sábado, 28 de julho de 2018

ESTRANGEIRISMO & VIRA-LATAS

O estrangeirismo tanto pode enriquecer como empobrecer o idioma pátrio e contribuir para o sentimento de inferioridade do povo. Mentes colonizadas e submissas às coisas e aos interesses estrangeiros existem nas camadas rica, remediada e pobre da sociedade brasileira, tanto no meio civil como no militar e no eclesiástico. À semelhança do cão sem raça e ao léu, o cidadão vira-lata apresenta em diferentes proporções, as seguintes características: (i) insuficiente qualificação técnica e intelectual (ii) cultura geral medíocre (iii) falta de brio, leniente, amoral (iv) astuto, maldoso, galhofeiro (v) desonesto, condescendente na ilicitude.
Tome-se, para efeito ilustrativo, a seleção brasileira de futebol masculino. Havia um branco rico (Coutinho), um negro rico (William) e um mestiço rico (Neymar). Notava-se pela conduta dos três, que um deles era vira-lata. O mestiço. Daí, a constatação: de 3 brasileiros 1 é vira-lata. Logo, o Brasil teria aproximadamente 70 milhões de vira-latas. Se tomarmos por base a população de São Paulo, cidade que congrega brasileiros de todas as regiões, podemos obter outra proporção: de 3 paulistas, 2 são vira-latas. Por esta amostragem, o Brasil teria 140 milhões de vira-latas. Nesse total, incluem-se os tipos macunaíma, mazombo e jeca (civis, militares, religiosos; ricos, remediados, pobres).    
Em consequência do pendor dessa fração demográfica para imitar sem refletir, os brasileiros recebem apelidos de macaquitos e papagaios. Culturalmente, o idioma é mais valioso do que a moeda. Países europeus trocaram a sua moeda por moeda continental comum (euro), porém, mantiveram o idioma nacional. O vira-lata brasileiro acha vergonhoso não saber pronunciar palavras estrangeiras. Pergunta angustiado: “é assim que se pronuncia”? Os estadunidenses usam pronúncia inglesa para qualquer palavra estrangeira sem se importar com a pronúncia original. Para Florida, palavra espanhola e portuguesa paroxítona, eles pronunciam como proparoxítona: Flórida. Para Orleans, palavra francesa oxítona, eles pronunciam como paroxítona Órlins. Nos países de língua espanhola, nomes próprios estrangeiros são vertidos para o espanhol. No Brasil, não se verte ao português tais nomes. O brasileiro vira-lata sente necessidade de se mostrar culto. Acha que escrever e pronunciar palavras estrangeiras no original é demonstração de cultura. Atitude esnobe de quem quer se mostrar superior na colônia e afinado com a metrópole. Efeito psicossocial da colonização. O vira-lata assimila hábitos e frases exibidos nos filmes estrangeiros. Apressa-se a usar palavras novas para designar coisas velhas como aporofobia, fake news, bulling. Sente prazer orgástico quando usa tais palavras nos programas de notícias da televisão.
Aporofobia, termo criado em 1995 por Adela Cortina, professora de Filosofia da Universidade de Valência (Espanha), significa aversão ao pobre. Áporos = pobre + phobos = medo, horror. A nova palavra significa o incômodo que a pobreza causa às camadas média e alta da sociedade. Os pobres do mundo – e não só os de Paris e Bombaim – são vistos como incultos, inferiores, infantaria na guerra e mão-de-obra ordinária no serviço doméstico, na lavoura, na pecuária, na construção civil, na indústria e no comércio. Na Europa, a rejeição é agravada quando o pobre é imigrante. No Brasil, o pobre originário da Venezuela é acolhido por ordem do presidente dos EUA (2018). Pobres de países americanos, europeus, africanos, asiáticos, são admitidos no território brasileiro desde o período imperial até hoje (1840/2018). Os imigrantes integram a história do Brasil. Com a oficial abolição da escravatura (1888), os serviços que eram prestados por escravos passaram às mãos dos pobres. Composta de brancos de origem humilde ou fracassados (nativos e imigrantes), de negros, mulatos e caboclos, a camada pobre é vista como a parte desprezível da sociedade. No entanto, sem os pobres: [i] os proprietários teriam de fazer todos os serviços (com a foice, o martelo, a pá, a picareta, a vassoura. o sabão, o fogão) [ii] os hipócritas não teriam como exibir espírito cristão [iii] seria menor o mercado dos estelionatários da fé e dos demagogos. Desprezados e maltratados pelos ricos, os pobres eram o público de Jesus, o Cristo, que os consolava, prometia vida feliz na esfera espiritual do mundo (céu) e ensinava a aceitar o sofrimento na esfera material do mundo (terra) como senda ascensional para se aproximar do pai celestial (deus).         
Fake news, expressão inglesa que ganhou notoriedade por significar a divulgação de notícias falsas através dos meios de comunicação social. Desde as primeiras civilizações, notícias falsas circulavam para desorientar o inimigo estrangeiro e o adversário interno, o que se intensificou depois da invenção da tipografia para imprimir textos (1439).  Atualmente, a mentira ganhou enorme extensão com o ativismo político: [i] dos jornalistas [ii] dos proprietários dos meios de comunicação social (jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão) [iii] dos navegantes no ciberespaço (internautas). Evidenciou-se o divórcio entre o jornalismo e a ética. No Brasil, o jornalismo, dominado pelo dinheiro de uma estreita e poderosa minoria, dedica-se à produção e divulgação de mentiras, à facciosa seleção de notícias, ao entretenimento dispersivo e à expansão do fascismo. 
Bulling, palavra inglesa que ganhou notoriedade entre os brasileiros por significar humilhação imposta a alguém pelo grupo etário a que pertence. Os motivos são vários: étnico, modo de vestir, de andar, de se expressar, aparência física. Cuida-se de conduta social mais antiga do que o nome em inglês que ora se lhe dá. Modismo idiomático apreciado pelos vira-latas. Na opinião dessa turma colonizada, bulling é termo mais chique do que zombaria, ultraje, intimidação, maltrato.  

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