sábado, 2 de novembro de 2013

FILOSOFIA III



Mesopotâmia (3500 a 530 a.C.).

Os historiadores divergem sobre a civilização mais antiga, se a do Egito ou se a da Mesopotâmia (Atlântida e Lemúria ainda são lendas). Interesse mais acadêmico do que histórico. As datas anteriores a 2000 a.C. são imprecisas e o início dessas civilizações teria sido por volta de 4000 a.C. precedidas do estágio neolítico. Portanto, sem rigor científico, podemos considerá-las contemporâneas uma da outra. A ciência atual pode estimar data de fósseis e outros objetos pelo teste do carbono. A fraude do sudário de Cristo exposto em Turim, por exemplo, verificou-se mediante esse teste. Todavia, até o momento, a verificação da idade exata dos povos antigos carece de meios idôneos. Há respeitáveis conjecturas de antropólogos, paleontólogos, arqueólogos e historiadores. Estima-se que a civilização da Mesopotâmia cobre o período de 3500 a 530 a.C. Ela compreende a cultura de diversos povos nativos e adventícios que habitaram a região onde hoje é o Iraque, banhada pelos rios Tigre e Eufrates (mesopotâmia = entre rios) dentro de área geográfica mais ampla historicamente conhecida como Oriente Próximo que se estende do limite ocidental da Índia até o Egito. Esses povos eram conhecidos como acadianos, sumérios, amoritas, cassitas, assírios e caldeus. Além da localização regional e da agricultura como foco da economia (os rios facilitavam a agricultura e a criação de animais) havia traços culturais comuns resultantes da natureza humana, da imitação ou da sucessão, o que autorizou os historiadores a englobar esses povos em uma só civilização, apesar das diferenças. Esses povos eram supersticiosos, pessimistas, melancólicos e politeístas; não esperavam salvação da alma em outro mundo e sim benefícios neste mundo; relacionavam os deuses com a Terra e buscavam se organizar socialmente tomando o cosmos por espelho. A vida além da morte não os preocupava; praticavam a magia e a adivinhação; associavam as práticas religiosas e mágicas à atividade guerreira. Esses povos mantinham exércitos permanentes e se organizavam em classes que, de um modo geral, assim se distribuíam: (1) família real; (2) sacerdotes e comandantes militares; (3) comerciantes, médicos, mágicos; (4) homens comuns (artesãos, agricultores); (5) soldados, servos do templo, servos da propriedade real e particular; (6) escravos. Na Mesopotâmia a escrita era cuneiforme; o arameu ou aramaico era o idioma franco (tal qual seriam línguas francas mais tarde o grego, o latim, o francês e o inglês, sucessivamente). Arameu era um povo nômade que vivia na parte setentrional da Mesopotâmia (Carchemis), na Síria, na Fenícia e na Palestina. O dinheiro (moedas de ouro e prata com peso e qualidade controlados) inventado por volta de 700 a 601 a.C. na Lídia (hoje, Turquia), facilitou as trocas em toda a Mesopotâmia.
A civilização da Mesopotâmia exerceu forte influência sobre os cananeus, hebreus, fenícios, sírios, persas, gregos e romanos. Aspectos das suas convenções, crenças, religião, ciência e filosofia chegaram até a idade moderna, tais como: a multiplicação e divisão aritmética, o círculo de 360 graus, os 12 signos do zodíaco, o plantio de acordo com as fases da lua, o horóscopo, as divisões do ano, da semana e do dia, as lendas da criação do mundo, do dilúvio e da arca providencial, a sistematização das leis, pessimismo, fatalismo, demonologia, adivinhação, astrologia, ocultismo. A queda dos impérios da Mesopotâmia revela fatores também presentes no egípcio e nos impérios posteriores: (1) disputas internas entre o rei, o clero e a classe alta (principalmente militar); (2) efeito emoliente de uma vida confortável (esmorece a vontade do povo de lutar e resistir aos ataques externos); (3) invasão estrangeira. O avanço cultural acarreta a descrença no sagrado, que passa a ser visto como algo irracional e fraudulento. O rei não é visto mais como pessoa sagrada ou divina e as suas funções religiosas empalidecem ante a crescente importância das funções militares e civis (legislativas, administrativas, judiciais). As freqüentes usurpações do trono geram descrédito da autoridade espiritual do governante. O povo nota que o rei é substituível, que as dinastias são precárias e de origem terrena. Instaura-se o processo de modernização: racionalidade, apurado senso de privacidade, visão cosmopolita, abordagem pragmática da realidade, erosão das crenças mágicas e religiosas, alteração da hierarquia dos valores morais. Os aspectos mágicos, mitológicos e supersticiosos tornam-se periféricos no processo de modernização.
