quarta-feira, 13 de novembro de 2013

FILOSOFIA IV-A



Egeu (final)

O conhecimento da produção intelectual egéia foi dificultado por falta de ampla decifração da sua escrita hieroglífica e linear. Foi possível decifrar apenas números e palavras semelhantes ao grego e ao egípcio. Essa produção era exposta oralmente. Reservava-se a escrita para assentamentos contábeis e administrativos. Homero foi um poeta grego do século VIII (800 a 701 a.C.). Os seus poemas Ilíada e Odisséia, que servem de base aos estudos históricos, têm como realidade social e política a Micenas do século XVIII a.C. (1800 a 1701). Isto indica que o seu conhecimento da história daquele período adveio da tradição oral. As descobertas arqueológicas na ilha de Creta revelam que havia engenheiros e inventores entre os seus habitantes. Foram encontradas fechaduras e chaves para portas; estradas de concreto de 3 metros de largura; confortáveis instalações nos palácios, inclusive sanitárias, superiores ao que desfrutava a realeza de países ocidentais do século XVII da era cristã (1601 a 1700).
A arte refletia bem a vitalidade e a independência dos cretenses. A produção artística (pintura, escultura, arquitetura, lapidação de pedras preciosas, gravação de selos) era delicada, espontânea e naturalista. A arte em geral expressava o prazer da pessoa de se ver rodeada pela beleza do ambiente; representava paisagens floridas, festas, proezas atléticas e esportivas, cujas obras denotavam liberdade, paz e alegria. Os palácios não primavam pela beleza e sim pelo conforto e amplitude. A beleza estava no interior decorado com pinturas e móveis. A pintura consistia em murais e relevos. Diferente dos colossos egípcios e dos relevos babilônicos, os cretenses preferiam obras menores, sem a intenção de fazer propaganda do seu poder e fausto: cerâmica delgada como casca de ovo, adagas e facas entalhadas e embutidas, pedras preciosas de variados desenhos e tamanhos.
Havia semelhança entre a cultura egípcia e a cretense: ambos os povos eram aparentados; seus governos eram teocráticos; a pintura tinha o mesmo refinamento; havia aspectos matriarcais e coletivistas nas duas sociedades. Entretanto, havia diferenças substanciais: os cretenses não construíram obras faraônicas; desfrutavam de liberdade desde as camadas humildes sem o abismo entre pobres e ricos; o governo não era despótico; o clero não era insidioso, astuto e versado em rapinagem; as punições não eram cruéis; não havia trabalho forçado, nem conscrição. A deidade principal do Egito era masculina, enquanto a dos cretenses era feminina. A ética dos egípcios derivava da religião, enquanto a ética cretense era convencional. A escrita cretense era peculiar e não podia ser decifrada com base na egípcia, salvo alguns vocábulos e números. Os cretenses eram individualistas e hedonistas no sentido de viver de modo satisfatório e agradável. A vida aprazível podia se estender para depois da morte. Os egípcios aceitavam o sacrifício pessoal em favor dos interesses do estado e acreditavam que as boas ações seriam recompensadas no mundo espiritual depois da morte. O gosto dos cretenses por conforto, diversão e esportes e a sua ousadia nas invenções e atitudes sociais, aproximam-nos do espírito dos povos ocidentais da Renascença e da Idade Moderna.
Gregos bárbaros, guerreiros e criadores de cavalos, conhecidos como aqueus, oriundos do Cáucaso, sudoeste da Rússia, invadiram Micenas e terminaram com a hegemonia cretense no continente (1600 a 1501 a.C.). A seguir, eles conquistaram sucessivamente a cidade de Cnossos, as demais cidades da ilha de Creta e a cidade de Tróia (1400 a 1200 a.C.). Micenas criou marinha mercante que transitava pelas ilhas do Egeu, pelo sul da Itália e pela Ásia Menor. O seu governo explorava a população nativa e tinha direito de vida e morte sobre os vencidos. Os vencedores (aqueus) pretendiam o registro histórico do seu heroísmo (real ou fictício) para que ficasse conhecido das gerações futuras. A narração épica desse heroísmo foi objeto de transmissão oral até chegar a Homero, quando então passou para a forma escrita e ganhou a imortalidade almejada. Após destruir os palácios cretenses, os micenianos instituíram uma aristocracia, expandiram o seu poder naval e retiraram dos cretenses e dos cicladianos o controle das rotas comerciais no Egeu. Apesar da vitória, os micenianos se curvaram à cultura superior dos cretenses (fato semelhante ocorreria séculos depois quando os romanos, apesar de vencedores, se curvaram à cultura grega). Sob comando de Agamenon, Micenas venceu Tróia. Decorridos dois séculos, invadido pelos povos do mar e posteriormente pelos dórios (outro grupo de gregos bárbaros), o império de Micenas entra em colapso. A Civilização do Egeu chega ao fim (1000 a.C.).     

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