quarta-feira, 20 de novembro de 2013

FILOSOFIA V



Pérsia (550 a 330 a.C.).

Os persas viviam em tribos esparramadas ao sul da Ásia Menor, na região banhada pelo Golfo Pérsico e Mar Omã, a leste do Rio Tigre, sob o império dos medos. A Média ficava ao norte, banhada pelo Mar Cáspio. Na metade do século VI a.C. (600 a 501) um habilidoso e ambicioso príncipe de nome Ciro reuniu as tribos persas e as governou. Por seu parentesco sanguíneo ou de afinidade com um rei da Média, Ciro foi aceito como rei pelos medos. Este foi o embrião de um vasto império. Ciro conquistou a Lídia, reino que ficava na parte ocidental da Ásia Menor. Por temer a expansão dos persas, Creso, rei da Lídia, celebrou aliança com Egito e Esparta e empreendeu guerra preventiva contra os persas. Antes, consultou o oráculo grego de Delfos. A resposta foi que ao atravessar o Rio Halis um grande exército seria destruído. Esse rio separava a Lídia da Média. Creso foi à guerra confiante na vitória. O grande exército destruído foi o dele. O seu reino foi anexado ao estado persa. O oráculo era ambíguo; os dois exércitos eram grandes; portanto, um deles seria destruído fatalmente. Depois desta conquista, Ciro submete ao seu poder o império caldeu (539 a.C.). Cambises, filho de Ciro, aumentou o domínio territorial ao conquistar o Egito (525 a.C.). Os povos conquistados se rebelavam. Dario, general do exército persa, assume o governo após a morte de Cambises (521 a.C.) e invoca autoridade divina, base do absolutismo, mescla de religião e política {também invocada na era cristã por imperadores romanos como Diocleciano e Constantino (284 a 476) e monarcas europeus como Luiz XIV, de França e Jaime I, da Inglaterra (1485 a 1879)}. Dario reprime as rebeliões, organiza o estado e conquista a região costeira da Trácia (hoje corresponde à parte da Grécia no Mar Mediterrâneo, mais o lado europeu da Turquia, mais a parte da Bulgária e da Romênia no Mar Negro). Ele ampliou o território persa também em direção à Índia e ao sul da Rússia. Dario resolveu punir Atenas por haver apoiado as cidades jônicas na revolta contra a Pérsia. Quase toda a Grécia reagiu e ele foi derrotado na batalha de Maratona (490 a.C.). Logo depois, Atenas foi capturada e incendiada por Xerxes, filho e sucessor de Dario (486 a 465 a.C.).
Em conseqüência das freqüentes revoltas das províncias e das periódicas invasões de povos bárbaros, o império persa começa a decair. Alexandre da Macedônia conquista-o (330 a.C.). A Pérsia, então, entra numa fase helenística (mistura de cultura grega com cultura oriental) até 67 a.C. O logos grego fascinou a elite persa. Seguem-se as fases: (1) parta (reino da Partia) já na era cristã até o ano de 226; (2) sassânida, dinastia fundada por Ardashir (226 a 241 d.C.). Este novo império persa constituiu-se dentro das antigas fronteiras, com administração eficiente, organização militar tão poderosa quanto a dos romanos e elevado grau de civilização. Esta fase durou até 637 d.C. quando exausto por sua guerra contínua com Bizâncio, o império persa ruiu diante do vigoroso assédio dos árabes que ali implantaram o islamismo. A cultura sassânida foi o produto final da civilização persa. Sob a cultura islâmica o estado persa chegou aos nossos dias. Reza Pahlevi, último soberano persa (), foi destituído no século XX (1901 a 2000) quando os aiatolás, sob a liderança carismática de Khomeini, assumiram o poder e o país passou a chamar-se Irã.    
Os governantes persas não estavam subordinados a constituição ou lei superior. Eles permitiam que os povos vencidos observassem seus próprios costumes, leis e religião, apesar da regular opressão. Justiça e tolerância eram pilares da ética persa. Nas cidades, distribuir justiça era encargo do clero. A sentença podia ser revista pelo monarca. Nas aldeias, o chefe local ou o proprietário de terras exercia a função judicante. Os livros sagrados continham preceitos legais com a definição dos crimes. Praticava-se tortura e ordálio (juízo de deus: prova a que era submetido o acusado que seria inocentado se resistisse ao fogo, ou ao ferro quente, ou a