de revistas, jornais, programas de televisão e de intensa propaganda comercial. Renovam-se os votos de saúde, prosperidade, amor e felicidade. Paz é palavra freqüente nesses festejos em que as pessoas se vestem de branco, se abraçam, cantam, dançam, riem, comem, bebem, soltam fogos e estouram bombas. Euforia. Costume raso.  Promessas de mudança jamais cumpridas. Para alguns, o ano velho foi muito bom e não convém mudar. Vida nova! Exclamam outros, sem convicção. Temas correlatos à paz, como o místico trinômio luz + vida + amor, o binômio eu + tu e a felicidade, foram tratados na série publicada nos meses de fevereiro, março e abril de 2010 aqui neste espaço. Dispensável, pois, a repetição. Cabem algumas considerações sobre a paz.  

Em janeiro, o livro da vida continua a ser escrito. Fevereiro: carnaval. Março: quaresma. Abril: páscoa. Junho: festas juninas. Setembro: semana da pátria. Dezembro: reveillon. Durante o ano: (i) dias santificados e outros feriados que ensejam passeios à praia ou à montanha e incrementam o turismo interno; (ii) nascimentos, casamentos, divórcios e mortes; (iii) pessoas amando, odiando, fingindo, tolerando, estudando, trabalhando, vagabundeando; (iv) homens e mulheres empregados e desempregados, saudáveis e doentes, alegres e tristes, felizes e sofrendo, sorrindo e chorando.

Abundância para uns, mendicância para outros. Crianças e adolescentes, amparados alguns, abandonados e explorados, outros. Famílias sem moradia. Habitações em regiões sem infra-estrutura e em áreas de risco. Tragédias por fatores naturais e humanos que: (i) agitam as emissoras de TV e nutrem a vaidade dos repórteres e apresentadores; (ii) enchem cofres e armazéns particulares de políticos corruptos com o dinheiro do erário destinado ao socorro e com os bens doados pelo povo; (iii) evidenciam a solidariedade da maioria e o egoísmo e a pilantragem da minoria.

Aumento de preços, tarifas e tributos. Inflação. Acidentes de veículos com lesões e morte. Assassinatos, furtos, roubos, estupros. Violência doméstica. Agressão à mulher, à criança e ao meio ambiente. Tráfico de drogas, de gente, de bicho, de madeira e de metal. Propaganda enganosa. Manipulação de dados. Corrupção no Legislativo, no Executivo, no Judiciário e nos órgãos da administração pública indireta. Impunidade. Eleição para cargos públicos de gente que não presta. Eleitor ignorante ou corrupto.

Vitórias e derrotas no esporte. Insuficiência de escolas, hospitais, professores, médicos e de verba para pesquisa científica. Despreparo de professores e alunos. Má remuneração dos professores da escola pública e dos médicos da previdência social. Má qualidade do ensino e da assistência à saúde. Aprovações escolares aos lotes. Ensino privado como negócio lucrativo. Policiais e criminosos associados. Consumo de craque, cocaína, maconha, tabaco e bebida alcoólica. Nações a cobiçar as riquezas de outras e a provocar guerras a pretexto de defesa prévia. Hipocrisia como norma das relações internacionais. Mentira como valor diplomático. Covardia das nações aliadas à grande potência.

Cada novo ano já nasce velho de 100 anos!

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