domingo, 18 de março de 2012

POESIA


Para que uma vez mais João Batista sorria / Senhor, eu dançarei melhor que um serafim. / Mãe, por que está imersa em tal melancolia / vestida de condessa e ao lado do delfim? / Meu coração só de escutá-lo quando eu vinha / dançar junto ao funchal, batia angustiado. / Eu lhe bordara lírios numa bandeirinha / destinada a flutuar no alto do seu cajado. / E agora, para quem farei lírios bordados? / Seu bordão refloresce às margens do Jordão. / Vieram prende-lo, ó Rei Herodes, teus soldados / e em meu jardim lírios murcharam desde então. / Vinde todos comigo, além, sob os quincôncios / Não chores mais, lindo bufão de reis / em vez do guiso, empunha esta cabeça e dança! / Mãe, sua fronte fria está. Não lhe toqueis. / Senhor, ide na frente e que a guarda nos siga. / Abriremos um fosso e nele o enterraremos / entre flores e, em roda, em torno dançaremos / dançaremos até que eu perca a minha liga / o rei, a tabaqueira, a infanta, o seu rosário/ e o cura, o seu breviário. (“Salomé”. Guillaume Apollinaire Kortrovitz).

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