um líquido fervente, ou escapasse vivo a um duelo). O governo persa era absoluto. O monarca representava o deus da luz. Os nobres gozavam de privilégios. O império tinha 21 províncias, cada uma governada por um sátrapa com poderes absolutos em assuntos civis. A autoridade militar cabia ao comandante do exército na província. Para fiscalizar a atuação do sátrapa era designado um secretário permanente para cada província. Inspetores (olhos e ouvidos do rei, geralmente membros da família real) apoiados por forte escolta visitavam as províncias uma vez por ano para verificar a regularidade dos administradores locais. Todos esses cuidados não foram suficientes para impedir as constantes revoltas dos sátrapas e a queda do império.
Os jovens eram educados para a vida militar. Austeridade, lealdade, honra, eram virtudes valorizadas enquanto o luxo e o vício eram censurados. Notável e sem paralelo até a época dos romanos foi a estrada real de dois mil e seiscentos quilômetros que ligava Susa, capital da Pérsia, próxima ao Golfo Pérsico, a Sárdis, próxima do Mar Mediterrâneo (parte ocidental da Ásia Menor). Além de Susa, as cidades de Pasárgada, Persépolis, Babilônia e Ecbatana foram capitais do império persa. Rede de estradas ligava as cidades às províncias. Gozavam de religioso respeito duas cidades: (i) Pasárgada, lar ancestral de Ciro e de sua dinastia; (ii) Persépolis, construída por Dario, onde os reis eram sepultados. No Egito, Dario escavou um canal do Rio Nilo ao Mar Vermelho, fazendo a ligação com o Oceano Índico.
As realizações intelectuais e artísticas dos persas derivaram das civilizações precedentes (Egito e Mesopotâmia). Embora utilizada a escrita cuneiforme, os persas inventaram alfabeto de 39 letras sob influência do alfabeto arameu. Adotaram o calendário solar dos egípcios com pequenas modificações. Encorajaram viagens exploradoras como auxiliares do comércio. Difundiram o sistema de cunhagem da Lídia. Serviram-se das técnicas arquitetônicas dos gregos e egípcios. O monarca persa também mantinha harém. A religião persa teve grande influência no mundo civilizado. As religiões que dela derivam herdaram suas características sobrenaturais, místicas e messiânicas. O colapso do império de Alexandre da Macedônia, sob cujo domínio encontrava-se a Pérsia, gerou desilusão, inquietação e ânsia por salvação individual (300 a.C.) O terreno ficou propício à religiosidade e à pieguice. As pessoas faziam da religião um refúgio e buscavam no além a compensação pelas agruras da vida terrena.
Antes da expansão imperial, o povo persa fora catequizado por um sacerdote chamado Zaratustra (os gregos chamaram-no Zoroastro) que vivera por volta de 628 a 551 a.C. Esse líder religioso se propôs a purificar as crenças que sustentavam a tradicional religião dos magos: politeísmo, sacrifício de animal e magia. Apesar disto e visando ao aperfeiçoamento da produção agrícola, ele instituiu o culto à vaca e estabeleceu como dever sagrado o cultivo da terra. A religião criada por Zaratustra era dualista: havia um deus do bem que personificava os princípios da luz, da verdade e da retidão (Ahura-Mazda) e um deus das trevas, traiçoeiro, que presidia as forças do mal (Ahriman). Estas duas divindades lutam entre si pela soberania, mas no final o deus do bem triunfará sobre o deus do mal e salvará o mundo. A doutrina era escatológica: incluía a espera de um messias, a ressurreição dos mortos, o juízo final e o paraíso para os inocentes. O mundo duraria 12 mil anos (número cabalístico). Zaratustra voltaria a Terra como sinal e promessa de redenção humana; nessa ocasião, ele manteria relações sexuais com uma virgem e geraria o renovo de nome Saoshyant, o messias que prepararia o fim do mundo. Após a derrota de Ahriman, os mortos se ergueriam das tumbas e seriam julgados segundo o merecimento de cada um. Os inocentados entrariam no paraíso e os condenados, no inferno. Ao cabo de algum tempo, também os condenados se salvariam, porque o inferno era um lugar de passagem e purificação, sem estadia permanente.

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