Mesopotâmia (final).
Por volta de 2000 a.C. o reino sumério,
cuja capital era então a cidade de Ur, fora invadido pelos elamitas, mas acaba
sob o domínio dos amoritas, povo semita oriundo da Arábia. Esses conquistadores
fizeram da Babilônia a capital do novo reino, restauraram a cultura sumeriana,
estabeleceram um regime político autocrático e conquistaram as nações vizinhas,
inclusive a Assíria. Eles são tratados como antigos
babilônios para se distinguirem dos novos
babilônios (caldeus) que ocuparam aquela região mil anos depois. O seu mais
notável rei foi Hamurabi, que adotou o sistema de leis dos sumérios, aumentou a
lista dos crimes contra o estado, agravou as penas por sedição e traição,
cominou pena de morte aos delitos de vadiagem, de desordem em taberna e de
acoitamento de escravos fugitivos. Feitiçaria e negociar sem contrato escrito
ou sem testemunha também eram crimes. O escravo teria a orelha cortada se
questionasse o direito do senhor. Ficava sujeito a punição quem deixasse de
cultivar o campo ou negligenciasse diques e canais. Nenhum infrator da lei
podia ser perdoado sem o consentimento da vítima ou da respectiva família. O
adultério justificava o divórcio. Mulheres e crianças objeto de venda ficavam
submetidas à escravatura no máximo por quatro anos, proibida a venda da mulher
escrava que gerasse filho do seu senhor. A economia era regulamentada pelo
estado (agricultura, comércio, indústria, pesos e medidas, empréstimo de
dinheiro a juros, câmbio, escrituras, contratos). A propriedade privada da
terra era permitida, cabendo ao proprietário 2/3 da produção do rendeiro.
Marduk (deus principal), Ishtar
(deusa principal) e Tammuz (irmão e amante da deusa) eram as divindades maiores
dos babilônios nessa época. A morte do deus no outono e a sua ressurreição na
primavera eram vistas como a causa de igual movimento no reino vegetal.
Astrologia, adivinhação, magia, feitiçaria, demonologia, pecado, integravam a
mentalidade e condicionavam a conduta dos babilônios. Desse período é um texto
que conta a história de um indivíduo que muito padeceu na vida sem saber o
motivo e que faz reflexões profundas sobre o desamparo do homem e os mistérios
do universo. Cuida-se de história e de pensamento filosófico lançados
posteriormente no Livro de Jó (Bíblia, AT).
O reino babilônio foi invadido
por um povo bárbaro conhecido como cassita,
cuja maior proeza foi introduzir o cavalo na Mesopotâmia, onde permaneceu por
600 anos (1750 a.C.).
No final desse período o território foi conquistado pelos assírios, povo semita
de vocação guerreira que habitava o planalto de Assur, ao norte do Rio Tigre.
Além da Babilônia, os assírios conquistaram o Egito, a Fenícia, a Síria, o
Reino de Israel e só não conquistaram o pequenino Reino de Judá devido à peste
que assolou o exército na ocasião (o escritor bíblico atribuiu esse fato à
intervenção direta do deus Javé). O regime político era autocrático, mas a
administração era descentralizada tendo em vista a extensão do império. O
poderio militar era imenso e sem paralelo na época; o exército era permanente;
os comandantes participavam das pilhagens, obtinham grandes propriedades em
razão das vitórias e integravam a classe rica. Os assírios serviam-se do terror
para manter o domínio sobre os povos conquistados: mutilavam os inimigos
vencidos, esfolavam-nos vivos, empalavam-nos, amputavam-lhes as orelhas,
narizes e órgãos sexuais; exibiam-nos em gaiolas pelas cidades; registravam
essas atrocidades por escrito e as publicavam para conhecimento geral.
A paixão pela guerra não deixou
lugar para atividades comerciais e industriais. Por força de lei, essas
atividades ficaram a cargo dos estrangeiros, principalmente, arameus, povo
semita aparentado com os fenícios e hebreus. Os servos, camada pobre da
sociedade assíria, cuidavam da agricultura e também eram obrigados ao serviço
militar e a trabalhar nas obras públicas. Os escravos gozavam de alguns
direitos; a eles cabia o trabalho doméstico. A construção de palácios, templos,
estradas, canais, cabia aos prisioneiros de guerra escravizados; eles trabalhavam
agrilhoados. Drásticas eram as penas cominadas à perversão e ao aborto. O
marido era dono da esposa e a ele cabia exclusivamente a iniciativa do
divórcio. A mulher casada estava proibida de aparecer em público sem um véu a
lhe cobrir o rosto. A poligamia era permitida. A atividade intelectual
consistia em narrativa das campanhas militares, cartas de teor comercial,
fórmulas mágicas, além da compilação de textos dos babilônios. A dedicação ao
conhecimento científico tinha fins práticos, principalmente de caráter militar.
