quarta-feira, 27 de novembro de 2013

FILOSOFIA - VI



Palestina (1200 a.C. a 70 d.C.).

O deserto da Arábia talvez tenha sido o berço do povo hebreu composto de tribos nômades de pastores dedicados à criação de cabras e ovelhas. O nome kahbiru ou hebiru (= hebreu) foi dado por outros povos com duplo significado: nômade e bandido. Ao que parece, os hebreus não desfrutavam de bom conceito. As tribos vagavam separadas. Algumas chegaram ao Egito; outras se distribuíram por distintas regiões do Oriente Próximo, inclusive no vale dos rios Tigre e Eufrates (1800 a 1200 a.C.). Uma dessas tribos liderada por hebreu chamado Taré dirigiu-se à cidade de Ur, na parte meridional da Mesopotâmia. Depois de algum tempo, a tribo mudou-se para a cidade de Haram, na parte setentrional da Mesopotâmia, onde Taré faleceu. Seguindo a sua natureza nômade, a tribo trasladou-se para Canaã (Palestina) sob a liderança de Abrão, filho de Taré, região ocupada pelos cananeus, estéril, inóspita, chuvas escassas e topografia escabrosa, nada parecida com a “terra onde correm rios de leite e mel” a que se referiam os visionários. Pressionados pela fome em época de miséria naquela região, Abrão e sua tribo (cerca de 70 pessoas incluindo os escravos) viajaram para o Egito e lá se instalaram. Abrão apresentou Sarai como sua irmã e não como sua esposa. Seduzido pela beleza de Sarai, o faraó a tomou por esposa. Abrão foi recompensado com “ovelhas, bois, jumentos, servos, servas, jumentas e camelos”, o que lhe rendeu fortuna e bem-estar. Passado o período crítico, o felizardo Abrão, “muito rico em rebanhos, prata e ouro”, retorna a Canaã com a tribo e viveu algum tempo em Gerara, cujo rei de nome Abimelec tomou Sarai por esposa. Abrão recebeu como recompensa: “ovelhas, bois, servos, servas e mil moedas de prata”. Induzir a esposa a satisfazer a lascívia de outrem (mediação), tirar proveito da prostituição alheia (rufianismo), contrair novas núpcias enquanto casada (bigamia); relacionar-se sexualmente com quem não é seu cônjuge (adultério), são condutas consideradas ilícitas do ponto de vista moral, religioso e jurídico, na civilização ocidental.
Da descendência de Abrão formou-se: (1) a nação árabe, que teve como patriarca Ismael, o filho mais velho de Abrão, havido de Agar, escrava egípcia; (2) a nação hebraica, que teve como patriarca Isaac, o suposto filho mais novo, havido de Sarai, esposa de Abrão. O casal estava com 100 anos de idade quando Isaac nasceu. A mãe de Ismael duvidou da legitimidade daquele nascimento. O senso comum e a experiência lhe diziam da impossibilidade biológica daquela gravidez. Agar, que desfrutava posição privilegiada na tribo por ser mãe do único filho de Abrão, demonstrou sua incredulidade e riu da esperteza de Sarai. Em conseqüência e às instâncias de Sarai, Abrão expulsou Agar e Ismael da comunidade. Isaac restou como único herdeiro e gerou filhos gêmeos: Esaú e Jacó. Idoso, cego e moribundo, Isaac reservava sua bênção a Esaú, não só por ter nascido primeiro como também por ser caçador.  Rebeca, a mãe dos gêmeos, preferia Jacó. Preparou um guisado, disfarçou o filho com pele de cabrito para parecer peludo como o irmão e mandou Jacó à presença do pai com a oferta como se fora Esaú. Sem perceber o embuste, Isaac deu a sua bênção a Jacó pensando que a dava a Esaú. Esse embusteiro de nome Jacó, suposto neto de Abrão, obedece à ordem que diz ter recebido da divindade e assume o cabalístico nome de Israel (Is = Isis = princípio feminino + Ra = Amon-Re = princípio masculino + El = laço sagrado = renovo). Israel teve 12 filhos. As 12 tribos que se formaram correspondem a esses filhos. Em conjunto, essas tribos constituíam uma nação ramificada do povo hebreu. Pressionados pela fome, Israel e seus filhos mudam-se para o Egito. Os descendentes de Israel lá permaneceram por 430 anos; eram egípcios jus soli e hebreus jus sanguinis (tal como na atualidade há judeus brasileiros, judeus ingleses, judeus estadunidenses, na antiguidade havia hebreus egípcios, hebreus babilônios, hebreus persas).
Na época em que esse grupo chefiado por Israel (Jacó) chegou ao Egito, os hicsos governavam. Depois de dois séculos de domínio, este povo foi expulso do Egito por Amósis (1580 a.C.). A partir daí, mudou a sorte dos hebreus. O faraó vitorioso e os seus sucessores olhavam com desconfiança os egípcios descendentes de Israel. Sob o governo dos hicsos, Israel obtivera privilégios graças ao seu filho José que era ministro do rei. Os israelitas eram considerados amigos dos hicsos. Incidiu a máxima “amigo do meu inimigo, meu inimigo é”. Embora nascidos no Egito, os descendentes de Israel perderam os privilégios e passaram a trabalhar na construção civil. Sob Ramsés II (1304 a 1237 a.C.), quando eles prestavam serviço na reconstrução de Tanis (Casa de Ramsés) e em outras edificações, um sacerdote e príncipe egípcio de nome Moisés propõe a saída deles do Egito. Considerando que Israel chegou ao Egito com 70 pessoas, aproximadamente; se a taxa de crescimento