domingo, 4 de março de 2012

PAZ


Paz como exigência estática jamais terá lugar no universo. A vida é o principio dinâmico que mantém o universo em eterno movimento e progresso. No mundo natural, há momentos de calmaria refletidos na superfície do lago, no cume da montanha, na solidão dos campos varridos por suave brisa, na profundidade do oceano, no céu límpido em noite estrelada e enluarada. Todavia, o fluxo é de fenômenos telúricos, de sucessões de causas e efeitos, de mutações. No mundo cultural, há momentos de calmaria nos templos místicos e religiosos, nos mosteiros, nas tréguas, no isolamento individual para meditação, contemplação, êxtase, beatitude, sintonia com o mundo divino, iluminação espiritual. Há momentos de tranqüilidade pública, sem guerra, sem competição selvagem na atividade econômica, sem confronto violento entre classes, grupos e etnias. Vige a paz nos momentos de cooperação para o bem geral, de sossego, repouso e harmonia no lar.  

Na acepção positiva, entre os seres humanos, paz implica presença de: (i) amizade, solidariedade, simplicidade; (ii) liberdade, igualdade, fraternidade; (iii) simpatia, compreensão, tolerância, bondade, serenidade, silêncio, amor.  Na acepção negativa, implica ausência de: (i) conflito, hostilidade, destempero; (ii) ódio, cobiça, desejo; (iii) maldade, crise, sofrimento, preocupação, desespero, inveja, paixão.

A paz esteja convosco! Assim se cumprimentam os místicos. Buscam o silêncio dos mosteiros e dos templos, longe do torvelinho dos centros urbanos e dos desencontros da vida em sociedade. Zelam pela paz nos seus corações e nas suas mentes, pelo controle das emoções e dos apetites. Grande vitória é manter a paz interior ao caminhar nos dias úteis pelas ruas de uma metrópole ou nelas trafegar em veículos automotores. 

Quem tem paz, amor não tem, diz a canção popular. Indaga-se de que amor o compositor está falando. Da paixão que gera o ciúme, certamente. Do amor possessivo e torturante que rouba a paz de espírito. Do exagerado afeto e apego às coisas materiais, possivelmente. Formas de amor incompatíveis com a paz interior e exterior. 

Paz e amor combinam-se no discurso e na visão de mundo dos hippies da era de aquário. O modelo era Jesus, cuja aparência nazarena era imitada pelos rebeldes e vinha estampada nas camisetas. A escolha do modelo foi infeliz, pois segundo os evangelhos, Jesus afirmava que não viera para trazer a paz e sim a espada, que viera para dividir e não para unir; viera para fundar uma comunidade de santos e atemorizar os pecadores. A imagem nazarena adequou-se mais a Che Guevara do que aos hippies.    

Queremos paz! Bradam as populações vítimas dos conflitos provocados pelos governos. A estupidez dos governantes entra em recesso para ceder espaço a momentos de paz. Celebram-se tratados de armistício entre as forças combatentes ou de sucumbência entre vencedores e vencidos. Na busca da paz, cessadas as hostilidades, há reivindicações de mudança na organização social, política e econômica, nas prioridades, na hierarquia dos valores e princípios morais e jurídicos.

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