sexta-feira, 26 de setembro de 2014

ELEIÇÕES 2014 - II

As pesquisas feitas por diferentes institutos animam a campanha eleitoral. Servem para motivar os eleitores. Proporcionam audiência às emissoras de televisão. Os propagadores das pesquisas fazem da disputa eleitoral uma disputa esportiva assemelhada à corrida de cavalos ou ao campeonato de futebol.  Exibem gráficos do sobe e desce dos candidatos à semelhança da tabela de classificação dos clubes de futebol durante o torneio nacional. As pesquisas servem para proporcionar divertimento aos telespectadores e para direcionar a escolha do eleitor.
Faltam às pesquisas neste período do processo eleitoral exatidão e certeza características do trabalho científico. Trata-se de mera especulação fundada no cálculo das probabilidades. Este cálculo baseia-se na crença de que fatos acontecidos com certa frequência no passado repetir-se-ão no presente e fatos repetidos no presente acontecerão também no futuro.  Nos EUA e no Brasil, desde que implantada a reeleição, os presidentes eleitos são reeleitos, salvo alguma exceção, como a do presidente Carter. Via de regra, o eleitor mantém coerência com o seu voto anterior. Logo, a probabilidade da reeleição da presidente do Brasil é considerável. Dados da eleição passada registrados pelo Tribunal Superior Eleitoral indicam que o eleitorado da presidente é maior do que o eleitorado dos concorrentes. Se for mantida esta superioridade, verificar-se-á que os eleitores contentes com o atual governo são em número maior do que os descontentes.
Destarte, nada mais lógico e convincente do que apresentar a presidente em primeiro lugar nas estatísticas. No entanto, o fator volubilidade e o princípio da incerteza fragilizam as pesquisas. Até a abertura das urnas, ninguém ganhou ou perdeu votos, simplesmente porque a votação só começa na data marcada para o comparecimento do eleitor. Afirmar que fulano encostou na  beltrana sugere, quando muito, assédio sexual. As mulheres protestam contra o encosto não consentido e abusivo de que são vítimas nos vagões e ônibus lotados. Reivindicam vagão privativo no trem metropolitano. Vagão de cor rosada, se possível, para distinguir do vagão dos homens. Após a contagem dos votos, saber-se-á quem ganhou e quem perdeu. Terá lugar então, com dados certos e objetivos, a racional especulação em torno do resultado.
Durante a campanha eleitoral, a gangorra das candidaturas é divertimento infuso na intenção de condicionar a vontade do eleitor. O campo da pesquisa é a intenção do eleitor. O pesquisador busca descobri-la e quantificá-la. Todavia, a intenção é fator subjetivo e flexível, inadequado à quantificação. Sendo o voto secreto, o pesquisado pode enganar o pesquisador. Em não havendo neutralidade na política, o pesquisador pode selecionar os dados obtidos em favor da candidatura da sua simpatia, ou em favor do candidato da pessoa que contratou o serviço. A região onde a pesquisa se realizou pode ser o reduto eleitoral do candidato favorecido. O volume da pesquisa pode ser insuficiente para lhe dar credibilidade. Se o corpo eleitoral se compõe de 100 milhões de eleitores, considera-se confiável a pesquisa que incluiu 10 milhões de eleitores, ou, no mínimo, 1 milhão de eleitores. Nestes termos, pesquisa que incluiu apenas 2 mil ou 5 mil eleitores não é confiável, ainda que a título de verificar simples tendência. O processo eleitoral é sério demais para comportar palpites dos institutos e tendências mal aferidas. Tais pesquisas equivalem a apostas lotéricas.       
No plano individual, os fatores coerência e fidelidade fornecem margem à previsão. Há candidatos que contam com eleitorado certo e fiel. Servem de exemplo, por sua notoriedade, os políticos incluídos no dito popular "rouba, mas faz": Ademar de Barros e Paulo Maluf. A cada eleição eles obtinham boa votação apesar da fama de "ladrão". Desfrutavam da estima e da admiração dos seus eleitores a quem mais importava a eficiência do seu candidato na realização de obras e na prestação de serviços públicos do que a santidade ética. "Roubar, todos roubam; fazer o bem para o povo, poucos fazem". Assim pensavam os eleitores desses políticos. O cancro da corrupção ainda não foi extirpado da administração pública. Ao eleitor que não integra o eleitorado cativo de qualquer candidato cabe escolher a pessoa em cujo governo os danos gerados pela corrupção provavelmente serão menores.     
O fator personalidade pode decidir a eleição. Basta lembrar de Getúlio, de Juscelino e de Jânio. O carisma de Brizola foi suficiente para vencer eleições estaduais no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, mas insuficiente para vencer as forças contrárias na disputa pela presidência da república. Tancredo foi eleito no embalo do movimento social e político denominado "Diretas Já" ao cabo da distensão lenta e gradual promovida pelo regime autocrático. Carismático, Luiz Inácio foi eleito na mística do retirante nordestino, do operário pobre, líder sindical e combatente da ditadura. Carismática, Marina Silva poderá ser eleita na mística da mulher pobre e guerreira que combateu a ditadura, fundou partido político, superou com galhardia barreiras sociais e econômicas, conquistou títulos acadêmicos, foi senadora da República e ministra de Estado.  

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