desse grupo for estimada em 25 vezes a cada 100 anos (excluída a taxa de mortalidade e de emigração), chega-se a um total aproximado de 27 milhões e 300 mil pessoas em 400 anos. {A taxa estimada em 25 teve como referência a taxa de 25 extraída da densidade demográfica da cidade de Curitiba, capital do Estado do Paraná, nos últimos 100 anos (em 1913 = 67.175 habitantes; em 2013 = 1.848.943 habitantes; crescimento = 25 vezes em 100 anos). O arquiteto curitibano Jorge Manoel Nauffal, meu estimado e preclaro amigo, passou-me os dados estatísticos. Quanto ao cálculo, sujeito às chuvas e trovoadas, é da minha inteira e exclusiva responsabilidade}. Guiada por Moisés e com o consentimento do faraó, parte dessa população sai do Egito (não se sabe o número certo). A emigração ficou conhecida como Êxodo (Bíblia, AT).
Daqueles que saíram com Moisés, alguns quiseram retornar ao Egito, sua terra natal. Houve rebelião e morticínio. Os rebeldes preferiam a “escravidão” junto ao seu rei (faraó) do que a “liberdade” junto a Moisés; criticavam a situação no deserto e qualificavam Moisés de tirano; não acreditavam na origem divina das leis postas por Moisés; lutaram pelo regresso ao Egito e milhares perderam a vida. Repleta de falsidades, fantasias, anacronismos, parábolas, fábulas e símbolos, a história do povo hebreu vem contada nos livros do Antigo Testamento (Bíblia). O conteúdo é variado. Há preces, oráculos, sermões, poemas, epopéias, contos, leis, textos filosóficos e listas genealógicas. As listas que começam em Adão e Eva são falsas, pois este casal nunca existiu. Além disto, segundo essas genealogias, o surgimento do homem no planeta teria ocorrido por volta do ano 4000 a.C., quando na verdade isto ocorreu há mais de um milhão de anos após longo processo biológico evolutivo. 
Hebreus, cananeus e filisteus na Palestina alternavam guerra e paz. Procedentes da Ásia Menor e das ilhas do Mar Egeu, os filisteus invadiram Canaã e forçaram os hebreus a lhes entregar parte do território. O nome Palestina deriva de filisteu (terra filistina). A região ficou mais conhecida como Palestina do que pelo nome primitivo (Canaã). A coexistência pacífica incluía casamento entre eles (serve de exemplo o casamento de Sansão, nazareno e juiz hebreu, com mulher filistina).
O contato dos hebreus com os egípcios, com os babilônios e com os hititas proporcionou-lhes rápido avanço cultural. Eles se beneficiaram também da cultura grega e romana. Na fase sedentária da sua história, os hebreus praticavam o comércio e a agricultura, utilizavam o ferro e a escrita e se orientavam por leis inspiradas no código de Hamurabi. A religião era politeísta, sensual e incluía sacrifício humano. O monoteísmo (monolatria, na realidade) veio bem mais tarde, imposto por Moisés no lendário êxodo. As tribos eram desunidas, ciosas de sua independência e lutavam entre si, o que dificultou a conquista da terra. O inimigo comum (filisteus) forçou união duradoura entre elas sob um único chefe. Por sua juventude, força e beleza, Saul, da tribo de Benjamim, foi sagrado rei pelo juiz Samuel (1025 a.C.). Saul não conseguiu expulsar os filisteus. Em campanha pessoal, um hebreu chamado Davi, da tribo de Judá, encorajado por Samuel, derrotou os filisteus (segundo a lenda, a sorte da batalha foi decidida em duelo entre Davi e Golias, um gigante filisteu). Saul suicidou-se com a própria espada depois de ser gravemente ferido em batalha. Davi é sagrado rei, uniu as tribos, criou um estado absolutista e governou por 40 anos.
A glória militar e o esplendor material exigiam tributação elevada e recrutamento de homens, o que desagradou o povo. Davi sufocou rebelião chefiada por seu filho Adonias (havido de Hagit, sua esposa). Nomeou sucessor Salomão, filho havido de Betsabé, cujo marido Davi mandou matar para encobrir o adultério. Na verve apologética que lhes é característica, os escritores hebreus consideram Salomão o rei mais sábio e justo da história. Todavia, falta lastro a esse crédito, posto que estadistas egípcios, babilônios, persas, gregos e romanos, deixam Salomão na rabeira. Ele foi hábil na diplomacia casamenteira e conseguiu manter a integridade do seu acanhado reino diante das potências da época (Egito, Assíria, Babilônia). Salomão oprimiu o povo a fim de calar os descontentes; imitou o luxo e a magnificência dos déspotas orientais; formou harém de esposas e concubinas; construiu palácios e um templo suntuoso em Jerusalém; contratou técnicos estrangeiros e importou material para a construção, porque a Palestina era pobre em pessoal técnico e em recursos naturais; comprou ouro, prata, bronze e cedro em quantidade excessiva e gerou déficit na economia. Para cobrir o rombo nas finanças entregou algumas cidades aos credores, aumentou a carga tributária onerando o povo e estabeleceu o serviço obrigatório: hebreus foram enviados às dezenas de milhares para a Fenícia a fim de trabalhar nas minas e na extração de madeira.

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