Egeu (final)
O conhecimento da produção
intelectual egéia foi dificultado por falta de ampla decifração da sua escrita
hieroglífica e linear. Foi possível decifrar apenas números e palavras
semelhantes ao grego e ao egípcio. Essa produção era exposta oralmente. Reservava-se
a escrita para assentamentos contábeis e administrativos. Homero foi um poeta
grego do século VIII (800 a
701 a.C.).
Os seus poemas Ilíada e Odisséia, que servem de base aos estudos
históricos, têm como realidade social e política a Micenas do século XVIII a.C.
(1800 a
1701). Isto indica que o seu conhecimento da história daquele período adveio da
tradição oral. As descobertas arqueológicas na ilha de Creta revelam que havia
engenheiros e inventores entre os seus habitantes. Foram encontradas fechaduras
e chaves para portas; estradas de concreto de 3 metros de largura;
confortáveis instalações nos palácios, inclusive sanitárias, superiores ao que
desfrutava a realeza de países ocidentais do século XVII da era cristã (1601 a 1700).
A arte refletia bem a vitalidade
e a independência dos cretenses. A produção artística (pintura, escultura,
arquitetura, lapidação de pedras preciosas, gravação de selos) era delicada,
espontânea e naturalista. A arte em geral expressava o prazer da pessoa de se ver
rodeada pela beleza do ambiente; representava paisagens floridas, festas,
proezas atléticas e esportivas, cujas obras denotavam liberdade, paz e alegria.
Os palácios não primavam pela beleza e sim pelo conforto e amplitude. A beleza
estava no interior decorado com pinturas e móveis. A pintura consistia em
murais e relevos. Diferente dos colossos egípcios e dos relevos babilônicos, os
cretenses preferiam obras menores, sem a intenção de fazer propaganda do seu
poder e fausto: cerâmica delgada como casca de ovo, adagas e facas entalhadas e
embutidas, pedras preciosas de variados desenhos e tamanhos.
Havia semelhança entre a cultura
egípcia e a cretense: ambos os povos eram aparentados; seus governos eram
teocráticos; a pintura tinha o mesmo refinamento; havia aspectos matriarcais e
coletivistas nas duas sociedades. Entretanto, havia diferenças substanciais: os
cretenses não construíram obras faraônicas; desfrutavam de liberdade desde as
camadas humildes sem o abismo entre pobres e ricos; o governo não era despótico;
o clero não era insidioso, astuto e versado em rapinagem; as punições não eram
cruéis; não havia trabalho forçado, nem conscrição. A deidade principal do
Egito era masculina, enquanto a dos cretenses era feminina. A ética dos
egípcios derivava da religião, enquanto a ética cretense era convencional. A
escrita cretense era peculiar e não podia ser decifrada com base na egípcia,
salvo alguns vocábulos e números. Os cretenses eram individualistas e
hedonistas no sentido de viver de modo satisfatório e agradável. A vida
aprazível podia se estender para depois da morte. Os egípcios aceitavam o
sacrifício pessoal em favor dos interesses do estado e acreditavam que as boas
ações seriam recompensadas no mundo espiritual depois da morte. O gosto dos
cretenses por conforto, diversão e esportes e a sua ousadia nas invenções e
atitudes sociais, aproximam-nos do espírito dos povos ocidentais da Renascença
e da Idade Moderna.
Gregos bárbaros, guerreiros e
criadores de cavalos, conhecidos como aqueus,
oriundos do Cáucaso, sudoeste da Rússia, invadiram Micenas e terminaram com a
hegemonia cretense no continente (1600 a 1501 a.C.). A seguir, eles conquistaram
sucessivamente a cidade de Cnossos, as demais cidades da ilha de Creta e a
cidade de Tróia (1400 a
1200 a.C.).
Micenas criou marinha mercante que transitava pelas ilhas do Egeu, pelo sul da
Itália e pela Ásia Menor. O seu governo explorava a população nativa e tinha
direito de vida e morte sobre os vencidos. Os vencedores (aqueus) pretendiam o
registro histórico do seu heroísmo (real ou fictício) para que ficasse
conhecido das gerações futuras. A narração épica desse heroísmo foi objeto de
transmissão oral até chegar a Homero, quando então passou para a forma escrita
e ganhou a imortalidade almejada. Após destruir os palácios cretenses, os
micenianos instituíram uma aristocracia, expandiram o seu poder naval e
retiraram dos cretenses e dos cicladianos o controle das rotas comerciais no
Egeu. Apesar da vitória, os micenianos se curvaram à cultura superior dos cretenses
(fato semelhante ocorreria séculos depois quando os romanos, apesar de
vencedores, se curvaram à cultura grega). Sob comando de Agamenon, Micenas
venceu Tróia. Decorridos dois séculos, invadido pelos povos do mar e posteriormente pelos dórios (outro grupo de gregos bárbaros), o império de Micenas entra
em colapso. A Civilização do Egeu chega ao fim (1000 a.C.).
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