Os assírios dividiram o círculo em 360 graus, descobriram cinco planetas aos
quais deram nome e previam os eclipses com sucesso. Utilizavam mais de 500
drogas de consistência vegetal e mineral, identificaram sintomas de algumas
doenças, atribuíam causas naturais às moléstias sem excluir dos métodos
terapêuticos os encantamentos e as beberagens para expulsar demônios. O império
assírio durou 700 anos (1300
a 600 a.C.).
Os caldeus, povo semita,
conquistaram a Assíria. O governador provincial de nome Nabopolassar, rebelou-se e capturou Nínive, a capital do império
assírio (612 a.C.).
O filho desse governante expandiu os seus domínios no Oriente Próximo. Esse
conquistador chamava-se Nabucodonosor.
Ele e os seus sucessores prestigiaram a cultura da época de Hamurabi,
restabeleceram a forma de governo, as leis e o sistema econômico. A capital do
império voltou a ser a Babilônia. O pequenino Reino de Judá que escapara dos
assírios não escapou dos caldeus; foi dominado tal como outras nações daquela área.
Os judeus descabelaram-se, jogaram cinzas sobre a cabeça, rasgaram as roupas,
mas nem assim o deus Javé os socorreu. O templo de Jerusalém foi saqueado e
queimado. O rei de Judá foi cegado e deportado para a Babilônia com milhares de
súditos.
Os caldeus fundaram uma religião
astral. Os deuses foram despidos das suas limitações humanas e cultuados como
seres poderosos e superiores, identificados com os planetas (Marduk é Júpiter;
Ishtar é Vênus). Os propósitos divinos eram inescrutáveis. As crenças
implicavam: (1) fatalismo: cada
indivíduo devia se resignar com a sorte que lhe coube neste mundo; (2) submissão incondicional à divindade na
certeza de que o resultado final seria bom; (3) humildade ante os mistérios da vida e o poder divino, daí derivando
piedade, conceito que será adotado
por outras religiões como a hebraica, a cristã e a muçulmana; (4) consciência espiritual manifestada
através de hinos de penitência; (5) orações
aos deuses para concederem ao suplicante vida longa, descendência numerosa
e o desfrute de prazeres; (6) rebaixamento
do homem, considerado criatura má, rasteira, iníqua, covarde e pecadora.
Os caldeus apreciavam virtudes
como justiça, retidão, benevolência, reverência, pureza de coração. Eles censuravam
a calúnia, a opressão e o ódio, sem perder o interesse pelos bens materiais e
pela sensualidade. Esse povo aprofundou os estudos de astronomia; inventou a
semana de sete dias, a divisão do dia em 12 horas duplas de 120 minutos cada
uma (como se vê no mostrador dos relógios ainda hoje, apesar da era digital);
calculou a duração correta do ano; descobriu a variação anual da inclinação do
eixo da Terra. Os mapas celestes e os dados astronômicos além de orientar os
navegantes e nutrir a mitologia, destinavam-se a prever o futuro que os deuses
reservavam à humanidade. O movimento dos astros indicava esse futuro porque os
deuses estavam corporificados nos planetas. Os caldeus também copiaram e
divulgaram textos dos antigos babilônios. Os imperadores caldeus se depararam
com problema idêntico ao dos assírios: extensão territorial e densidade
demográfica excessivas, o que dificultava a administração e a manutenção da
ordem. Os medos, povo tributário situado a leste do Rio Tigre e nordeste da
Pérsia (hoje, Irã), provocaram distúrbios seguidos. Os sacerdotes, os
comerciantes e os judeus passaram a conspirar para a derrubada do rei (Nabônidus). Os conspiradores civis, eclesiásticos e
militares facilitaram a invasão de Ciro, rei dos persas, recebido como
libertador. O comandante do exército caldeu, general Gobrias, abriu as portas da cidade ao soberano persa (539 a.C.). Por essas portas
abertas entrava também o crepúsculo da civilização mesopotâmica.
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