Pérsia (550 a
330 a.C.).
Os persas viviam em tribos
esparramadas ao sul da Ásia Menor, na região banhada pelo Golfo Pérsico e Mar
Omã, a leste do Rio Tigre, sob o império dos medos. A Média ficava ao norte,
banhada pelo Mar Cáspio. Na metade do século VI a.C. (600 a 501) um habilidoso e
ambicioso príncipe de nome Ciro reuniu as tribos persas e as governou. Por seu
parentesco sanguíneo ou de afinidade com um rei da Média, Ciro foi aceito como
rei pelos medos. Este foi o embrião de um vasto império. Ciro conquistou a
Lídia, reino que ficava na parte ocidental da Ásia Menor. Por temer a expansão
dos persas, Creso, rei da Lídia, celebrou aliança com Egito e Esparta e
empreendeu guerra preventiva contra os persas. Antes, consultou o oráculo grego
de Delfos. A resposta foi que ao atravessar o Rio Halis um grande exército
seria destruído. Esse rio separava a Lídia da Média. Creso foi à guerra
confiante na vitória. O grande exército destruído foi o dele. O seu reino foi
anexado ao estado persa. O oráculo era ambíguo; os dois exércitos eram grandes;
portanto, um deles seria destruído fatalmente. Depois desta conquista, Ciro
submete ao seu poder o império caldeu (539 a.C.). Cambises, filho de Ciro, aumentou o
domínio territorial ao conquistar o Egito (525 a.C.). Os povos
conquistados se rebelavam. Dario, general do exército persa, assume o governo
após a morte de Cambises (521
a.C.) e invoca autoridade divina, base do absolutismo,
mescla de religião e política {também invocada na era cristã por imperadores
romanos como Diocleciano e Constantino (284 a 476) e monarcas europeus como Luiz XIV,
de França e Jaime I, da Inglaterra (1485 a 1879)}. Dario reprime as rebeliões,
organiza o estado e conquista a região costeira da Trácia (hoje corresponde à
parte da Grécia no Mar Mediterrâneo, mais o lado europeu da Turquia, mais a
parte da Bulgária e da Romênia no Mar Negro). Ele ampliou o território persa
também em direção à Índia e ao sul da Rússia. Dario resolveu punir Atenas por
haver apoiado as cidades jônicas na revolta contra a Pérsia. Quase toda a
Grécia reagiu e ele foi derrotado na batalha de Maratona (490 a.C.). Logo depois,
Atenas foi capturada e incendiada por Xerxes, filho e sucessor de Dario (486 a 465 a.C.).
Em conseqüência das freqüentes
revoltas das províncias e das periódicas invasões de povos bárbaros, o império
persa começa a decair. Alexandre da Macedônia conquista-o (330 a.C.). A Pérsia, então,
entra numa fase helenística (mistura de cultura grega com cultura oriental) até
67 a.C. O
logos grego fascinou a elite persa.
Seguem-se as fases: (1) parta (reino
da Partia) já na era cristã até o ano de 226; (2) sassânida, dinastia fundada por Ardashir (226 a 241 d.C.). Este novo
império persa constituiu-se dentro das antigas fronteiras, com administração eficiente,
organização militar tão poderosa quanto a dos romanos e elevado grau de
civilização. Esta fase durou até 637 d.C. quando exausto por sua guerra contínua
com Bizâncio, o império persa ruiu diante do vigoroso assédio dos árabes que
ali implantaram o islamismo. A cultura sassânida foi o produto final da
civilização persa. Sob a cultura islâmica o estado persa chegou aos nossos
dias. Reza Pahlevi, último soberano
persa (Xá), foi destituído no século
XX (1901 a
2000) quando os aiatolás, sob a liderança carismática de Khomeini, assumiram o
poder e o país passou a chamar-se Irã.
Os governantes persas não estavam
subordinados a constituição ou lei superior. Eles permitiam que os povos
vencidos observassem seus próprios costumes, leis e religião, apesar da regular
opressão. Justiça e tolerância eram pilares da ética persa. Nas cidades, distribuir
justiça era encargo do clero. A sentença podia ser revista pelo monarca. Nas
aldeias, o chefe local ou o proprietário de terras exercia a função judicante.