A idéia e o sentimento de justiça estavam presentes naquelas culturas a indicar sua inerência à natureza humana. Em dado momento histórico, um povo (ou parcela dele) entende possível justiça neste mundo; em outro momento, esse mesmo povo (ou parcela dele) entende que só no mundo espiritual haverá justiça. Distinguem-se, então, a justiça divina e a justiça humana, a justiça ideal e a justiça legal, a justiça personalizada e a justiça institucionalizada. As noções de igualdade e desigualdade entram no cálculo do que é justo ou injusto. Vigem opiniões contrárias: para uns, a maldade é natural ao ser humano e a bondade exceção; para outros, a bondade é natural ao ser humano e a maldade exceção.
No Oriente Próximo, os sumérios entendiam por justiça o fiel cumprimento dos contratos; bondade e maldade eram atributos comuns aos deuses e aos homens (3000 a.C.). Inicialmente, a Suméria (região ao sul dos rios Tigre e Eufrates) compunha-se de cidades resultantes do desenvolvimento das vilas e tribos do período neolítico, cada qual com governo próprio, cujo chefe acumulava as funções de sumo sacerdote, comandante militar e superintendente do sistema de irrigação (a agricultura desempenhava papel essencial na economia da cidade). Com a passagem do tempo, as cidades (Uruk, Kish, Ur, Lagash, Uma) se uniram sob a autoridade de um único rei (Dungi, 2300 a.C.). A propriedade do rei coexistia com a propriedade privada. Esposa e filho eram propriedades do marido e pai. Aquele rei criou um sistema de leis que se tornou a base do direito dos povos semitas (babilônios, assírios, caldeus, hebreus). O talião foi o seu mais famoso preceito (olho por olho, dente por dente, braço por braço). A justiça era administrada por funcionário público no exercício de funções judicantes; cabia ao ofendido trazer o ofensor à presença do juiz. Frágil distinção entre o homicídio culposo e o doloso, ambos punidos com multa (se a vítima fosse mulher casada ou filho sob o pátrio poder, o homicídio caracterizava dano à propriedade). As penalidades civis e criminais podiam ser severas ou brandas, conforme a classe do ofendido e a classe do ofensor. A população estratificava-se nas seguintes classes: (i) patrícios; (ii) cidadãos e pessoas comuns; (iii) servos e escravos. A lesão ou morte causada a um patrício era crime mais grave do que a lesão ou morte causada a um membro da classe inferior. Se o ofensor fosse um patrício, a sua punição era mais severa, pois a sua alta posição social exigia conduta ilibada e controle das paixões. A igualdade perante a lei vigorava apenas entre os membros da mesma classe.
O mesmo deus praticava tanto o bem quanto o mal; não havia o dualismo: um deus do bem e outro do mal. A moralidade era convencional, sem imposição religiosa. O aspecto mitológico da cultura sumeriana incluía: (1) a criação do mundo pela divindade; (2) o dilúvio que quase exterminou a raça humana; (3) a arca lotada de animais com o homem sobrevivente. Esse mito foi copiado por outros povos, inclusive o hebreu como se vê na Bíblia. A escrita cuneiforme inventada pelos sumérios também foi copiada por outros povos e utilizada por milhares de anos. Para esse povo, o universo era um mistério impenetrável. O medo e a ignorância estavam na base do sentimento religioso. Magia, feitiçaria, astrologia e previsão do futuro eram práticas freqüentes e comuns. Os sumérios acreditavam em demônios e que os espíritos maus eram a causa das moléstias. A medicina consistia em ervas e magia para exorcizar tais espíritos. Astronomia e astrologia se confundiam. Inventaram o calendário lunar e o relógio de água. Em matemática, descobriram a multiplicação, a divisão e a extração da raiz quadrada e cúbica; adotaram o sistema duodecimal de numeração, pesos e medidas, e o número 60 como a unidade comum.

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