A imprensa esportiva costuma
comparar jogadores nacionais e estrangeiros. Movidos pelo sensacionalismo e
pelo complexo de inferioridade decorrente da mentalidade colonizada,
jornalistas brasileiros comparam sem critério, sem considerar época, arte e
técnica. Parcela da população brasileira sofre desse complexo que o dramaturgo
Nelson Rodrigues apelidara de complexo de
vira lata. Para essa gente, tudo o que se faz nos países da América do
Norte e da Europa é superior ao que se faz no Brasil: literatura, música,
esporte, tecnologia, arte, ciência, costumes. A equipe econômica do governo
brasileiro enfrentou bem a crise mundial iniciada em 2008. Sem paranóia, tratou
a crise de modo próprio, frio e realista. Saiu-se melhor do que os governos dos
países do primeiro mundo. Mostrou que é possível superar o colonial complexo de
inferioridade; não ficou à espera de solução alienígena. Na última década do
século XX, na capital do Rio de Janeiro, em almoço de trabalho, foi apresentado
a um deputado federal o esboço de reforma do Poder Judiciário prevendo tribunal
constitucional para cada região do país a fim de desconcentrar a jurisdição,
acelerar o julgamento de milhares de processos e reduzir as despesas da
população decorrentes das grandes distâncias a serem percorridas até Brasília.
O supremo tribunal converter-se-ia em tribunal constitucional da região
central. Pois bem. O deputado perguntou se algum país adotara aquele modelo.
Ante a resposta negativa, perdeu o interesse. Eis aí como pensa e age o vira lata: há que ter um modelo
estrangeiro para ser imitado. Esse tipo de postura foi notado pelos argentinos
que, por isso mesmo, chamavam os brasileiros de macaquitos. O contingente de vira
latas compõe-se de indivíduos dos setores público e privado, de diferentes
níveis sociais, faixas etárias e profissões.
No futebol, jogadores brasileiros
são rebaixados por análises superficiais – algumas levianas – e por comparações
impróprias feitas por esse contingente de mentecaptos. Com objetivos políticos e financeiros, a FIFA
passou a incluir na lista dos melhores, sem criterioso exame do merecimento,
jogadores de todos os continentes e a manipular a escolha do melhor jogador de
cada ano. Do ponto de vista ético, todavia, o correto é avaliar o merecimento
dentro de critérios objetivos, sem valorizar em demasia, nem aviltar. Bem
cotados, entre outros, no cenário esportivo internacional, estão: (i) os
africanos Etoo, Eusébio (naturalizado português), Milla e Zidane (naturalizado
francês); (ii) os americanos Batistuta, Cambiasso, Chilavert (goleiro),
Cubillas, Di Stéfano (argentino hispânico), Forlán, Gamarra, Hugo Sanchez,
Maradona, Mario Kempes, Messi (argentino hispânico), Riquelme, Suarez,
Valderrama; (iii) os europeus Anelka, Baggio, Ballack, Barthes (goleiro),
Beckenbauer, Beckham, Bobby Charlton, Bobby Moore, Casillas (goleiro),
Cristiano Ronaldo, Deco (luso brasileiro), Figo, Franco Baresi, Gerd Müller,
Gordon Banks (goleiro), Gullit, Hagi, Ibrahimovic, Iniesta, Johan Cruyff, Just
Fontaine, Klinsmann, Klose, Kócsis, Larsen, Lato, Lineker, Lothar Mattheüs,
Malouda, Marco van Basten, Mazurkiewicz (goleiro), Michel Platini, Nasry,
Oliver Kahn (goleiro), Özil, Paolo Maldini, Paolo Rossi, Paul Breitner, Pirlo,
Puskas, Ribery, Rijkaard, Robben, Rooney, Rummenigg, Schweinsteiger, Sneijder,
Stoichkow, Totti, Vieri, Villa, Xavi, Yashin (goleiro).
Para se valorizar mais do que o
merecido, há jogadores servindo-se de promoção através dos meios de comunicação
social, onde são colocados maliciosamente no mesmo nível dos maiores jogadores
de futebol de todos os tempos. Organizações esportivas européias passaram a
colocar no rol dos melhores do mundo, sem merecimento, jogadores de clubes
europeus, por não se conformarem com a supremacia dos jogadores de clubes e
seleções de países subdesenvolvidos.
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