Os livros sagrados continham preceitos legais com a definição dos crimes. Praticava-se
tortura e ordálio (juízo de deus: prova
a que era submetido o acusado que seria inocentado se resistisse ao fogo, ou ao
ferro quente, ou a um líquido fervente, ou escapasse vivo a um duelo). O
governo persa era absoluto. O monarca representava o deus da luz. Os nobres
gozavam de privilégios. O império tinha 21 províncias, cada uma governada por
um sátrapa com poderes absolutos em assuntos civis. A autoridade militar cabia ao
comandante do exército na província. Para fiscalizar a atuação do sátrapa era
designado um secretário permanente para cada província. Inspetores (olhos e
ouvidos do rei, geralmente membros da família real) apoiados por forte escolta
visitavam as províncias uma vez por ano para verificar a regularidade dos
administradores locais. Todos esses cuidados não foram suficientes para impedir
as constantes revoltas dos sátrapas e a queda do império.
Os jovens eram educados para a
vida militar. Austeridade, lealdade, honra, eram virtudes valorizadas enquanto
o luxo e o vício eram censurados. Notável e sem paralelo até a época dos
romanos foi a estrada real de dois mil e seiscentos quilômetros que ligava
Susa, capital da Pérsia, próxima ao Golfo Pérsico, a Sárdis, próxima do Mar
Mediterrâneo (parte ocidental da Ásia Menor). Além de Susa, as cidades de
Pasárgada, Persépolis, Babilônia e Ecbatana foram capitais do império persa.
Rede de estradas ligava as cidades às províncias. Gozavam de religioso respeito
duas cidades: (i) Pasárgada, lar ancestral de Ciro e de sua dinastia; (ii) Persépolis,
construída por Dario, onde os reis eram sepultados. No Egito, Dario escavou um
canal do Rio Nilo ao Mar Vermelho, fazendo a ligação com o Oceano Índico.
As realizações intelectuais e
artísticas dos persas derivaram das civilizações precedentes (Egito e
Mesopotâmia). Embora utilizada a escrita cuneiforme, os persas inventaram
alfabeto de 39 letras sob influência do alfabeto arameu. Adotaram o calendário
solar dos egípcios com pequenas modificações. Encorajaram viagens exploradoras
como auxiliares do comércio. Difundiram o sistema de cunhagem da Lídia.
Serviram-se das técnicas arquitetônicas dos gregos e egípcios. O monarca persa também
mantinha harém. A religião persa teve grande influência no mundo civilizado. As
religiões que dela derivam herdaram suas características sobrenaturais,
místicas e messiânicas. O colapso do império de Alexandre da Macedônia, sob
cujo domínio encontrava-se a Pérsia, gerou desilusão, inquietação e ânsia por
salvação individual (300 a.C.)
O terreno ficou propício à religiosidade e à pieguice. As pessoas faziam da
religião um refúgio e buscavam no além
a compensação pelas agruras da vida terrena.
Antes da expansão imperial, o
povo persa fora catequizado por um sacerdote chamado Zaratustra (os gregos chamaram-no Zoroastro) que vivera por volta de 628 a 551 a.C. Esse líder religioso
se propôs a purificar as crenças que sustentavam a tradicional religião dos
magos: politeísmo, sacrifício de animal e magia. Apesar disto e visando ao
aperfeiçoamento da produção agrícola, ele instituiu o culto à vaca e
estabeleceu como dever sagrado o cultivo da terra. A religião criada por
Zaratustra era dualista: havia um deus do bem que personificava os princípios
da luz, da verdade e da retidão (Ahura-Mazda) e um deus das trevas, traiçoeiro,
que presidia as forças do mal (Ahriman). Estas duas divindades lutam entre si
pela soberania, mas no final o deus do bem triunfará sobre o deus do mal e
salvará o mundo. A doutrina era escatológica: incluía a espera de um messias, a
ressurreição dos mortos, o juízo final e o paraíso para os inocentes. O mundo
duraria 12 mil anos (número cabalístico). Zaratustra voltaria a Terra como
sinal e promessa de redenção humana; nessa ocasião, ele manteria relações
sexuais com uma virgem e geraria o renovo de nome Saoshyant, o messias que
prepararia o fim do mundo. Após a derrota de Ahriman, os mortos se ergueriam
das tumbas e seriam julgados segundo o merecimento de cada um. Os inocentados
entrariam no paraíso e os condenados, no inferno. Ao cabo de algum tempo,
também os condenados se salvariam, porque o inferno era um lugar de passagem e
purificação, sem estadia permanente.
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