sábado, 9 de novembro de 2013

FILOSOFIA IV



Egeu (3000 a 1000 a.C.).

A civilização egéia só foi descoberta no século XIX da era cristã (1801 a 1900). Esta civilização floresceu nas ilhas do Mar Egeu (Chipre, Cíclades e Creta) e na parte continental da Grécia (Hélade) onde os arqueólogos descobriram as cidades de Tróia, Micenas e Tírinto. Constatou-se a existência histórica do povo e da cidade de Tróia na costa jônica da Anatólia (hoje, Turquia). A opinião vigente e aceita de que se tratava de ficção literária de Homero caiu por terra. Na verdade, Homero foi transmissor da herança cultural daquele período. Estes centros da chamada Civilização do Egeu compõem um mosaico de culturas. O governante de Creta usava o título de Minos, enquanto o de Micenas usava o de rei. A religião de Creta centrava-se na deusa-mãe, enquanto a religião em Micenas era organizada (santuários, cultos e sacerdotes) e seus deuses entraram no panteão grego: Ártemis, Atena, Hera, Hermes, Poseidon e Zeus. Os cretenses não se confundiam com a etnia grega; pertenciam à raça mediterrânea assemelhada aos egípcios (cabeças longas, corpos delgados, cabelos pretos). Na Hélade notavam-se etnias alpina, danubiana e armênia e várias línguas, o que não se notava em Creta. Apesar destas diferenças, os historiadores vislumbraram uma civilização típica que seguiu as linhas insulares (cipriota, cicládica, minoana) e a continental (heládica). A cultura da cidade de Cnossos predominou na ilha de Creta e influiu na cultura de Chipre, das Cíclades e da Hélade (1700 a.C.). A situação reverteu-se quando a linha heládica, com destaque para Micenas, desenvolveu-se de modo independente e se fortaleceu a ponto de dominar os demais centros de cultura do Mar Egeu (1450 a.C.).
Na ilha de Creta os arqueólogos descobriram a cidade de Cnossos, capital do reino que deu origem à civilização egéia. Essa ilha foi o vórtice difusor da cultura para as ilhas do Egeu, para a Hélade e para a Ásia Menor. Os filisteus, oriundos do universo egeu, introduziram essa cultura na Síria e na Palestina. Aspectos da arte fenícia e a lenda de Sansão (o musculoso juiz e herói hebreu) provieram dos filisteus. A parte fértil do solo propiciou a agricultura para consumo interno e externo (trigo, cevada, lentilha, azeitona, figo, uva). Os cretenses também criavam porcos e se dedicavam ao comércio e à indústria. Negociavam com as ilhas Chipre, Ciclades, Rhodes e com os povos do Oriente Próximo. Trabalharam com o cobre, ouro, prata e chumbo. Eles conheciam a técnica de fundição dos metais e dispunham de materiais de construção. As belezas naturais funcionavam como agente estimulante da produção artística. Cnossos e outras cidades destruídas por terremoto foram reconstruídas (1700 a.C.). A ilha Tera cobriu-se de cinzas e lava em conseqüência de erupção vulcânica (1600 a.C.). Os habitantes das Cíclades não tinham sistema político, eram marinheiros, comerciantes e piratas.  
Liberdade, igualdade, progresso material e intelectual, eram ingredientes da cultura cretense que influíram na cultura grega. O governante tinha o título de Minos (como o governante do Egito o tinha de Faraó). O exército destinava-se à defesa externa; não havia lei de conscrição. O nível de consenso dispensava coerção para manter a ordem interna. Não havia fortificações em torno dos palácios (Cnossos, Malia, Faístos), sinal de convivência pacífica. O isolamento insular propiciava o pacifismo de Creta. A invasão estrangeira por terra era impossível e por mar era difícil, mormente aos povos das regiões centrais do continente.
Basicamente, a sociedade cretense comportava duas classes: (1) nobreza (família real, sacerdotes e proprietários); (2) povo (camponeses, artesãos, remadores e soldados). O rei era o principal capitalista e executivo empresarial. As suas fábricas produziam cerâmica, tecidos e artigos de metal. Os produtos destinavam-se tanto ao consumo palaciano como ao comércio interno e externo. Os produtores particulares sofriam essa concorrência desigual; eles tinham maior lucro com fábricas no interior do país, inclusive fundições de metais, refinarias de óleo de azeitona e olarias. Comércio e agricultura estavam nas mãos dos particulares. Centros comerciais foram estabelecidos nas cidades continentais de Micenas e Tírinto. Embora sem maquinaria e equipamentos típicos da indústria moderna, havia divisão do trabalho, produção em larga escala, controle centralizado e supervisão dos trabalhadores, sendo a lã um dos principais produtos. Na ilha de Creta as casas dos trabalhadores eram confortáveis e tinham até oito peças (fica a dúvida se habitadas ou não por família nuclear). Havia um bom padrão de vida. Os camponeses fabricavam as suas roupas e ferramentas. O cereal mais importante era o trigo. Parte do gado pertencia ao palácio e outra à comunidade. Os artesãos trabalhavam tanto no palácio como nas aldeias. A sociedade cretense apresentava alguns aspectos igualitários: duvidosa existência de escravatura; presume-se que existiu tendo em vista ser a escravatura uma instituição comum na antiguidade, porém a sociedade cretense parece ter sido exceção à regra; havia geral alfabetização (educação no lar); homens e mulheres tinham tratamento isonômico. Há indícios de que a linha de descendência era matriarcal. A mulher podia participar de qualquer atividade pública ou privada; tanto havia mulheres lutadoras e toureiras, como mulheres dedicadas à moda e à arte. Xadrez, corrida, boxe, dança, cavalgar touros, incluíam-se nas atividades de homens e mulheres. Os cretenses apreciavam competições. Eles foram pioneiros na construção de teatros de pedra para diversão do público, inclusive com música e desfiles. 
A divindade principal dos minoanos (povos governados por Minos) era uma deusa que dominava o mar, o céu e a terra. Todas as coisas existentes emanavam dela, deusa da fertilidade, fonte da vida, representada por uma mulher com os seios à mostra e um filho no colo. A deusa era acompanhada da serpente, que simbolizava a sagacidade, e da pomba, que simbolizava a espiritualidade. A deusa era capaz do bem e do mal (ausente o sentido terrífico). Tempestade e destruição melhoravam a natureza. Não há vida sem morte, nem punição no além. A oferta de animais, frutas e cereais à deusa não significava expiação de pecado. Os mortos eram enterrados com todas as coisas necessárias ao seu conforto e prazer (alimentos, bebidas, navalhas, espelhos); a lança acompanhava o caçador; a miniatura do barco, o marinheiro; os brinquedos, a criança. Os túmulos eram coletivos e abrigavam os membros da mesma família. Consideravam-se coisas sagradas: touro, minotauro, árvores, machado de dois gumes e cruz. Sacerdotisas participavam dos rituais. Os egeus não se utilizavam do bode expiatório ou do derramamento de sangue para remir pecados.

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